– Sem problemas – responde, apesar de não poder realmente custear um restaurante destes. Não é o tipo de local a que viríamos se soubéssemos que seria ele a pagar. Mas não há muito que possamos fazer neste momento.
O cartão de crédito do Russell é aceite sem problemas. Algo se passa com os meus cartões. Estaremos a ter algum tipo de problema financeiro de que não estou ciente? As pessoas como nós não têm dívidas de cartões de crédito. Mas a verdade é que não estou a par das finanças. Tenho os meus cartões de crédito e uso-os sem pensar no assunto.
Terei de falar com o Douglas sobre isto esta noite.
55
Liguei várias vezes ao Douglas, mas não atendeu. Enviei-lhe também inúmeras mensagens de texto, a que não respondeu.
Não sei o que se passa. Tentei usar os meus cartões de crédito noutra loja e, mais uma vez, foram rejeitados. Pelo que não era culpa do restaurante.
Liguei para a operadora dos cartões de crédito para tentar chegar ao cerne da questão. E disseram-me algo chocante. Os meus cartões foram cancelados. Todos.
Finalmente, decido ir à nossa casa em Long Island falar com o Douglas. Apesar do nosso deslumbrante apartamento na cidade, cheio de móveis antigos, prefere a casa. Diz que gosta do sossego. Dorme melhor sem as constantes buzinas e sirenes da cidade, e gosta do ar fresco. Mas Long Island é um sítio tão dolorosamente enfadonho. Não há lá absolutamente nada para fazer nem nenhum lugar decente onde fazer compras.
Ao chegar à casa, encontro-a vazia. Percebo que não venho cá há mais de uma semana, apesar de o Douglas dormir aqui quase todas as noites. Suponho que o meu marido e eu nos tenhamos afastado nos últimos tempos. A única altura em que fazemos sexo é uma vez por mês, quando estamos a tentar conceber.
A casa está limpa, ao menos – ao entrar pela porta, quase esperava encontrar caixas de piza sujas e meias usadas penduradas do sofá, porque o Douglas pode ser um pouco desmazelado. A sala de estar parece... acolhedora, suponho que seria a palavra certa.
0 Douglas livrou-se do sofá branco que eu escolhi e substituiu-o por um azul-escuro com almofadas de aspeto maltratado. Sento-me no sofá para esperar que chegue a casa e tenho de admitir que é confortável, apesar de incrivelmente feio.
Só quase às nove horas oiço o som da porta da garagem a abrir. Endireito-me no sofá, decidindo depois levantar-me. Será o tipo de conversa em que é preciso estar de pé. Posso senti-lo.
Passado um minuto, o Douglas entra pelas traseiras. Traz o cabelo mais em desalinho do que o habitual e tem olheiras a rodear-lhe os olhos. A gravata pende-lhe frouxamente em redor do pescoço e, ao ver-me na sala de estar, para bruscamente.
– Cancelaste os meus cartões de crédito – digo-lhe, por entre dentes cerrados.
– Perguntava-me o que seria preciso para te fazer vir aqui.
Achará que isto é algum tipo de piada?
– Estava a tentar almoçar e o meu cartão foi rejeitado. Fiquei sem forma de pagar. Dás-te conta disso?
O Douglas entra na sala de estar, acabando de tirar a gravata.
– O quê? O Russell não tinha o cartão de crédito dele?
Fico boquiaberta.
– Eu...
Atira a gravata para cima do sofá.
– Não compreendo por que estás tão surpreendida. Achas que podes andar por toda a cidade aos amas os com outro fulano e eu não vou descobrir? Achas que podes pagar um quarto de hotel com o meu cartão de crédito sem eu saber? Quão estúpido achas que eu sou?
– Eu... lamento. – Sinto o coração a palpitar. Nunca, jamais, ouvi o Douglas falar desta maneira, mas há uma parte de mim que se alegra por estarmos a ter esta conversa. Estou farta de estar casada com o Douglas Garrick. Ainda bem que estamos a pôr tudo às claras. – Não era minha intenção que acontecesse.
– Oh, por favor. É o melhor que consegues inventar? –Olha-me com repugnância. – E com o marido da Marybeth? Como foste capaz, Wendy? A Marybeth é praticamente família.
Família dele, talvez. Eu nunca gostei da mulher, mesmo antes de começar a dormir com o marido. E agora que sei a companheira inadequada que era para o Russell, detesto-a ainda mais.
– Ela sabe?
Abana a cabeça.
– Não podia fazer-lhe uma coisa dessas. Destrui-la-ia –resfolega. – Não que tu te importasses com isso.
– Não é como se tivéssemos o casamento perfeito, Douglas – saliento. – Sabes isso tão bem como eu.
O meu comentário tira-lhe parte do espírito combativo. Os seus olhos castanhos suavizam-se. No fundo, o meu marido é um pouco lorpa. Foi por isso que casei com ele em primeiro lugar. Sabia que me daria tudo o que eu quisesse.
– Acho que devíamos fazer terapia de casal – diz. – Encontrei um terapeuta altamente recomendado. Sei que estou ocupado, mas arranjarei tempo para isto. Para nós.
Imagino-me sentada com o Douglas no gabinete de um terapeuta, a discutir a nossa miríade de problemas, que se resumem a querermos coisas completamente diferentes da vida.
– Não sei...