– Os meus navios – a voz de Joffrey falhou ao gritar do adarve, onde se amontoava com os guardas atrás das ameias. O anel dourado da condição régia adornava seu elmo de batalha. – Meu
Tyrion sabia que o navio estava condenado. Não havia outra maneira.
– Não se podia evitar – ele disse ao sobrinho. – Nossa frota estava condenada de qualquer modo.
Mesmo de cima do merlão, era pequeno demais para ver por sobre as ameias, então tinha mandado que o levantassem, chamas, fumaça e caos da batalha tornavam-lhe impossível ver o que se passava a jusante, à sombra do castelo, mas vira-o mil vezes com o olho da mente. Bronn teria posto os bois em movimento no instante em que o navio almirante de Stannis passasse sob a Fortaleza Vermelha; a corrente era pesada ao extremo, e só se conseguia movimentar os grandes guinchos lentamente, rangendo e ribombando. Quando a primeira cintilação do metal fosse vista debaixo da água, toda a frota do usurpador já teria passado. Os elos emergiriam pingando, alguns brilhando de lama, elo atrás de elo atrás de elo, até que toda a grande corrente se retesasse. Rei Stannis teria então levado sua frota para a Água Negra, mas dela não sairia.
Mesmo assim, alguns dos navios estavam escapando. A correnteza de um rio era uma coisa intricada, e o fogovivo não estava se espalhando de forma tão uniforme como Tyrion esperara. O canal principal encontrava-se todo em chamas, mas muitos dos homens de Myr tinham se dirigido para a margem sul, e parecia que escapariam incólumes, e pelo menos oito navios haviam atracado sob as muralhas da cidade.
Isso podia levar algum tempo; até os mais bravos ficariam com receio depois de verem o fogovivo consumir cerca de mil de seus companheiros. Hallyne dizia que às vezes a substância ardia tão quente que a carne derretia como sebo. Mas, mesmo assim…
Tyrion não tinha ilusões quanto aos seus homens.
Via formas escuras em movimento através das ruínas carbonizadas dos cais na zona ribeirinha.
Desceu do merlão.
– Diga a Lorde Jacelyn que temos inimigos na zona ribeirinha – Tyrion disse a um dos mensageiros que lhe fora atribuído por Bywater, e a outro: – Leve meus cumprimentos a Sor Arneld e peça-lhe para virar as Rameiras trinta graus para oeste – o ângulo permitiria que disparassem para mais adiante, mesmo que não chegassem tão longe na água.
– Minha mãe prometeu que eu podia ficar com as Rameiras – Joffrey protestou. Tyrion sentiu-se incomodado ao ver que o rei voltara a levantar o visor do elmo. Com certeza o rapaz estava assando dentro de todo aquele aço pesado… mas a última coisa de que precisava era que uma flecha perdida espetasse um dos olhos do sobrinho.