— O que quer que seja — disse Brant —, nós saberemos em cinco minutos. Olhe para aquela luz, aquilo desceu no Parque Terra, o lugar óbvio. Devemos parar o carro e andar o resto do caminho? O Parque Terra era um oval de grama, cuidadosamente preservado, no lado ocidental do Primeiro Pouso, encontrando-se agora oculto à visão direta do grupo pela coluna negra da nave-mãe, o monumento mais antigo e mais reverenciado do planeta. Derramando-se em torno das bordas do cilindro ainda não enferrujado havia um foco de luz, vindo, aparentemente, de uma única fonte de luz brilhante.
— Pare o carro antes de chegarmos à nave — ordenou a prefeita.
— Então daremos a volta e olharemos. Desliguem as luzes de modo que eles só nos vejam quando quisermos.
— Eles ou aquilo? — perguntou um dos passageiros, um pouco histericamente. Todos o ignoraram. O carro parou na sombra da nave e Brant o fez girar 180 graus.
— Só para podermos fazer uma saída rápida — explicou ele, entre sério e gozador. Ainda não acreditava que pudesse haver algum perigo real. De fato, havia momentos em que se perguntava se aquilo estava realmente acontecendo. Talvez ainda estivesse dormindo e tudo fosse apenas um sonho muito claro. Saíram silenciosamente do carro e caminharam até a nave, circundando-a até chegarem a um clarão de luz bem definido. Brant abrigou os olhos e olhou além da borda do casco, comprimindo as pálpebras ante o clarão. O conselheiro Simmons tinha razão. Era algum tipo de aeronave ou aeroespaçonave, e muito pequeno. Poderiam ser os Nortistas? Não, isso era absurdo. Não havia nenhuma utilidade concebível para um veículo assim na área limitada das Três Ilhas e teria sido impossível esconder sua construção. Tinha a forma de uma ponta de flecha rombuda e devia ter pousado verticalmente, já que não deixara marcas na grama à sua volta. A luz vinha de uma única fonte na carenagem dorsal aerodinâmica, e um pequeno farol vermelho acendia e apagava bem acima dela. De fato, tratava-se de uma máquina comum, o que era ao mesmo tempo tranqüilizador e decepcionante. Não teria sido possível viajar naquilo pelos doze anos-luz até a mais próxima das colônias conhecidas. Subitamente a luz principal se apagou, deixando o pequeno grupo de observadores momentaneamente cego. Quando recuperou sua visão noturna, Brant pôde ver que havia janelas na parte dianteira da máquina, todas brilhando fracamente com uma iluminação interior. Aquilo parecia quase um veículo tripulado, não a aeronave-robô que lhes parecera óbvia. A prefeita Waldron chegara exatamente à mesma conclusão espantosa.
— Não é um robô, tem gente lá dentro! Não vamos perder mais tempo. Me ilumine com a sua lanterna, Brant, de modo que eles possam nos ver.
— Helga! — protestou o conselheiro Simmons.
— Não seja burro, Charlie. Vamos, Brant. O que era mesmo que o primeiro homem na Lua tinha dito há quase dois mil anos? „Um pequeno passo…” Eles tinham dado quase vinte quando uma porta se abriu num dos lados do veículo, e uma rampa articulada se desdobrou rapidamente para baixo. Dois humanóides desceram ao encontro deles. Essa foi a primeira impressão de Brant. Então ele percebeu que fora confundido pela cor da pele ou pelo que dela podia ver através da película transparente e flexível que os cobria da cabeça aos pés. Eles não eram humanóides, eles eram humanos. Se nunca mais se expusesse ao sol, Brant poderia ficar quase tão pálido quanto eles. A prefeita estava estendendo as mãos no gesto tradicional „Veja, eu não carrego armas!”, tão antigo quanto a história.
— Eu não creio que possam me entender — disse ela — mas sejam bem-vindos a Thalassa. Os visitantes sorriram, e o mais velho dos dois, um homem belo de cabelos grisalhos, no final dos sessenta, estendeu suas mãos em resposta.
— Pelo contrário — ele respondeu, usando uma das vozes mais profundas e lindamente moduladas que Brant jamais ouvira —, nós compreendemos vocês encontrá-los perfeitamente. Estamos felizes em Por um momento o comitê de recepção ficou parado, em atônito silêncio. Mas era tolice, pensou Brant, se surpreender com isso. Afinal eles não tinham a menor dificuldade para entenderem a fala de homens que tinham vivido há dois mil anos. Quando a gravação sonora fora inventada, ela congelara os padrões básicos dos fonemas em todos os idiomas. Os vocabulários podiam se expandir, a sintaxe e a gramática podiam ser modificadas, mas a pronúncia permanecerá estável por milênios. A prefeita Waldron foi a primeira a se recuperar do choque.
— Bem, isto certamente nos poupa um bocado de trabalho — disse ela num certo tom de desculpa.
— Mas de onde vêm vocês? Eu temo que tenhamos perdido o contato com nossos vizinhos desde que nossa antena de espaço profundo foi destruída.
O homem mais velho olhou para seu colega mais alto e alguma mensagem silenciosa passou entre eles. Então eles se voltaram para a prefeita que aguardava. Não havia engano na tristeza transmitida por aquela linda voz, enquanto fazia sua afirmativa absurda.