— Não há nada para se alarmar, Owen, prometo-lhe que você não sentirá nada. Nem mesmo estará consciente das respostas que vai me dar, mas não terá meios de ocultar a verdade. Como é um homem inteligente, vou lhe dizer exatamente o que farei. Pode parecer surpreendente, mas isto me ajuda em meu trabalho. Goste ou não, sua mente inconsciente confiará em mim e irá cooperar. „Que tolice”, pensou Fletcher, „certamente ele não pensa que pode me enganar tão facilmente assim!” Todavia, não deu nenhuma resposta enquanto sentava-se na cadeira e os assistentes prendiam correias de couro frouxamente em torno da sua cintura e dos punhos. Não tentou resistir. Dois de seus ex-colegas mais volumosos permaneciam desagradavelmente ao fundo, cuidadosamente evitando encará-lo.
— Se precisar de uma bebida ou quiser ir ao toalete é só pedir. A primeira sessão vai durar exatamente uma hora, nós podemos precisar de outras mais curtas depois. Queremos deixá-lo confortável e relaxado. Nas circunstâncias, esta era uma observação tremendamente otimista, mas ninguém pareceu achar divertido.
— Sinto que tenhamos raspado sua cabeça, mas eletrodos não se dão bem com cabelo. E você terá que ser vendado de modo que seus
olhos não recebam impulsos visuais perturbadores… Agora vai começar a se sentir sonolento, mas vai continuar perfeitamente consciente… Vamos lhe fazer uma série de perguntas, cada uma delas com três respostas possíveis. Sim, não e não sei. Mas não tente responder. Seu cérebro fará isso por você e o sistema de lógica trinária do computador saberá o que está dizendo. Não existe absolutamente nenhum meio pelo qual possa mentir para nós, você pode tentar à vontade. Acredite-me, algumas das melhores mentes da Terra inventaram esta maquina, e nunca conseguiram enganá-la. Se receber respostas ambíguas, o computador simplesmente reestruturará as perguntas. Está pronto? Muito bem… Gravador em ponto alto, por favor… Verifique de novo o canal 5… programa correndo.
SEU NOME É OWEN FLETCHER… RESPONDA SIM… OU NÃO… SEU NOME É JOHN SMITH… RESPONDA SIM… OU NÃO… VOCÊ NASCEU NA CIDADE LOWELL, MARTE… RESPONDA SIM… OU NÃO… SEU NOME É JOHN SMITH… RESPONDA SIM… OU NÃO… VOCÊ NASCEU EM AUCKLAND, NOVA ZELÂNDIA… RESPONDA SIM… OU NÃO… SEU NOME É OWEN FLETCHER…
VOCÊ NASCEU EM 3 DE MARÇO DE 3585… VOCÊ NASCEU EM 31 DE DEZEMBRO DE 3584…
As perguntas se sucediam a intervalos tão curtos que, mesmo que não se encontrasse levemente drogado, Fletcher não teria sido capaz de inventar respostas. Pouca importância teria se o fizesse. Em questão de minutos o computador havia estabelecido um padrão de respostas automáticas a todas as perguntas cujas respostas fossem conhecidas. De tempos em tempos a calibração era reverificada (SEU NOME É OWEN FLETCHER… VOCÊ NASCEU NA CIDADE DO CABO, ZULULÂNDIA…). E as perguntas às vezes eram repetidas para confirmar respostas já dadas. Todo o processo era completamente automático, a partir do momento em que a constelação fisiológica das respostas SIM/NÃO fosse identificada. Os primitivos detectores de mentira tentaram fazer isso com razoável sucesso, mas raramente com certeza absoluta. Foram necessários mais de duzentos anos para aperfeiçoar a tecnologia, e daí em diante revolucionar a prática do direito penal e civil, até o ponto em que poucos julgamentos duravam mais do que algumas horas. Não era tanto um interrogatório, e sim uma versão computadorizada e à prova de falhas do antigo jogo „VINTE PERGUNTAS”. Em princípio, qualquer informação seria rapidamente determinada por uma série de perguntas com respostas na base do SIM ou NÃO, e era surpreendente como raramente eram necessárias mais do que vinte perguntas, desde que um perito humano trabalhasse em colaboração com a máquina especializada.
Quando um Owen Fletcher meio tonto cambaleou para fora da cadeira, uma hora depois, não fazia idéia do que lhe fora perguntado e o que respondera. Estava razoavelmente confiante, entretanto, de não ter revelado nada. Ficou meio surpreso quando o Dr. Steiner disse alegremente: — Isso é tudo, Owen. Nós não vamos precisar de você novamente. O professor se orgulhava do fato de nunca ter ferido ninguém, mas um bom interrogador tem que ser um pouco sádico, pelo menos no sentido psicológico. Além disso, aquilo aumentava sua reputação de infalibilidade e isto já era meio caminho andado. Ele esperou até que Fletcher tivesse recuperado o equilíbrio e fosse escoltado de volta para a cela de detenção.