– Sim, senhor, nesta casa devia haver gente muito estranha, com costumes bem estranhos. Uma delas está morta. Será que seus companheiros a seguiram e a mataram? Se o fizeram, vamos pegá-los, porque todos os portos estão vigiados. Mas minhas opiniões são diferentes. Sim, senhor, são muito diferentes.
– Então o senhor tem uma teoria?
– E vou trabalhar nela sozinho, sr. Holmes. Devo fazer isso para ganhar prestígio. O senhor tem o nome feito, mas eu ainda tenho que fazer o meu. Ficarei contente em poder dizer no final que eu resolvi o caso sem a sua ajuda.
Holmes, de bom humor, riu.
– Ora, ora, inspetor – ele disse. – Siga o seu caminho que eu seguirei o meu. Meus resultados sempre estarão à sua disposição, se quiser. Acho que já vi tudo o que queria nesta casa e meu tempo pode ser mais bem aproveitado em outro lugar. Au revoir e boa sorte!
Eu podia dizer, diante de vários sinais sutis, que podiam ter passado despercebidos para todos, menos para mim, que Holmes estava numa pista quente. Impassível como sempre para o observador casual, havia, mesmo assim, ansiedade e indicação de tensão em seus olhos brilhantes e no jeito mais vivo, o que me dizia que o jogo estava em andamento. Como era seu hábito, nada disse, e eu, como meu hábito, nada perguntei. Bastava-me participar do jogo e dar minha humilde contribuição para a prisão, sem distrair aquele cérebro concentrado com interrupções desnecessárias. No devido tempo, tudo me seria contado.
Assim, esperei – mas para meu desapontamento crescente, esperei em vão. Os dias estavam passando e meu amigo não fez mais nada. Passou uma manhã na cidade e eu soube por uma referência casual que ele tinha visitado o Museu Britânico. Com exceção desse passeio, ele passava os dias em longas caminhadas, ou conversando com mexeriqueiros da cidade, com os quais fizera amizade.
– Tenho certeza, Watson, de que uma semana no campo fará bem a você – ele disse. – É muito agradável ver os primeiros brotos verdes nascendo nas sebes e os amentilhos nas aveleiras novamente. Com uma pá, um balde e um livro elementar de botânica, pode-se passar dias proveitosos.
Ele mesmo saía com esse material, mas a amostra de plantas que trazia para casa à noite era bem pobre.
Encontrávamos de vez em quando, nos nossos passeios, o inspetor Baynes. Quando cumprimentava meu companheiro, seu rosto se abria em sorrisos e seus olhinhos brilhavam. Falava pouco do caso, mas desse pouco víamos que ele não estava insatisfeito com o rumo dos acontecimentos. Entretanto devo admitir que eu fiquei um pouco surpreso quando, uns cinco dias depois do crime, abri o jornal da manhã e vi, em letras garrafais:
O MISTÉRIO DE OXSHOTT
UMA SOLUÇÃO
PRISÃO DO SUPOSTO ASSASSINO
Holmes pulou da cadeira como se tivesse levado uma ferroada quando li a manchete.
– Meu Deus! – exclamou. – Você quer dizer que Baynes o pegou?
– Parece que sim – eu disse, e li o seguinte relato:
Quando se soube ontem à noite que foi feita uma prisão relacionada com o assassinato de Oxshott, houve grande sensação em Esher e arredores. Como se sabe, o sr. Garcia, da Vila Glicínia, foi encontrado morto em Oxshott Common, com sinais de extrema violência no corpo, e naquela mesma noite seu criado e o cozinheiro desapareceram, o que demonstra a participação deles no crime. Pensava-se, mas não se conseguiu provar, que o cavalheiro morto tivesse objetos de valor na casa, e que o roubo fora o motivo do crime. O inspetor Baynes envidou todos os esforços, já que está encarregado do caso, para localizar o esconderijo dos fugitivos, e ele tem bons motivos para crer que eles não estavam longe e ficaram escondidos em um local previamente preparado. Mas sabia-se desde o começo que eles seriam presos, mais cedo ou mais tarde, já que o cozinheiro, segundo o depoimento de um ou dois fornecedores que o viram pela janela, era um homem de aparência que chamava atenção – um mulato imenso e medonho, com traços acentuados do tipo negróide. Ele foi visto depois do crime, porque foi notado e perseguido pelo policial Walters na mesma noite, quando teve a audácia de retornar à Vila Glicínia. O inspetor Baynes, achando que esse retorno deve ter algum objetivo e que poderia, portanto, voltar a acontecer, saiu da casa, mas deixou uma emboscada no matagal próximo. O homem caiu na armadilha e foi capturado ontem à noite, depois de uma luta na qual o policial Downing foi gravemente ferido por uma dentada do selvagem. Espera-se que uma ordem de prisão seja solicitada pela polícia quando o prisioneiro for levado à justiça, e esperam-se grandes progressos a partir desta prisão.
– Temos de ver Baynes imediatamente – exclamou Holmes, apanhando o chapéu. – Vamos pegá-lo antes que parta.
Saímos correndo pela rua do lugarejo e o encontramos, como supúnhamos, quando ele estava saindo.
– Leu o jornal, sr. Holmes? – perguntou, com um exemplar na mão.
– Sim, Baynes, eu o li. Espero que não se ofenda se eu lhe der uma palavra de advertência.
– De advertência, sr. Holmes?