Tinham passado a manhã inteira cantando no septo, desde que a primeira notícia de velas inimigas havia chegado ao castelo. O som de suas vozes combinava-se com os relinchos dos cavalos, o tinir do aço e os gemidos das dobradiças dos grandes portões de bronze, para criar uma música estranha e assustadora.
Sor Meryn Trant segurava o sanguíneo baio para Joffrey montar. Tanto o cavalo como o rapaz usavam malha dourada e armadura esmaltada carmesim, com leões dourados condizentes nas cabeças. A pálida luz do sol relampejava nos dourados e vermelhos sempre que Joff se mexia.
O Duende estava montado num garanhão vermelho, armado de modo mais simples do que o rei, num equipamento de batalha que fazia com que parecesse um garotinho vestido com a roupa do pai. Mas nada havia de infantil no machado de batalha preso sob o escudo. Sor Mandon Moore seguia a seu lado, com aço branco brilhante como gelo. Quando Tyrion a viu, virou o cavalo na sua direção.
– Senhora Sansa – chamou de cima da sela –, certamente minha irmã lhe pediu para se juntar às outras senhoras de elevado nascimento em Maegor?
– Pediu, senhor, mas Rei Joffrey mandou me chamar para me despedir dele. Também pretendo visitar o septo, para rezar.
– Não perguntarei por quem – a boca dele torceu-se de forma estranha; se aquilo era um sorriso, era o mais estranho que já vira. – Este dia pode mudar tudo. Quer para você quer para a Casa Lannister. Devia tê-la mandado embora com Tommen, agora penso nisso. Mesmo assim, deverá estar suficientemente segura em Maegor, desde que…
–
– Sua Graça precisa de você – Tyrion Lannister observou. – Voltaremos a conversar depois da batalha, se os deuses o permitirem.
Sansa abriu caminho através de uma fileira de lanceiros com mantos dourados enquanto Joffrey lhe fazia sinais para que se aproximasse.
– Haverá uma batalha em breve, é o que todos dizem.
– Que os deuses tenham misericórdia por todos nós.
– Meu tio é quem precisará de misericórdia, mas não lhe darei nenhuma – Joffrey puxou a espada. O botão era um rubi esculpido como um coração, incrustado entre as mandíbulas de um leão. Três sulcos estavam profundamente entalhados na lâmina. – Minha nova lâmina, Devoradora de Corações.
Sansa recordou que ele um dia possuíra uma espada chamada Dente de Leão. Arya a tirara dele e a jogara em um rio.
– Está lindamente trabalhada, Vossa Graça.
– Abençoe meu aço com um beijo – abaixou a lâmina até ela. – Vá lá, beije-a.
Nunca tinha soado tanto como um garotinho estúpido. Sansa encostou os lábios no metal, pensando que preferiria beijar tantas espadas quantas fosse preciso a beijar Joffrey. Mas o gesto pareceu agradar-lhe. Embainhou a lâmina com um floreio.
– Vai beijá-la de novo quando eu voltar, e vai saborear o sangue do meu tio.
– Vai liderar seus cavaleiros na batalha? – Sansa perguntou, esperançosa.
– Eu queria, mas meu tio, o Duende, diz que meu tio Stannis nunca atravessará o rio. Mas comandarei as Três Rameiras. Tratarei pessoalmente dos traidores – a perspectiva fazia Joff sorrir. Seus gordos lábios cor-de-rosa faziam-no sempre parecer mal-humorado. Sansa gostava disso antes, mas agora enchia-a de náuseas.
– Dizem que meu irmão Robb vai sempre para o centro das lutas – ela disse, com ousadia. – Embora seja mais velho do que Vossa Graça, com certeza. Um homem-feito.
Aquilo fez Joffrey franzir o cenho:
– Lidarei com seu irmão depois que acabar com o traidor do meu tio. Vou estripá-lo com a Devoradora de Corações, você verá – virou o cavalo e o esporeou na direção do portão. Sor Meryn e Sor Osmund ficaram à sua direita e à esquerda, seguidos pelos homens de manto dourado em filas de quatro. Duende e Sor Mandon Moore fecharam a retaguarda. Os guardas acompanharam sua saída com gritos e vivas. Depois de o último sair, uma súbita quietude abateu-se sobre o pátio, como a calmaria que antecede uma tempestade.
No meio do silêncio, os cantos puxaram-na. Sansa virou-se para o septo. Dois cavalariços seguiram-na, bem como um dos guardas cujo turno tinha terminado. Outros seguiram também, mais atrás.