Читаем A Bruxa de PortoBello полностью

— Estamos aqui nesta pequena aldeia, e vocês acham que sou uma estrangeira, por isso se interessam pelo que tenho a contar. Nunca viajaram, não sabem o que se passa além das montanhas, mas eu posso lhes dizer: não há necessidade de louvar a terra. Ela sempre será generosa com esta comunidade. O

importante é louvar o ser humano. Vocês dizem que amam viajar?

Estão usando a palavra errada — o amor é uma relação entre as pessoas.

“Vocês desejam que a colheita seja fértil e por isso decidiram amar a terra? Outra bobagem: o amor não é desejo, não é conhecimento, não é admiração. É um desafio, um fogo que arde sem que possamos ver. Por isso, se acham que sou uma estranha nesta terra, estão enganados: tudo me é familiar, porque venho com esta força, com esta chama, e quando partir ninguém mais será o mesmo.

Trago o amor de verdade, não aquele que ensinaram os livros e os contos de fadas.“

O “marido” de um dos “casais” começou a me olhar. A mulher ficou perdida com sua reação.

Durante o resto do exercício, o diretor — melhor dizendo, o bom homem — fazia o possível para explicar às pessoas a importância de manter as tradições, louvar a terra, pedir que ela fosse generosa este ano como tinha sido no ano passado. Eu apenas falava de amor.

— Ele diz que a terra quer ritos? Pois eu garanto: se vocês tiverem amor suficiente entre vocês, a colheita será farta, 303

porque este é um sentimento que tudo transforma. Mas o que eu vejo? Amizade. A paixão já se extinguiu há muito tempo, porque já se acostumaram uns com os outros. É por isso que a terra dá apenas o que deu no ano anterior, nem mais nem menos. E é por isso que, no escuro de suas almas, vocês reclamam silenciosamente que nada em suas vidas muda. Por quê? Porque tentaram controlar a força que tudo transforma, de modo que suas vidas pudessem continuar sem grandes desafios.

O bom homem explicava:

— Nossa comunidade sempre sobreviveu porque respeitou as leis, e até mesmo o amor é guiado por elas. Aquele que se apaixona sem levar em conta o bem comum, irá sempre viver em constante angústia: de ferir sua companhia, de irritar sua nova paixão, de perder tudo que construiu. Uma estrangeira sem laços e sem história pode dizer o que quiser, mas não sabe as dificuldades que tivemos antes de chegar onde chegamos. Não sabe o sacrifício que fizemos por nossos filhos. Desconhece o fato de que trabalhamos sem descanso para que a terra seja generosa, a paz esteja conosco, as provisões possam ser armazenadas para o dia de amanhã.

Durante uma hora eu defendi a paixão que tudo devora, enquanto o bom homem falava do sentimento que traz paz e tranqüilidade. No final, eu fiquei falando sozinha, enquanto a comunidade inteira se reunia em torno dele.

Havia feito meu papel com um entusiasmo e uma fé que jamais imaginara possuir; apesar de tudo, a estrangeira partia da pequena aldeia sem ter convencido ninguém.

E isso me deixava muito, muito contente.


Heron Ryan, jornalista


Um velho amigo meu costuma dizer: “a gente aprende 25%

com o mestre, 25% escutando a si mesmo, 25% com os amigos, e 25%

com o tempo”. No primeiro encontro na casa de Athena, onde ela 304

pretendia terminar a aula interrompida no teatro, todos nós aprendemos com... não sei.

Nos esperava na pequena sala de seu apartamento, junto com o filho. Reparei que o lugar era totalmente branco, vazio, exceto por um móvel com um aparelho de som em cima, e uma pilha de CDs. Estranhei a presença da criança, que devia aborrecer-se com uma conferência; esperava que continuasse no momento onde tinha parado — comandos através de palavras. Mas ela tinha outros planos; explicou que ia colocar uma música vinda da Sibéria, e que todos simplesmente deviam escutar.

Mais nada.

— Eu não consigo chegar a lugar nenhum através da meditação — disse. — Vejo estas pessoas sentadas de olhos fechados, um sorriso nos lábios, suas caras sérias, a postura arrogante, concentradíssimas em absolutamente nada, convencidas que estão em contato com Deus ou com a Deusa. Pelo menos, escutaremos música juntos.

De novo, aquela sensação de mal-estar, como se Athena não soubesse exatamente o que fazia. Mas quase todos os atores de teatro estavam ali, inclusive o diretor — que segundo Andrea fora espionar o campo inimigo.

A música terminou.

— Desta vez, dancem em um ritmo que não tenha nada, absolutamente nada a ver com a melodia.

Athena colocou-a de novo, com o volume bem mais alto, e começou a mover seu corpo sem qualquer harmonia. Apenas um senhor mais velho, que na peça representava um rei bêbado, fez o que tinha sido mandado. Ninguém se mexeu; as pessoas pareciam um pouco constrangidas. Uma delas olhou o relógio — haviam se passado apenas dez minutos.

Athena parou e olhou em volta:

— Por que estão parados?

— Me parece... um pouco ridículo fazer isso — escutou-se a voz tímida de uma atriz. — Aprendemos a harmonia, não o oposto.


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