Várias crianças choravam.
Não saberia dizer por que motivo se levantou, mas foi o que fez.
– Não tenham medo – disse-lhes em voz alta. – A rainha içou a ponte levadiça. Este é o local mais seguro da cidade. Tem as paredes espessas, o fosso, os espigões…
– O que aconteceu? – quis saber uma mulher que Sansa conhecia vagamente, esposa de um fidalgo menor. – O que foi que Osney disse? O rei está ferido, a cidade caiu?
–
Sansa ergueu as mãos, pedindo silêncio.
– Joffrey voltou para o castelo. Não está ferido. Ainda estão lutando, é tudo o que sei, estão lutando com bravura. A rainha retornará em breve – a última parte era mentira, mas tinha de acalmá-los. Reparou nos bobos em pé sob a galeria. – Rapaz Lua, faça-nos rir.
O Rapaz Lua fez uma pirueta e rodopiou para cima de uma mesa. Agarrou quatro taças de vinho e começou a fazer malabarismos com elas. De vez em quando, uma caía e acertava sua cabeça. Algumas risadas nervosas ressoaram no salão. Sansa foi até Sor Lancel e se ajoelhou ao seu lado. O ferimento voltara a sangrar no local em que a rainha tinha acertado.
– Loucura – ele arquejou. – Deuses, o Duende tinha razão, tinha razão…
– Ajudem-no – ordenou Sansa a dois dos criados. Um deles limitou-se a olhá-la e fugiu, com o jarro de vinho e tudo. Outros criados também saíam do salão, mas ela não podia impedi-lo. Juntos, Sansa e um criado puseram o cavaleiro ferido em pé. – Leve-o ao Meistre Frenken – Lancel era um
A luz dos archotes começou a diminuir de intensidade, e um ou dois se apagaram. Ninguém se preocupou em substituí-los. Cersei não retornou. Sor Dontos subiu ao estrado enquanto todos os olhos estavam postos no outro bobo.
– Volte para o seu quarto, doce Jonquil – sussurrou. – Tranque-se, ficará mais segura lá. Eu irei encontrá-la depois que a batalha terminar.
Precisou de todas as suas forças para sair lentamente do Salão de Baile da Rainha, quando, na verdade, queria correr. Ao chegar aos degraus,
O quarto estava negro como breu. Sansa trancou a porta e dirigiu-se, tateando, até a janela. Quando puxou as cortinas para trás, ficou com a respiração presa na garganta.
O céu meridional estava num turbilhão de cores incandescentes e em constante transformação, reflexo dos grandes incêndios que ardiam embaixo. Sinistras marés verdes moviam-se contra as nuvens mais baixas, e lagoas de luz laranja espalhavam-se pelo céu. Os vermelhos e amarelos das chamas comuns guerreavam contra os esmeraldas e jades do fogovivo, com cada cor relampejando e logo perdendo força, gerando exércitos de sombras de breve existência, que morriam um instante mais tarde. Alvoradas verdes davam lugar a crepúsculos laranjas em meio segundo. O próprio ar cheirava a
Sansa afastou-se da janela, retirando-se para a segurança de sua cama.
– Lady – lamuriou-se em voz baixa, perguntando-se se voltaria a encontrar sua loba quando morresse.
Então, algo se agitou atrás dela, e uma mão saiu da escuridão e agarrou seu pulso.
Sansa abriu a boca para gritar, mas outra mão prendeu seu rosto, asfixiando-a. Os dedos eram ásperos e cheios de calos, e estavam pegajosos de sangue.
– Passarinho. Sabia que você viria – a voz era um ruído bêbado.