– A estrada de Água Cinzenta até Winterfell nunca mais acabava, e nós estávamos montados. Você quer que percorramos um caminho mais longo a pé, sem sequer sabermos onde termina. Para lá da Muralha, você diz. Não estive lá, assim como você, mas sei que Para-lá-da-Muralha é um lugar grande, Jojen. Há muitos corvos com três olhos ou só há um? Como é que o encontramos?
– Ele talvez nos encontre.
Antes que Meera pudesse pensar em uma resposta, ouviram o som; o uivo distante de um lobo, ecoando na noite.
– Verão? – perguntou Jojen, escutando.
– Não. – Bran conhecia a voz de seu lobo gigante.
– Tem certeza? – perguntou o pequeno avô.
– Absoluta. – Naquele dia, Verão tinha se afastado muito, e não voltaria antes da alvorada.
– Deveríamos roubar cavalos, como Meera quer – disse Bran –, e ir até os Umber, lá em cima na Última Lareira. – Refletiu por um momento. – Ou podíamos roubar um barco e descer o Faca Branca até a cidade de Porto Branco. É aquele gordo do Lorde Manderly que governa lá, ele foi amigável na festa das colheitas. Queria construir navios. Talvez tenha construído alguns, e poderíamos navegar até Correrrio e trazer Robb para casa com todo o seu exército. Então não importaria quem soubesse que eu estou vivo. Robb não deixaria que alguém nos fizesse mal.
– Hodor! – exclamou Hodor. – Hodor, hodor.
Mas ele foi o único que gostou do plano de Bran. Meera limitou-se a sorrir para ele e Jojen franziu a testa. Nunca escutavam o que ele queria, apesar de Bran ser um Stark e, além disso, um príncipe, e os Reed do Gargalo serem vassalos dos Stark.
– Hoooodor – disse Hodor, se balançando. – Hooooooodor, hoooooooodor, hoDOR, hoDOR, hoDOR. – Às vezes gostava de fazer aquilo, dizer o seu nome de diversas maneiras, uma vez, e outra, e outra. Outras vezes, ficava tão calado que dava para esquecer que ele estava ali. Com Hodor nunca se sabia. –
– Hodor – disse –, por que não vai até lá fora treinar com a espada?
O cavalariço tinha se esquecido de sua espada, mas agora se lembrara.
– Hodor! – exclamou. Foi buscar a arma.
Tinham três espadas mortuárias que trouxeram das criptas de Winterfell quando Bran e o irmão Rickon se esconderam dos homens de ferro de Theon Greyjoy. Bran ficou com a espada do tio Brandon; Meera, com aquela que encontrara sobre os joelhos do avô, Lorde Rickard. A lâmina de Hodor era muito mais velha, um enorme e pesado pedaço de ferro, embotado por séculos de negligência e cheio de pontos de ferrugem. Podia passar horas e horas a brandi-la. Perto das pedras tombadas, havia uma árvore apodrecida que ele tinha quase desfeito em pedaços.
Mesmo depois de o gigante sair conseguiam ouvi-lo através das paredes, berrando “HODOR!” enquanto lançava estocadas e dava pancadas em sua árvore. Felizmente, a mata de lobos era enorme, e não era provável que houvesse alguém por perto para ouvir.
– Jojen, o que você quis dizer com aquilo do professor? – perguntou Bran. – Meu professor
– Está tão escancarado que temo que possa cair através dele, e viver o resto de seus dias como um lobo na floresta.
– Não cairei, prometo.
– O garoto promete. O lobo vai se lembrar? Corre com o Verão, caça com ele, mata com ele... mas se curva mais à vontade dele do que ele se curva à sua.
– Eu só me esqueço – protestou Bran. – Só tenho nove anos. Serei melhor quando for mais velho. Nem mesmo Florian, o Bobo, e o Príncipe Aemon, o Cavaleiro do Dragão, eram grandes guerreiros quando tinham
– Isso é verdade – disse Jojen – e seria uma coisa sensata a dizer, se os dias ainda fossem mais longos... mas não são. É uma criança de verão, eu sei. Diga-me o lema da Casa Stark.
–
Jojen acenou solenemente com a cabeça.
– Sonhei com um lobo alado, preso à terra por correntes de pedra, e fui a Winterfell para libertá-lo. Já não tem as correntes, mas ainda não voa.
– Então me ensina