A nave estelar Magalhães ainda se encontrava a apenas algumas horas-luz de distância quando Kumar Lorenson nasceu, mas seu pai ainda dormia, e só iria receber a notícia trezentos anos depois. Ele chorou ao pensar que seu sono sem sonhos tinha abrangido toda a vida de seu primeiro filho. Quando conseguia enfrentar o suplício, ele observava os registros que aguardavam por ele nos bancos de memória. Poderia então ver seu filho crescer até se tornar adulto, e ouvir sua voz enviando saudações através dos séculos. Saudações que jamais poderia responder. E veria também (não havia meio de evitar) o lento envelhecer da mulher há muito morta, que ele tivera em seus braços há apenas uma semana atrás. Seu último adeus lhe chegava de lábios há muito transformados em pó. A tristeza, embora profunda, logo passaria. A luz de um novo sol enchia o céu adiante, logo haveria outro nascimento, num mundo que já arrastava a nave estelar Magalhães para sua órbita final. Um dia toda a dor cessaria, mas nunca a lembrança.
Nota Bibliográfica
A primeira versão deste romance, um conto de 12.500 palavras, foi escrita entre fevereiro e abril de 1957 e posteriormente publicada na Revista IF (EUA) de junho de 1958 e na Science Fantasy (Reino Unido) em junho de 1959. Ela pode ser mais facilmente localizada em minhas antologias da Harcourt Brace, Javanovich, O outro lado do céu (1958) e Do oceano e das estrelas (1962). Em 1979 eu transformei o tema numa curta sinopse de filme, publicada na revista OMNI (v. 3, n.° 12, 1980). Esta sinopse foi publicada em minha antologia ilustrada O sentinela (Byron Preiss/Berkley, 1984), juntamente com uma introdução explicando sua origem e o modo inesperado pelo qual ela levou à criação e filmagem de 2070: Odisséia no espaço II. Este romance, a terceira e ultima versão da história, foi iniciado em maio de 1983 e terminado em junho de 1985.
Agradecimentos
A primeira sugestão de que as energias do vácuo poderiam ser usadas para propulsão parece ter sido feita por Shinichi Seike em 1969. („Veículo espacial elétrico quântico”, 8.° Simpósio sobre Ciência e Tecnologia Espacial em Tóquio.) Dez anos depois, H.D. Froning, da McDonnell Douglas Astronautics, apresentou a idéia na conferência de estudos interestelares da Sociedade Interplanetária Britânica (Londres, setembro de 1969), seguindo-se dois trabalhos: „Exigências propulsivas para um Ramjato interestelar quântico” (JBIS, v. 33, 1980) e „Investigação de um Ramjato quântico para vôo interestelar” (AIAA 81-1534,1981.) Ignorando-se os incontáveis inventores de „propulsões espaciais” não específicas, a primeira pessoa a ter usado a idéia em ficção parece ter sido o Dr. Charles Sheffield, cientista-chefe da Earth Satellite Corporation. Ele discute a base teórica para a propulsão quântica em seu romance As crônicas de McAndrew (revista Analog, 1981, Tor, 1983) chamando-a de „propulsor a energia de vácuo”. Um cálculo reconhecidamente ingênuo de Richard Feynman sugere que cada centímetro de vácuo contém energia bastante para ferver todos os oceanos da Terra. Outra estimativa, por John Wheeler, fornece um valor 79 ordens de grandeza maior.
Quando dois dos maiores físicos do mundo divergem numa pequena questão de 79 zeros, pode-se desculpar um certo ceticismo da parte do resto de nós. Entretanto, é interessante imaginar que o vácuo dentro de uma lâmpada comum contém energia suficiente para destruir a Galáxia, e talvez com um pequeno esforço extra, o Cosmos. No que se espera seja um artigo histórico („Extraindo energia elétrica do vácuo por coesão de condutores laminados”, Revista de Física, v. 30 B, p. 1700–1702, agosto 1984), o Dr. Robert L. Forward, dos Laboratórios de Pesquisa Hughes, demonstrou que pelo menos uma diminuta fração desta energia pode ser aproveitada. Se ela puder ser controlada com finalidades propulsoras por alguém além dos escritores de ficção científica, os problemas referentes meramente à engenharia do vôo interestelar ou mesmo intergaláctico seriam resolvidos. Mas talvez não. Eu sou extremamente grato ao Dr. Alan Bond por sua detalhada análise matemática do escudo necessário para a missão descrita neste romance, e por sugerir que um cone rombudo seria a forma mais vantajosa.
Pode-se revelar que o fator de limitação de altas velocidades em vôos interestelares não seja a energia e sim a ablação da massa do escudo por grãos de areia e sua evaporação por prótons. A história e a teoria do „elevador espacial” podem ser encontradas em meu discurso ao Congresso da Federação Internacional de Astronáutica em Munique, 1979: „O Elevador Espacial: Uma idéia imaginativa ou a chave para o Universo?” (Reimpresso em Avanço da tecnologia espacial nas aplicações voltadas para a Terra, v. 1, n.° 1, 1981, pp. 39–48 e Ascensão à órbita, John Wiley, 1984). Também desenvolvi a idéia no romance As fontes do paraíso (Del Rey, Gollancz, 1978).