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para conviver com a Mãe, mas ela vibrava sempre na mesma sintonia, e com isso não permitia que elementos externos pudessem se manifestar.

Comigo acontecia a mesma coisa: a melhor maneira de meditar, de entrar em contato com a luz, era fazendo tricô — algo que minha mãe me ensinara quando criança. Sabia contar os pontos, mexer as agulhas, criar belas coisas através da repetição e da harmonia. Um dia, meu protetor pediu-me para tricotar de uma maneira completamente irracional! Algo muito violento para mim, que havia aprendido o trabalho com carinho, paciência, e dedicação. Mesmo assim, ele insistiu que eu fizesse um péssimo trabalho.

Durante duas horas eu achava aquilo ridículo, absurdo, minha cabeça doía, mas não podia deixar que as agulhas guiassem minhas mãos. Qualquer um é capaz de fazer algo errado, por que estava me pedindo isso? Porque conhecia minha obsessão pela geometria e pelas coisas perfeitas.

E de repente, aconteceu; eu parei com as agulhas, senti um vazio imenso, que foi preenchido por uma presença cálida, amorosa, companheira. À minha volta tudo estava diferente, e sentia vontade de dizer coisas que jamais ousaria em meu estado normal. Mas não perdi a consciência — sabia que era eu mesma, embora — aceitemos o paradoxo — não fosse a pessoa com quem estivesse acostumada a conviver.

Portanto, eu posso “ver” o que aconteceu, embora não estivesse ali; a alma de Athena seguindo os sons da música, e seu corpo indo em direção totalmente contrária. Depois de algum tempo, a alma se desligou do corpo, um espaço foi aberto, e a Mãe finalmente pôde entrar.

Melhor dizendo: uma centelha da Mãe apareceu ali.

Antiga, mas com aparência jovem. Sábia, mas não onipotente.

Especial, mas sem arrogância. A percepção mudou, e ela passou a ver as mesmas coisas que enxergava quando criança — os universos paralelos que povoam este mundo. Neste momento, podemos ver não 312

apenas o corpo físico, mas as emoções das pessoas. Dizem que os gatos têm o mesmo poder, e eu acredito.

Entre o mundo físico e o espiritual existe uma espécie de manto, que varia de cor, intensidade, luz, e que os místicos chamam de “aura”. A partir daí, tudo é fácil: a aura conta o que está se passando. Se eu estivesse presente ela veria uma cor violeta com algumas manchas amarelas ao redor do meu corpo. Isso significa que ainda tenho um longo caminho pela frente, e que minha missão não está ainda cumprida nesta terra.

Misturada com as auras humanas, aparecem formas transparentes — que as pessoas costumam chamar de “fantasmas”.

Foi o caso da mãe da menina, o único caso, aliás, onde o destino deviaser mudado. Tenho quase certeza que a tal atriz, mesmo antes de perguntar, sabia que a mãe estava ao lado, e a única surpresa foi a história da bolsa.

Antes da tal dança sem seguir o ritmo, todos ficaram intimidados. Por quê? Porque todos nós estamos acostumados a fazer as coisas “como devem ser feitas”. Ninguém gosta de dar passos errados, principalmente quando estamos conscientes disso.

Inclusive Athena — não deve ter sido fácil para ela sugerir algo que ia contra tudo que amava.

Fico contente que, naquele momento, a Mãe tenha vencido a batalha. Um homem tenha sido salvo do câncer, outro passou a aceitar sua sexualidade, e um terceiro deixou de tomar pílulas para dormir. Tudo porque Athena quebrou o ritmo, freando o carro quando estava a altíssima velocidade e desarrumando tudo.

Voltando ao meu tricô: usei este processo por um tempo, até que consegui provocar esta presença sem qualquer artifício, já que a conhecia, e estava me acostumando a ela. Com Athena ocorreu o mesmo — uma vez que sabemos onde estão as Portas da Percepção, fica facílimo abrir e fechá-las, desde que nos acostumemos com nosso comportamento “estranho”.

E cabe acrescentar: meu tricô ficou muito mais rápido e melhor, da mesma maneira que Athena passou a dançar com muito mais alma e ritmo depois que ousou quebrar estas barreiras.


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Andrea McCain, atriz


A história se espalhou como fogo; na segunda-feira seguinte, quando é folga no teatro, a casa de Athena estava cheia. Todos nós havíamos levado amigos. Ela repetiu a mesma coisa, obrigou-nos a dançar sem ritmo, como se precisasse da energia coletiva para chegar ao encontro de Hagia Sofia. O menino de novo estava presente, e eu passei a observá-lo. Quando se sentou no sofá, a música foi cortada e o transe teve início.

E começavam as consultas. Como podíamos imaginar, as três primeiras perguntas eram relacionadas com amor — se fulano vai continuar comigo, se beltrano me ama, se estou sendo traído.

Athena não dizia nada. A quarta pessoa que ficou sem resposta resolveu reclamar:

— Então, estou sendo traído?

— Sou Hagia Sofia, a sabedoria universal. Vim criar o mundo sem a companhia de ninguém, exceto do Amor. Eu sou o início de tudo, e antes de mim havia o caos.

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