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Um enorme estrondo ressoou pela Água Negra quando um pedregulho do tamanho de um cavalo acertou em cheio, a meio navio, uma das galés.
O machado pesava em seu punho. Um punhado de homens ainda o seguia, os outros estavam mortos ou tinham fugido. Teve de lutar com o garanhão para manter a cabeça do animal apontada a leste. O grande cavalo de batalha não gostava mais de fogo do que Sandor Clegane, mas era mais fácil intimidar o animal.
Homens saíam do rio rastejando, queimados e ensanguentados, tossindo água, cambaleando, a maioria morrendo. Levou sua tropa por entre eles, dando mortes mais rápidas e mais limpas aos que ainda tinham forças para se manter em pé. A guerra reduziu-se ao tamanho da fenda para os olhos. Cavaleiros com o dobro de seu tamanho fugiam dele, ou ficavam no mesmo lugar e morriam. Pareciam coisas pequenas e assustadas.
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– Nessa altura não sente as feridas ou a dor nas costas por causa do peso da armadura, ou o suor que escorre para os seus olhos. Deixa de sentir, deixa de pensar, deixa de ser
E tentaram. Outro lanceiro correu para ele. Tyrion cortou a ponta da lança, depois a mão, depois o braço, trotando em círculos à sua volta. Um arqueiro, sem arco, atirou-se sobre ele com uma flecha na mão, segurando-a como se fosse uma faca. O corcel de batalha escoiceou a coxa do homem, fazendo-o estatelar-se, e Tyrion soltou uma gargalhada roufenha. Passou por um estandarte enfiado na lama, um dos corações em chamas de Stannis, e cortou a haste em duas, com um golpe de machado. Um cavaleiro ergueu-se vindo de lugar nenhum, lançando-lhe estocadas no escudo com a espada longa de duas mãos que brandia, uma e outra vez, até que alguém enfiou uma adaga por baixo do seu braço. Um dos homens de Tyrion, talvez. Não chegou a vê-lo.
– Rendo-me, sor – gritou outro cavaleiro, mais adiante ao longo do rio. – Rendo-me. Sor cavaleiro, rendo-me a você. O meu penhor, tome, tome – o homem estava deitado numa poça de água negra, oferecendo uma manopla articulada em sinal de submissão. Tyrion teve de se inclinar para aceitá-la. Quando o fez, um frasco de fogovivo explodiu por cima de sua cabeça, borrifando chamas verdes. No súbito relâmpago de luz, viu que a poça não era negra, mas vermelha. A manopla ainda tinha a mão do homem lá dentro. Atirou-a de volta. – Rendo-me – soluçou o homem, sem esperança, sem amparo. Tyrion recuou.