Читаем A Fúria dos Reis полностью

Várias crianças choravam. Eles sentem o cheiro do medo. Sansa viu-se sozinha no estrado. Deveria ficar ali, ou seria melhor correr atrás da rainha e suplicar pela sua vida?

Não saberia dizer por que motivo se levantou, mas foi o que fez.

– Não tenham medo – disse-lhes em voz alta. – A rainha içou a ponte levadiça. Este é o local mais seguro da cidade. Tem as paredes espessas, o fosso, os espigões…

– O que aconteceu? – quis saber uma mulher que Sansa conhecia vagamente, esposa de um fidalgo menor. – O que foi que Osney disse? O rei está ferido, a cidade caiu?

Conte-nos – alguém gritou. Uma mulher perguntou pelo pai e outra, pelo filho.

Sansa ergueu as mãos, pedindo silêncio.

– Joffrey voltou para o castelo. Não está ferido. Ainda estão lutando, é tudo o que sei, estão lutando com bravura. A rainha retornará em breve – a última parte era mentira, mas tinha de acalmá-los. Reparou nos bobos em pé sob a galeria. – Rapaz Lua, faça-nos rir.

O Rapaz Lua fez uma pirueta e rodopiou para cima de uma mesa. Agarrou quatro taças de vinho e começou a fazer malabarismos com elas. De vez em quando, uma caía e acertava sua cabeça. Algumas risadas nervosas ressoaram no salão. Sansa foi até Sor Lancel e se ajoelhou ao seu lado. O ferimento voltara a sangrar no local em que a rainha tinha acertado.

– Loucura – ele arquejou. – Deuses, o Duende tinha razão, tinha razão…

– Ajudem-no – ordenou Sansa a dois dos criados. Um deles limitou-se a olhá-la e fugiu, com o jarro de vinho e tudo. Outros criados também saíam do salão, mas ela não podia impedi-lo. Juntos, Sansa e um criado puseram o cavaleiro ferido em pé. – Leve-o ao Meistre Frenken – Lancel era um deles, mas de algum modo ainda não conseguia desejar que morresse. Sou branda, fraca e burra, tal como Joffrey diz. Devia estar matando-o, não ajudando.

A luz dos archotes começou a diminuir de intensidade, e um ou dois se apagaram. Ninguém se preocupou em substituí-los. Cersei não retornou. Sor Dontos subiu ao estrado enquanto todos os olhos estavam postos no outro bobo.

– Volte para o seu quarto, doce Jonquil – sussurrou. – Tranque-se, ficará mais segura lá. Eu irei encontrá-la depois que a batalha terminar.

Alguém irá me encontrar, pensou Sansa, mas será você, ou Sor Ilyn? Por um momento de loucura pensou em suplicar a Dontos que a defendesse. Ele também tinha sido cavaleiro, treinado com a espada e com juramento prestado de defender os fracos. Não. Ele não tem nem a coragem nem a perícia necessárias. Só o estaria matando também.

Precisou de todas as suas forças para sair lentamente do Salão de Baile da Rainha, quando, na verdade, queria correr. Ao chegar aos degraus, realmente correu, para cima e em círculos, até ficar sem fôlego e tonta. Um dos guardas esbarrou nela na escada. Uma taça de vinho cravejada de pedras preciosas e um par de candelabros de prata derramaram-se do manto carmesim em que ele os embrulhara e caíram com estrondo pelos degraus. O homem correu atrás dos objetos, deixando de prestar atenção em Sansa assim que concluiu que ela não tentaria roubar seu saque.

O quarto estava negro como breu. Sansa trancou a porta e dirigiu-se, tateando, até a janela. Quando puxou as cortinas para trás, ficou com a respiração presa na garganta.

O céu meridional estava num turbilhão de cores incandescentes e em constante transformação, reflexo dos grandes incêndios que ardiam embaixo. Sinistras marés verdes moviam-se contra as nuvens mais baixas, e lagoas de luz laranja espalhavam-se pelo céu. Os vermelhos e amarelos das chamas comuns guerreavam contra os esmeraldas e jades do fogovivo, com cada cor relampejando e logo perdendo força, gerando exércitos de sombras de breve existência, que morriam um instante mais tarde. Alvoradas verdes davam lugar a crepúsculos laranjas em meio segundo. O próprio ar cheirava a queimado, como uma caldeira de sopa às vezes cheirava quando era deixada tempo demais ao fogo e toda a sopa evaporava. Fagulhas pairavam no ar noturno como enxames de vaga-lumes.

Sansa afastou-se da janela, retirando-se para a segurança de sua cama. Vou dormir, disse a si mesma, e quando acordar será um novo dia, e o céu estará de novo azul. A batalha estará acabada e alguém me dirá se vou viver ou morrer.

– Lady – lamuriou-se em voz baixa, perguntando-se se voltaria a encontrar sua loba quando morresse.

Então, algo se agitou atrás dela, e uma mão saiu da escuridão e agarrou seu pulso.

Sansa abriu a boca para gritar, mas outra mão prendeu seu rosto, asfixiando-a. Os dedos eram ásperos e cheios de calos, e estavam pegajosos de sangue.

– Passarinho. Sabia que você viria – a voz era um ruído bêbado.

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