Sansa nunca tinha visto o septo tão cheio de gente, nem tão brilhantemente iluminado; grandes feixes de luz do sol com as cores do arco-íris derramavam-se através dos cristais nas altas janelas, e velas ardiam por todo o lado, pequenas chamas que cintilavam como estrelas. O altar da Mãe e o do Guerreiro nadavam em luz, mas Ferreiro, Velha, Donzela e Pai tinham também seus adoradores, e até havia algumas chamas dançando por baixo da face meio humana do Estranho… Pois, o que seria Stannis Baratheon se não o Estranho vindo para julgá-los? Sansa visitou cada um dos Sete, na ordem, acendendo uma vela em cada altar, e depois encontrou para si um lugar nos bancos entre uma velha lavadeira encarquilhada e um menino que não devia ser mais velho do que Rickon, vestido com a boa túnica de linho de um filho de cavaleiro. A mão da velha era ossuda e endurecida pelos calos, a do garoto, pequena e suave, mas era bom ter alguém a quem se agarrar. O ar encontrava-se quente e pesado, cheirando a incenso e suor, beijado pelos cristais e brilhante das velas; respirá-lo deixava-a tonta.
Conhecia o hino; a mãe tinha lhe ensinado uma vez, havia muito tempo, em Winterfell. Juntou sua voz às dos outros.
Gentil Mãe, de clemência fonte,
nossos filhos livre da disputa,
pare espadas, pare flechas,
deixe-os ver um melhor dia.
Gentil Mãe, das mulheres força,
ajude nossas filhas nesta luta,
acalme a ira, dome a fúria,
ensine a todos outra via.
Vindas de toda a cidade, milhares de pessoas tinham se amontoado no Grande Septo de Baelor na Colina de Visenya, e estavam também cantando, com vozes que se expandiam pela cidade, atravessavam o rio e subiam ao céu.
Sansa conhecia a maior parte dos hinos, e acompanhou o melhor que pôde aqueles que não conhecia. Cantou com velhos criados grisalhos e jovens esposas ansiosas, com criadas e soldados, cozinheiros e falcoeiros, cavaleiros e tratantes, escudeiros, cozinheiros e amas de leite. Cantou com aqueles que se encontravam dentro das muralhas do castelo e com os de fora, cantou com toda a cidade. Cantou por misericórdia, tanto pelos vivos como pelos mortos, por Bran, Rickon e Robb, pela irmã Arya e pelo irmão bastardo Jon Snow, lá longe na Muralha. Cantou pela mãe e pelo pai, pelo avô, Lorde Hoster, e pelo tio, Edmure Tully, pela amiga Jeyne Poole, pelo velho e bêbado Rei Robert, pela Septã Mordane, por Sor Dontos, Jory Cassel e pelo Meistre Luwin, por todos os bravos cavaleiros e soldados que morreriam hoje, e pelas crianças e as viúvas que por eles chorariam, e, por fim, ao terminar, até cantou por Tyrion, o Duende, e pelo Cão de Caça.
Mas, quando o septão subiu bem alto e evocou os deuses para defenderem e protegerem seu legítimo e nobre rei, Sansa ficou em pé. As naves laterais estavam repletas de gente. Teve de abrir caminho aos empurrões enquanto o septão apelava ao Ferreiro para dar força à espada e ao escudo de Joffrey, ao Guerreiro para lhe dar coragem, ao Pai para defendê-lo naquela emergência.
Alguns guardas patrulhavam as ameias da guarita, mas, fora isso, o castelo parecia vazio. Sansa parou e escutou. A grande distância, conseguia ouvir os sons da batalha. As cantorias quase os afogavam, mas eles estavam lá caso se tivesse ouvidos para ouvir: o profundo gemido das trompas de guerra, os rangidos e estrondos abafados das catapultas arremessando pedras, as pancadas na água e os sons de coisas que se estilhaçavam, o crepitar de piche em chamas, e o
Era outro tipo de canção, uma canção terrível. Sansa puxou o capuz de seu manto sobre as orelhas, e apressou-se na direção da Fortaleza de Maegor, o castelo dentro do castelo onde a rainha garantira que todos estariam a salvo. Ao chegar à ponte levadiça encontrou a Senhora Tanda e as duas filhas. Falyse chegara do Castelo Stokeworth no dia anterior com um pequeno contingente de soldados. Estava tentando convencer a irmã a entrar na ponte, mas Lollys agarrava-se à aia, soluçando:
– Eu não quero ir, não quero ir, não quero ir.
– A batalha
– Não quero ir, não quero ir.
Sansa não tinha nenhuma forma de evitá-las. Saudou-as com cortesia.
– Posso ajudar?
A Senhora Tanda corou de vergonha.
– Não, minha senhora, mas agradecemos a simpatia. Deve perdoar a minha filha, ela não tem estado bem.