– Estou contente que o senhor tenha vindo. Foi uma vigília interminável e eu acho que meus nervos já não são tão bons como eram antigamente.
– Seus nervos, Walters? Nunca pensei que você tivesse um nervo sequer no corpo.
– Bem, senhor, é esta solidão, esta casa silenciosa e o negócio esquisito na cozinha. Quando o senhor bateu na janela, pensei que ele tivesse voltado...
– Quem tivesse voltado?
– O demônio, senhor, pelo que sei. Ele estava na janela.
– O que estava na janela, e quando?
– Aconteceu há duas horas, mais ou menos. Eu estava lendo, sentado na cadeira. Não sei o que me fez levantar a cabeça, mas havia uma cara me olhando pela vidraça. E que cara, senhor! De hoje em diante vou vê-la sempre em meus sonhos.
– Ora, Walters, isto não é conversa de um policial.
– Eu sei, senhor, eu sei, mas ela me assustou e não adianta negá-lo. Não era preta nem branca, não era de nenhuma cor que eu conheça, mas uma espécie de barro com leite. E também o tamanho dela – tinha duas vezes o tamanho da sua, inspetor. E o olhar – dois olhos esbugalhados e uns dentes de fera faminta. Vou lhe dizer, senhor, não consegui mexer nem um dedo nem respirar enquanto ela não sumiu. Corri para fora e dei uma busca nas folhagens, mas graças a Deus ela tinha sumido.
– Se eu não soubesse que você é um bom homem, Walters, eu teria que fazer um relatório contra você por causa disso. Se fosse o próprio demônio, um policial não deveria dar graças a Deus por não tê-lo agarrado. Suponho que tudo isso tenha sido um abalo nervoso e não uma visão real...
– Isso tudo, pelo menos, pode ser facilmente verificado – disse Holmes, acendendo sua lanterna de bolso. – Sim – continuou Holmes, depois de examinar a grama – sapato número 45, eu diria. Se o tamanho for proporcional ao pé, com toda a certeza era um gigante.
– O que aconteceu com ele?
– Parece que passou pelos arbustos e pegou a estrada.
– Bem – disse o inspetor, com uma cara séria e pensativa –, quem quer que tenha sido, e o que pretendia, por enquanto sumiu e nós temos coisas mais urgentes para tratar. Sr. Holmes, com sua permissão, vou mostrar-lhe a casa.
Depois de um exame minucioso, os vários quartos e salas não revelaram quase nada. Aparentemente os inquilinos haviam trazido pouca coisa com eles, ou nada, e toda a mobília tinha sido alugada juntamente com a casa. Havia muita roupa deixada ali, com a marca Marx and Co., High Holborn. Já tinham sido feitas perguntas por telegrama, mas Marx nada sabia de seu cliente a não ser que era um bom pagador. Entre a bugiganga deixada havia cachimbos, alguns romances, dois deles em espanhol, um revólver antiquado e um violão.
– Nada nisso tudo – disse Baynes, andando de quarto em quarto, carregando a vela. – Mas agora, sr. Holmes, chamo sua atenção para a cozinha.
Era um aposento na parte de trás da casa, sombrio e de teto alto, com uma padiola de palha num canto, que, aparentemente, servira de cama para o cozinheiro. Na mesa, restos do jantar da noite anterior e pratos sujos.
– Veja isto – disse Baynes. – O que acha?
Aproximou a vela de um objeto estranho que estava no fundo do armário. Era difícil dizer o que tinha sido, de tão enrugado, murcho e seco que estava. Podia-se apenas dizer que era preto e de couro, e que tinha alguma semelhança com uma figura humana anã. No começo, quando o examinei, pensei que era um negrinho mumificado, depois pensei tratar-se de um macaco muito velho e torcido. Finalmente fiquei em dúvida se era animal ou humano. No meio estava enrolada uma fileira de conchas brancas.
– Muito interessante; de fato, muito interessante – disse Holmes, olhando a relíquia sinistra. – Alguma coisa mais?
Baynes, em silêncio, foi até a pia e levantou a vela. Os membros e o corpo de uma ave grande e branca, selvagemente despedaçada, ainda com as penas, ainda estava ali. Holmes apontou para as estacas na cabeça cortada.
– Um galo branco – disse ele. – Interessantíssimo!
– Na verdade, é um caso bem curioso.
Mas o inspetor Baynes tinha deixado seu trunfo mais sinistro para o final. Apanhou um balde com sangue que estava embaixo da pia. Depois pegou na mesa uma bandeja com pequenos pedaços de ossos carbonizados.
– Alguma coisa foi morta e queimada. Tiramos tudo isso da lareira. Um médico esteve aqui esta manhã. Diz que não são humanos.
Holmes sorriu e esfregou as mãos.
– Devo dar-lhe os parabéns pelo modo proveitoso como está conduzindo este caso, inspetor. Sua capacidade, se posso dizer isso sem ofensa, parece superior às suas oportunidades.
Os olhinhos do inspetor Baynes brilharam de satisfação.
– Tem razão, sr. Holmes. Vegeta-se no interior. Um caso como este aqui dá uma oportunidade a gente, e eu espero resolvê-lo. O que acha destes ossos?
– Um cordeiro, eu diria, ou um cabrito.
– E o galo branco?
– Curioso, sr. Baynes, muito curioso. Eu diria mesmo inédito.