Читаем As cancoes da Terra distante полностью

Tinha atravessado cinqüenta anos-luz, na mais longa jornada já feita por seres humanos, até chegar àquele local. E agora preocupava-se com algumas centenas de metros que o separavam da terra firme mais próxima. E, no entanto, não havia maneira pela qual ele pudesse ter recusado o desafio. Enquanto se recostava à vontade na popa, observando Falconer no leme (como teria surgido aquela cicatriz branca sobre os ombros? Oh sim, ele tinha mencionado alguma coisa a respeito de uma queda numa microaeronave, alguns anos atrás…), ele se perguntava o que estaria passando na mente do lassaniano. Era difícil acreditar que qualquer sociedade humana, mesmo a mais esclarecida ou indolente, pudesse estar inteiramente livre do ciúme, ou de qualquer outra forma de possessividade sexual. Não que houvesse muita coisa — até agora! — capaz de deixar Brant ciumento. Loren duvidava que houvesse trocado mais do que umas cem palavras com Mirissa, a maioria delas na presença de seu marido. Correção: em Thalassa os termos marido e esposa não eram usados até o nascimento do primeiro filho. Quando um filho era escolhido, a mãe, geralmente, mas não invariavelmente, passava a usar o nome do pai. Se o primogênito era uma menina, ambas mantinham o nome da mãe, pelo menos até o nascimento do segundo e último filho. Havia poucas coisas capazes de chocar os lassanianos. Crueldade, principalmente com relação a crianças, era uma delas. E ter uma terceira gravidez, num mundo com apenas vinte mil quilômetros quadrados de terra, era outra. A mortalidade infantil era tão baixa que dois partos eram suficientes para manter uma população constante. Tinha havido um caso famoso, único em toda a história de Thalassa, em que uma família recebera a bênção, ou a desgraça, de quíntuplos nos dois partos seguidos. Embora a pobre mãe dificilmente pudesse ser culpada, sua memória estava agora cercada por aquela aura de gostosa devassidão que certa vez envolvera os nomes de Lucrécia Bórgia, Messalina ou Faustine.

„Eu terei que jogar minhas cartas com muito cuidado”, pensou Loren. Que Mirissa o julgava atraente ele já sabia. Podia ver isso na expressão dela e no tom de sua voz. E tivera uma prova ainda maior nos contatos acidentais da mão, em suaves colisões do corpo que tinham durado mais do que o estritamente necessário. Ambos sabiam que era apenas uma questão de tempo. E Loren tinha certeza de que Brant sabia disso também. No entanto, a despeito da tensão mútua entre eles, ainda permaneciam amigos. A pulsação dos jatos morreu e o barco deslizou até parar, junto de uma grande bóia de vidro que subia e descia suavemente na água.

— Esta é nossa fonte de energia — disse Brant.

— Nós só precisamos de algumas centenas de watts, e assim bastam-nos as células solares. Uma vantagem dos mares de água doce, que não funcionaria na Terra. Seus oceanos são muito salgados e engoliriam quilowatt sobre quilowatt.

— Kumar. Tem certeza de que não vai mudar de idéia, tio? — sorriu Loren sacudiu a cabeça. Embora houvesse se surpreendido a princípio, agora já estava bem acostumado com a saudação universal empregada pelos jovens lassanianos. Era até um tanto agradável ganhar subitamente dúzias de sobrinhos e sobrinhas.

— Não, obrigado. Eu vou ficar aqui e observar pela janela submarina, se for o caso de vocês serem comidos pelos tubarões.

— Tubarões! — disse Kumar pensativo.

— Animais maravilhosos, simplesmente maravilhosos. Eu queria que tivéssemos alguns aqui. Tornariam os mergulhos muito mais excitantes. Enquanto Brant e Kumar ajustavam seu equipamento, Loren os observou com o interesse típico de um técnico. Comparado com o equipamento que se precisava usar no espaço, este era extraordinariamente simples e o tanque de pressão reduzira-se a uma coisa pequena que caberia facilmente na palma da mão.

— O tanque de oxigênio — disse ele —, não diria que fosse capaz de durar mais que um par de minutos. Brant e Kumar olharam para ele numa atitude de censura.

— Oxigênio! Isso é um veneno mortal abaixo de vinte metros. Esta garrafa contém ar e é apenas um suprimento de emergência, bom para quinze minutos. Ele apontou para a estrutura em forma de guelra, na mochila que Kumar estava usando.

— Há todo o oxigênio de que você necessita dissolvido na água do mar, se puder extraí-lo. Mas como isso consome energia, você precisará de uma célula de força para mover as bombas e os filtros. Eu poderia ficar lá embaixo durante uma semana com essa unidade, se realmente quisesse. Ele bateu com os dedos no mostrador esverdeado do computador em seu pulso esquerdo.

— Isto me dá toda a informação de que preciso — profundidade, condição da célula de força, hora de subir, paradas para descompressão.

Loren arriscou outra pergunta tola.

— Por que você está usando uma máscara facial e Kumar não? — Mas eu estou — sorriu Kumar —, olhe cuidadosamente.

— Oh… estou percebendo. Muito hábil.

— No entanto, incomoda — disse Brant.

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