Ninguém ouviu. Ninguém veio. Sozinho no escuro, caiu num sono com cheiro de urina. Sonhou que a irmã estava em pé junto à cama, com o senhor seu pai ao lado, de sobrancelhas franzidas. Tinha de ser um sonho, pois Lorde Tywin estava a mil léguas de distância, lutando com Robb Stark no ocidente. Outros também iam e vinham. Varys olhou-o e suspirou, mas Mindinho proferiu uma frase de efeito.
Queria perguntar se tinham ganhado a batalha.
Da vez seguinte que acordou, as cortinas tinham sido puxadas e Podrick Payne estava junto a ele com uma vela. Quando viu Tyrion abrir os olhos, foi embora correndo.
Pouco depois, Pod reapareceu. Dessa vez trazia um estranho consigo, um meistre de corrente e toga.
– Senhor, deve ficar imóvel – murmurou o homem. – Está gravemente ferido. Fará grande mal a si mesmo caso se mova. Tem sede?
Conseguiu fazer um aceno desajeitado com a cabeça. O meistre inseriu um funil curvo de cobre no buraco de alimentação por cima de sua boca e despejou-lhe um fiozinho lento de líquido garganta abaixo. Tyrion engoliu, quase sem saborear. Tarde demais, compreendeu que o líquido era leite da papoula. Quando o meistre tirou o funil de sua boca, já percorria a espiral de volta ao sono.
Daquela vez sonhou que estava num banquete, um banquete de vitória num grande salão qualquer. Tinha um lugar elevado no estrado, e os homens levantavam as taças e saudavam-no como herói. Marillion estava lá, o cantor que tinha atravessado com ele as Montanhas da Lua. Tocava a harpa e cantava sobre os ousados feitos do Duende. Até o pai sorria com aprovação. Quando a canção terminou, Jaime levantou-se da cadeira, ordenou que Tyrion se ajoelhasse, e tocou-lhe, primeiro num ombro e depois no outro, com a sua espada dourada, e voltou a ficar de pé como cavaleiro. Shae estava à espera para abraçá-lo. Pegou-o pela mão, rindo e brincando, chamando-o de seu gigante de Lannister.
Acordou na escuridão de um quarto frio e vazio. As cortinas tinham sido de novo cerradas. Sentia que algo estava errado, revirado, embora não soubesse dizer o quê. Estava de novo só. Afastando as mantas, tentou se sentar, mas a dor era excessiva e rapidamente cedeu, com a respiração irregular. O rosto era o de menos. Seu lado direito era uma única dor enorme, e uma punhalada de dor trespassava seu peito sempre que erguia o braço.
A memória o assustou, mas Tyrion obrigou-se a suportá-la, a revirá-la na cabeça, a olhar bem para ela.