Jon compreendeu então que desejava aquilo. Desejava-o tanto como jamais tinha desejado alguma coisa.
Passou-se um longo momento até compreender o que estava acontecendo. Quando isso aconteceu, pôs-se em pé de um salto.
–
Então obteve a sua resposta.
Sob a Muralha, os homens da rainha estavam acendendo a sua fogueira noturna. Viu Melisandre emergir do túnel com o rei a seu lado, para liderar as preces que acreditava que manteriam a escuridão afastada.
– Vem, Fantasma – disse Jon ao lobo. – Comigo. Você tem fome, eu sei. Consegui sentir. – Correram juntos para o portão, dando uma volta larga em torno da fogueira noturna, na qual altas chamas enfiavam as garras na barriga negra da noite.
Os homens do rei encontravam-se em grande evidência nos pátios de Castelo Negro. Paravam quando Jon passava por eles, e ficavam olhando de boca aberta. Compreendeu que nenhum deles jamais tinha visto um lobo gigante, e Fantasma era duas vezes maior do que os lobos comuns que patrulhavam as suas florestas do sul. Enquanto se dirigia ao arsenal, Jon olhou casualmente para cima e viu Val em pé, na sua janela de torre.
No pátio de treinos deparou com uma dúzia de homens do rei com archotes e longas lanças nas mãos. O sargento olhou para Fantasma e franziu a testa, e dois dos seus homens baixaram as lanças até que o cavaleiro que os liderava disse:
– Afastem-se e deixem-nos passar. – E, dirigindo-se a Jon, disse: – Está atrasado para o jantar.
– Então saia do meu caminho, sor – respondeu Jon, e foi o que o outro fez.
Ouviu o ruído antes mesmo de chegar ao pé das escadas; vozes alteradas, xingamentos, alguém esmurrando uma mesa. Jon entrou na adega praticamente sem ser notado. Os irmãos enchiam os bancos e as mesas, mas os que estavam em pé e aos gritos eram mais numerosos do que aqueles que se encontravam sentados, e ninguém comia. Não havia comida.
Pyp foi o primeiro a notar a presença de Jon. Sorriu ao ver Fantasma, levou dois dedos à boca e assobiou como só um filho de saltimbanco sabia assobiar. O som estridente cortou o clamor como uma espada. Enquanto Jon caminhava na direção das mesas, mais irmãos reparavam nele e ficavam quietos. Um silêncio espalhou-se pela adega, até que os únicos sons que se ouviram foram os calcanhares de Jon soltando estalidos do chão de pedra, e o suave crepitar da lenha na lareira.
Sor Alliser Thorne estilhaçou o silêncio.