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Ela levou o trabalho ao palácio e é de supor que casasse com o príncipe.

No fabulário onde vem, esta fábula não traz moralidade. Mesmo porque, na idade de ouro, as fábulas não tinham moralidade nenhuma.

Empresa fornecedora de mitos, Ida

— Está ali, disse a criada, um sujeito que lhe quer falar.

— Não disse quem era? perguntei.

— Deu este bilhete, disse ela sem salva.

Pequei no bilhete, e o que li nele fez com que me sentasse direito na cadeira, contra todas as tradições que acumulei na minha vida sem decisões.

O bilhete dizia assim predominantemente:

EMPRESA FORNECEDORA DE MITOS, LIMITADA.

E, por baixo, lia-se, a subordinação do costume:

«Representada por…»

— Este sujeito perguntou por mim? inquirí déla.

— Perguntou pelo «senhor»…

— Bem, disse, manda-o entrar…

O cartão não dizia morada, nem, além destas, trazia uma indicação qualquer.

O caixeiro de praça, ou viajante, entrou no meu gabinete com a segurança física que é peculiar da classe. Diferençava-se dos congéneres meus conhecidos em não trazer mala nem sorriso. Cumprimentou-me cerimoniosamente, com um abaixar leve da cabeça. Indiquei-lhe que se sentas-se. Sentou-se, e fitou-me um momento.

— Desejava?.. meio perguntei.

Ele curvou-se levemente para mim, e começou a expor a sua missão numa voz que, sem deixar de ser um pouco monótona, não o era contudo desagradavelmente.

— Antes de lhe explicar, com a devida minúcia, a natureza e qualidades dos artigos que tenho a oferecer, desejava fazer-lhe, se mo permite, uma breve exposição das razões que levaram a casa que represento — primeiro, a fundar-se, segundo, a produzir, com a ciência e o escrúpulo que mostrarei, as qualidades e tipos de artigos em que se especializou industrialmente.

Acenei que sim, vagamente, percebendo só, por enquanto, que nada por enquanto percebia.

O meu visitante, que fitara o chão um momento, tornou em breve a erguer a cabeça.

— A sociedade compõe-se de três camadas distintas. A primeira é a dos criadores de mitos, e é a verdadeira aristocracia. Propriamente há criadores e transformadores de mitos — os homens de génio e os de talento, tomando cada palavra um sentido de valia mais alto que geralmente se lhe concede. — A segunda camada é a dos □[15]. Um soldado que se bate por Napoleão sente em si uma vida mais vasta e grande que o homem que passa na vida nulo, e anónimo para si mesmo.

— Mas, nesse caso, porque protestas contra os mitos revolucionários e radicais modernos?

— Porque esses têm a pretensão de não ser mitos…

— Mas todo o mito, para ter força, tem que impor-se com verdade. Não há cristãos onde se considera como mito o mito cristão.

— Não é bem isso… os mitos revolucionários tenndem a destruir a única realidade, que é a distinção de classes. Aí é que está a sua inutilidade e a sua falsidade social. Que se defenda uma aristocracia diferente da actual, entende-se; mas que se não defenda aristocracia nenhuma…

— Mas pode defender-se uma aristocracia de trabalho, segundo os próprios mitos radicais…

— Propriamente não se defende, mas admita-se que sim… Ora o trabalho não pode ser um mito, porque é uma realidade. Sim: produzir é criar realidade, isto é, coisas inteiramente inúteis. Um mito é a criação de irrealidades isto é, coisas úteis, vivas, que duram e perduram. De todas as indústrias modernas, disse ele, aquela que, sendo embora exercida em larga escala, o é contudo ainda de um modo inteiramente empírico, é a industria política. Ora o caminho natural da invenção — e a nossa época é acentuadamente uma época inventiva — é o de encontrar fórmulas científicas, e processos derivados dessas fórmulas, para eliminar o empirismo, a grosseria técnica, que é o primeiro estádio inevitável de qualquer arte ou de qualquer indústria. Por que razão não se teria ainda alguém lembrado de introduzir a ciência e a técnica racional no empirismo político, destruindo-o e aperfeiçoando a política? Pela simples razão que ninguém ainda disso se tinha lembrado. Até o primeiro que se lembra, ninguém se lembrou, em coisa nenhuma. Ora a minha firma foi a primeira que reparou que estava ainda livre o campo inventivo na indústria política. A minha firma inventou os processos técnicos desta indústria.

* * *

E desapareceu, sem mala e sempre sem o sorriso, do meu limitadíssimo horizonte.

O filatelista

(A inutilidade de dar conselhos)

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