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O resto da minha vida, doravante, ser'a escrupulosamente dedicado a esquecer o professor Boro e que ele — impronunci'avel absurdo! — se sentou na cadeira que est'a agora, na realidade de madeira, defronte de mim. Considero doentio esse facto, alucinat'orio talvez, e entrego-me com assiduidade a n~ao me lembrar dele mais. Um japon^es verdadeiro aqui, a falar comigo, a dizer-me coisas que nem mesmo eram falsas ou contradit'orias! N~ao. Ele chama-se Jos'e e 'e de Lisboa. Falo simbolicamente, 'e claro. Porque ele pode chamar-se Macwhisky e ser de Inverness. O que ele n~ao era decerto era japon^es, real, e poss'ivel visitante de Lisboa. Isso nunca. Desse modo n~ao havia ci^encia, se o primeiro ocasional nos viesse negar o que os nossos estudos ass'iduos nos fizeram ver.

Professor Boro, da Universidade de T'oquio? De T'oquio? Universidade de T'oquio? Nada disso existe. Isso 'e uma ilus~ao. Os inferiores e c'abulas de n'os constru'iram, para se n~ao desorientarem, um Jap~ao `a imagem e semelhanca da Europa, desta triste Europa t~ao excessivamente real. Sonhadores! Alucinados!

Basta-me olhar para aquela bandeja, pegar cariciosamente com o olhar naquele servico de ch'a. Depois venham falar-me em Jap~ao existente, em Jap~ao comercial, em Jap~ao guerreiro! N~ao 'e para nada que, atrav'es de esforgos consecutivos, a nossa 'epoca ganhou o duro nome de cient'ifica. Japoneses com vida real, com tr^es dimens~oes, com uma p'atria com paisagens de cores aut^enticas! L'erias para entretenimento do povo, mas que a quem estudou n~ao enganam…

Cr'onica decorativa II

Soube hoje uma coisa que me desgostou — que a P'ersia realmente existe. Eu julgava que a P'ersia era apenas o nome especial que se dava `a beleza de certos tapetes. Agora parece que um explorador moderno afirma a sua exist^encia. Se bem que os exploradores modernos sejam, como em geral todos os homens de ci^encia, suscept'iveis de erro mais que os outros homens, disse-me h'a pouco um jornalista que o facto merece cr'edito. A ser verdade (eu ainda hesito) resta saber que nome se vai dar de hoje em diante aos tapetes persas. E a poesia persa — a prop'osito — que nova denominado vai ter?

Serve-me este assunto de tema para expor certas opini~oes que h'a muito tempo uso sobre o modo extraordinariamente intenso como, de h'a tempo para c'a, a ci^encia grassa e o esp'irito cient'ifico nos ataca. Se daqui a pouco o p'olo sul vai tamb'em desatar a ser real, n~ao sei a que ponto chegaremos. Breve existir'a tudo e n~ao est'a longe o dia, talvez, em que basta sonharmos uma rainha medieval para ela nos entrar, contempor^anea e anatomiz'avel, pela porta dentro, depois de bater `a realidade da campainha e se fazer anunciar pela presenca beiroa da criada.

Afirmou-me um amigo meu, o qual, por culto, me merece um cr'edito dubitante, que lera em livro de Guyau que um Keats brindara coisas m'as para a mem'oria de Newton porque ele fizera qualquer coisa como descobrir leis que tinham que ver com os astros. Se ponho certo vago na minha descric~ao 'e porque n~ao tenho a m'inima ideia do que Newton fez ou descobriu. O facto, agora, 'e o brinde de Keats. Esse brinde cont'em uma intuic~ao justa. A aplicac~ao 'e que 'e p'essima. N~ao fez mal a ningu'em descobrir as leis dos astros. Eles sempre foram vis'iveis. E a sua boa qualidade de serem long'inquos, n~ao lha tirou a descoberta de Newton, fosse ela qual fosse; e, de mais a mais, essa descoberta, sendo matem'atica e portanto totalmente com feic~ao de falsa, fez, do mal inevit'avel, o menos poss'ivel.

Desviei-me um par'agrafo do assunto, para poder ver bem o que me convinha ter sempre pensado dele. Estou agora de posse da ideia de que sempre concordei com a ess^encia do brinde de Keats. 'E necess'ario, pondo o problema no campo pol'itico e social (aqui vem a minha originalidade), estudar como se deve coibir e disciplinar utilmente a acc~ao da investigac~ao, da explorac~ao e da ci^encia em geral.

Que a exist^encia de laborat'orios seja uma mancha sobre a nossa civilizac~ao — ningu'em de ^animo firme o nega, ou tamb'em que as perigosas facilidades dadas ao tr^ansito por t'erras secularmente entregues `a tradicional actividade dos salteadores, e mares donde o car'acter revolucion'ario da civilizac~ao moderna baniu a instituic~ao dos piratas, seja um dos mais licenciosos resultados da Revoluc~ao Francesa e do esp'irito anarquista em geral. Mas, em lugar de se atentar para estas defici^encias de disciplina e de ordem que repugnam tanto ao esp'irito positivo como ao s~ao crit'erio expresso na m'axima de S~ao Tom'as de Aquino — eadem res generatur et conservantur in esse —, o exagerado amor ao sensacionalismo da vida moderna, e a doentia tend^encia para acreditar ~nas informac~oes dos jornais t^em favorecido, sem que algu'em pense em as dever evitar, o desenvolvimento do esp'irito cient'ifico.

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