Sansa foi poupada da necessidade de responder quando os dois Kettleblack reentraram no salão. Sor Osmund e os irmãos tinham se transformado em grandes favoritos no castelo; estavam sempre prontos com um sorriso e um gracejo, e davam-se tão bem com palafreneiros e caçadores como com cavaleiros e escudeiros. Segundo diziam os mexericos, era com as criadas que se davam melhor. Nos últimos tempos, Sor Osmund tinha tomado o lugar de Sandor Clegane ao lado de Joffrey, e Sansa ouvira as mulheres no poço das lavagens dizerem que ele era tão forte como o Cão de Caça, só que mais jovem e mais rápido. Se assim era, perguntava a si mesma por que nunca tinha ouvido falar daqueles Kettleblack antes de Sor Osmund ser nomeado para a Guarda Real.
Osney era todo sorrisos quando se ajoelhou ao lado da rainha.
– Os cascos incendiaram-se, Vossa Graça. Toda a Água Negra está inundada de fogovivo. Há uma centena de navios ardendo, talvez mais.
– E o meu filho?
– Está no Portão da Lama com a Mão e a Guarda Real, Vossa Graça. Já falou com os arqueiros nas paliçadas e deu-lhes alguns conselhos sobre o manuseio de uma besta, deu sim. Todos dizem que é um rapaz reto e bravo.
– É bom que permaneça um rapaz reto e
Osfryd colocara um meio elmo de aço sobre seu longo cabelo negro, e a expressão em seu rosto era sombria.
– Vossa Graça – disse em voz baixa –, os rapazes apanharam um palafreneiro e duas criadas tentando escapulir por uma porta falsa com três dos cavalos do rei.
– Os primeiros traidores da noite – a rainha disse –, mas temo que não serão os últimos. Mande Sor Ilyn cuidar deles, e coloque suas cabeças em espigões à porta dos estábulos como aviso – enquanto os irmãos saíam, virou-se para Sansa: – Outra lição que devia aprender, se tem esperança de se sentar no trono ao lado de meu filho. Se for branda numa noite como esta, terá traição estourando por toda a sua volta, como cogumelos depois de uma chuva forte. A única maneira de manter seu povo leal é assegurando-se de que a temem mais do que ao inimigo.
– Vou me lembrar, Vossa Graça – Sansa respondeu, se bem que sempre tivesse ouvido dizer que o amor era um caminho mais seguro para a lealdade do povo do que o medo.
Empadões de pata de siri seguiram-se à salada. Depois veio carneiro assado com alho-poró e cenoura, servido em tabuleiros de casca de pão. Lollys comeu depressa demais, ficou enjoada e vomitou por cima de si e da irmã. Lorde Gyles tossiu, bebeu, tossiu, bebeu e desmaiou. A rainha fitou com repugnância o local onde ele jazia, com o rosto enfiado no tabuleiro e a mão numa poça de vinho.
– Os deuses deviam estar loucos para desperdiçar virilidade em homens como ele; e eu devia estar louca quando exigi sua libertação.
Osfryd Kettleblack regressou, fazendo rodopiar o manto carmim.
– Há povo juntando-se na praça, Vossa Graça, pedindo refúgio no castelo. Não é uma multidão, são comerciantes ricos e gente assim.
– Ordene-lhes que voltem às suas casas – disse a rainha. – Se não forem, ordene que seus besteiros matem alguns. Nada de surtidas; não quero os portões abertos por nenhum motivo.
– Às suas ordens – ele fez uma reverência e saiu.
O rosto da rainha mostrava-se duro e irritado.
– Bem que eu gostaria de levar uma espada aos seus pescoços pessoalmente – a voz de Cersei começava a ficar mole. – Quando pequenos, Jaime e eu éramos tão parecidos que até nosso pai não nos conseguia distinguir. Às vezes, para fazer graça, vestíamos a roupa um do outro e passávamos um dia inteiro como o outro. Mas, mesmo assim, quando deram a Jaime a primeira espada, não havia nenhuma para mim. “O que
– Mas foi rainha de todos os Sete Reinos – Sansa lhe disse.
– Quando se trata de espadas, uma rainha é só uma mulher, no fim das contas – a taça de vinho de Cersei estava vazia. Um pajem fez tenção de voltar a enchê-la, mas ela se virou e sacudiu a cabeça. – Mais não. Tenho de manter a cabeça limpa.
O último prato foi queijo de cabra servido com maçãs cozidas. O odor da canela encheu o salão no momento em que Osney Kettleblack entrou para ir se ajoelhar mais uma vez entre as duas.