Читаем A Bruxa de PortoBello полностью

Os paroquianos da semana anterior devem ter ficado intimidados com a multidão e não compareceram, apesar das ameaças que fizeram espalhar nos dias anteriores. Nenhuma agressão foi ouvida, e a cerimônia transcorreu como sempre — dança, Hagia Sofia se manifestando (a esta altura eu já sabia que era apenas um lado da própria Athena), celebração no final (que havia sido acrescentada recentemente, quando o grupo mudou-se para o armazém cedido por um dos primeiros freqüentadores), e ponto final.

Notei que durante o sermão Athena parecia possuída:

— Todos nós temos um dever com o amor: permitir que ele se manifeste da maneira que julgar melhor. Não podemos e não devemos nos assustar quando as forças das trevas, aquelas que instituíram a palavra “pecado” apenas para controlar nossos corações e mentes, querem se fazer ouvir. O que é pecado? Jesus Cristo, que todos nós conhecemos, virou-se para a mulher adúltera, e disse: “ninguém te condenou? Pois eu também não te condeno”. Curou aos sábados, permitiu que uma prostituta lavasse seus pés, convidou um criminoso que estava sendo crucificado com ele para gozar as delícias do Paraíso, comeu alimentos proibidos, disse que nos preocupássemos apenas com o dia de hoje, porque os lírios do campo não tecem nem fiam, mas se vestem com glória.

“O que é pecado? Pecado é impedir que o Amor se manifeste. E a Mãe é amor. Estamos em um novo mundo, podemos escolher seguir nossos próprios passos, não o que a sociedade nos obrigou a fazer. Se for necessário, enfrentaremos de novo as forças das trevas como fizemos na semana passada. Mas ninguém irá calar nossa voz ou nosso coração.”

Eu estava vendo a transformação de uma mulher em um ícone. Ela falava tudo aquilo com convicção, com dignidade, com fé no que dizia. Torci para que as coisas fossem realmente assim, que estivéssemos realmente diante de um novo mundo, do qual eu seria testemunha.


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Sua saída do armazém foi tão consagradora quanto sua entrada, e, ao me ver na multidão, chamou-me para seu lado, comentando que havia sentido minha falta na semana passada.

Estava alegre, segura de si, convencida da correção de seus atos.

Este era o lado positivo do artigo de jornal, e oxalá as coisas terminassem por aí. Queria estar errado em minha análise, mas, três dias depois, a minha previsão se confirmou: o lado negativo surgiu com toda a sua força.

Utilizando um dos mais conceituados e conservadores escritórios de advocacia do Reino, cujos diretores — esses sim, e não Athena — tinham contato com todas as esferas do governo, e usando as declarações que haviam sido publicadas, o Reverendo Buck convocou uma entrevista coletiva para dizer que naquele momento estava entrando na justiça com um processo de difamação, calúnia, e danos morais.

O secretário de redação me chamou: sabia que eu tinha amizade com o personagem central de todo aquele escândalo, e sugeriu que fizéssemos uma entrevista exclusiva. Minha primeira reação foi de revolta: como iria usar esta relação de amizade para vender jornais?

Mas, depois que conversamos um pouco, comecei a achar que talvez fosse uma boa idéia: ela teria a oportunidade de apresentar sua versão da história. Indo mais longe, poderia usar a entrevista para promover tudo aquilo pelo qual agora estava lutando abertamente. Saí do encontro com o secretário de redação com o plano que elaboramos juntos: uma série de reportagens sobre as novas tendências sociais, e as transformações que a busca religiosa estava atravessando. Em uma destas reportagens, eu publicaria as palavras de Athena.

Na mesma tarde do encontro com o secretário de redação, fui até sua casa — aproveitando-me do fato de que o convite partira dela, na saída do armazém. Soube por vizinhos que oficiais de justiça tinham aparecido no dia anterior para entregar-lhe uma intimação, mas tampouco conseguiram.


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Telefonei mais tarde, sem sucesso. Tentei outra vez no início da noite, e ninguém respondia ao telefone. A partir daí comecei a ligar a cada meia hora, e a ansiedade crescia proporcionalmente aos telefonemas. Desde que Hagia Sofia me curara da insônia, o cansaço me empurrava para a cama às 11 horas da noite, mas desta vez a angústia me manteve acordado.

Achei o número de sua mãe no catálogo telefônico. Mas já era tarde, se ela não estivesse ali, a família inteira iria ficar preocupada; o que fazer? Liguei a televisão para ver se algo havia acontecido — nada de especial, Londres continuava a mesma, com suas maravilhas e seus perigos.

Resolvi fazer uma última tentativa: depois de tocar três vezes, alguém atendeu. Imediatamente reconheci a voz de Andrea do outro lado da linha.

— O que você quer? — ela perguntou.

— Athena pediu que eu a procurasse. Está tudo bem?

— Evidente que está tudo bem, e está tudo mal, dependendo de como se quiser ver a coisa. Mas acho que você pode ajudar.

— Onde ela está?

Desligou sem dar maiores detalhes.


Deidre O’Neill, conhecida como Edda


Athena hospedou-se em um hotel próximo à minha casa.

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