Читаем A Tormenta de Espadas полностью

Jon compreendeu então que desejava aquilo. Desejava-o tanto como jamais tinha desejado alguma coisa. Sempre o desejei, pensou, sentindo-se culpado. Que os deuses me perdoem. Era uma fome que trazia dentro de si, afiada como uma lâmina de vidro de dragão. Uma fome... conseguia senti-la. Era de comida que necessitava, de presas, de um veado vermelho que fedesse a medo ou de um grande alce, orgulhoso e desafiador. Desejava matar e encher a barriga de carne fresca e sangue quente e escuro. Sua boca começou a se encher de saliva ao pensar nisso.

Passou-se um longo momento até compreender o que estava acontecendo. Quando isso aconteceu, pôs-se em pé de um salto.

Fantasma? – virou-se para a floresta, e ali estava ele, saltando em silêncio do interior do ocaso verde, com a respiração saindo quente e branca de suas mandíbulas abertas. – Fantasma! – gritou, e o lobo gigante desatou a correr. Estava mais esguio do que antes, mas também estava maior, e o único som que fazia era o suave estalar de folhas mortas sob as patas. Quando se aproximou de Jon, saltou, e ambos lutaram entre a grama amarronzada e as longas sombras, enquanto as estrelas surgiam por cima deles. – Deuses, lobo, onde esteve? – disse Jon quando o Fantasma parou de lhe mordiscar o braço. – Achava que tinha morrido, como Robb e Ygritte e todos os outros. Não consegui senti-lo desde que escalei a Muralha, nem mesmo em sonhos. – O lobo gigante não tinha resposta a dar, mas lambeu o rosto de Jon com uma língua que era como lixa úmida, e seus olhos capturaram a última luz e brilharam como dois grandes sóis vermelhos.

Olhos vermelhos, percebeu Jon, mas não como os de Melisandre. O lobo tinha olhos de represeiro. Olhos vermelhos, boca vermelha, pelo branco. Sangue e osso, como uma árvore-coração. Este pertence aos deuses antigos. E só ele, entre todos os lobos gigantes, era branco. Tinham encontrado seis filhotes nas neves do fim do verão, ele e Robb; cinco que eram cinzentos, negros e castanhos, para os cinco Stark, e um branco, tão branco como a neve. Snow.

Então obteve a sua resposta.

Sob a Muralha, os homens da rainha estavam acendendo a sua fogueira noturna. Viu Melisandre emergir do túnel com o rei a seu lado, para liderar as preces que acreditava que manteriam a escuridão afastada.

– Vem, Fantasma – disse Jon ao lobo. – Comigo. Você tem fome, eu sei. Consegui sentir. – Correram juntos para o portão, dando uma volta larga em torno da fogueira noturna, na qual altas chamas enfiavam as garras na barriga negra da noite.

Os homens do rei encontravam-se em grande evidência nos pátios de Castelo Negro. Paravam quando Jon passava por eles, e ficavam olhando de boca aberta. Compreendeu que nenhum deles jamais tinha visto um lobo gigante, e Fantasma era duas vezes maior do que os lobos comuns que patrulhavam as suas florestas do sul. Enquanto se dirigia ao arsenal, Jon olhou casualmente para cima e viu Val em pé, na sua janela de torre. Lamento, pensou, não sou o homem que a raptará daí.

No pátio de treinos deparou com uma dúzia de homens do rei com archotes e longas lanças nas mãos. O sargento olhou para Fantasma e franziu a testa, e dois dos seus homens baixaram as lanças até que o cavaleiro que os liderava disse:

– Afastem-se e deixem-nos passar. – E, dirigindo-se a Jon, disse: – Está atrasado para o jantar.

– Então saia do meu caminho, sor – respondeu Jon, e foi o que o outro fez.

Ouviu o ruído antes mesmo de chegar ao pé das escadas; vozes alteradas, xingamentos, alguém esmurrando uma mesa. Jon entrou na adega praticamente sem ser notado. Os irmãos enchiam os bancos e as mesas, mas os que estavam em pé e aos gritos eram mais numerosos do que aqueles que se encontravam sentados, e ninguém comia. Não havia comida. O que está acontecendo aqui? Lorde Janos Slynt berrava qualquer coisa sobre vira-casacas e traições, Emmett de Ferro encontrava-se em pé sobre uma mesa com a espada desembainhada na mão, Hobb Três-Dedos amaldiçoava um patrulheiro da Torre Sombria... um homem qualquer de Atalaialeste bateu com o punho algumas vezes na mesa, exigindo silêncio, mas tudo que conseguiu foi somar esse ruído ao burburinho que ecoava sob o teto abobadado.

Pyp foi o primeiro a notar a presença de Jon. Sorriu ao ver Fantasma, levou dois dedos à boca e assobiou como só um filho de saltimbanco sabia assobiar. O som estridente cortou o clamor como uma espada. Enquanto Jon caminhava na direção das mesas, mais irmãos reparavam nele e ficavam quietos. Um silêncio espalhou-se pela adega, até que os únicos sons que se ouviram foram os calcanhares de Jon soltando estalidos do chão de pedra, e o suave crepitar da lenha na lareira.

Sor Alliser Thorne estilhaçou o silêncio.

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