– Para que preciso de latão baço quando Xaro Xhoan Daxos me alimenta de pratos de ouro? – ao virar-se para se afastar, Dany deixou que seu olhar passasse sobre os estranhos. O mulato era quase tão gordo quanto parecera na bandeja, com uma cintilante cabeça calva e o rosto liso de um eunuco. Trazia um longo
O outro homem usava um manto de viajante feito de lã crua, com o capuz atirado para trás. Longos cabelos brancos caíam sobre seus ombros, e uma barba branca e sedosa cobria a metade inferior do seu rosto. Apoiava o peso num bastão de madeira dura tão alto quanto ele.
– O velho não usa espada – disse a Jorah no Idioma Comum enquanto o afastava da banca.
O vendedor de latão veio aos saltos atrás deles.
– Cinco honras, por cinco é sua, estava destinada à senhora.
Sor Jorah disse:
– Um bastão de madeira rija pode quebrar um crânio tão bem como qualquer maça.
– Quatro! Eu sei que a quer! – o homem dançou na frente deles, dando corridinhas para trás enquanto enfiava a bandeja no rosto deles.
– Seguem-nos?
– Levante isso um pouco mais – disse o cavaleiro ao mercador. – Sim. O velho finge ver a mercadoria da banca de um oleiro, mas o mulato só tem olhos para a senhora.
– Duas honras! Duas! Duas! – o mercador arquejava pesadamente com o esforço de correr para trás.
– Pague-lhe antes que se mate – disse Dany a Sor Jorah, perguntando a si mesma o que ia fazer com uma enorme bandeja de latão. Virou-se para trás enquanto ele procurava as moedas, pretendendo pôr fim àquela farsa. O sangue do dragão não seria pastoreado através da feira por um velho e um eunuco gordo.
Um qarteno entrou em seu caminho:
– Mãe de Dragões, para você – ajoelhou-se e apresentou-lhe uma caixa de joias.
Dany aceitou-a quase por reflexo. A caixa era de madeira entalhada, com tampa de madrepérola embutida de jaspe e calcedônia.
– É muito gentil – abriu-a. Lá dentro encontrava-se um cintilante escaravelho verde esculpido em ônix e esmeralda.
– Lamento tanto – mas ela quase não o ouviu.
O escaravelho desenrolou-se com um silvo.
Dany viu de relance uma maligna cara negra, quase humana, e uma cauda arqueada pingando veneno… E então a caixa voou de suas mãos, feita em pedaços, rodopiando. Uma dor súbita fê-la torcer os dedos. Enquanto gritava e agarrava a mão, o mercador de latão soltou um guincho, uma mulher gritou, e de súbito os qartenos gritavam e empurravam-se uns aos outros. Sor Jorah passou por ela, dando-lhe um encontrão, e Dany caiu sobre um joelho, voltando a ouvir o silvo. O velho espetou o bastão no chão, Aggo chegou a cavalo pelo meio da banca de um vendedor de ovos e saltou da sela, o chicote de Jhogo estalou por cima de sua cabeça, Sor Jorah atingiu o eunuco na cabeça com a bandeja de latão, marinheiros, prostitutas e mercadores estavam fugindo, gritando ou fazendo ambas as coisas…
– Vossa Graça, mil perdões – o velho se ajoelhou. – Está morto. Quebrei sua mão?
Ela fechou os dedos, tremendo:
– Parece que não.
– Tive de atirá-lo para longe – começou o homem, mas os companheiros de sangue de Dany caíram sobre ele antes de poder terminar. Aggo chutou seu bastão para longe e Jhogo agarrou-o pelos ombros, forçou-o a se ajoelhar e picou sua garganta com um punhal.
–
– Soltem-no – Dany ficou em pé. – Olhem para a ponta de seu bastão, sangue do meu sangue – Sor Jorah tinha sido atirado ao chão pelo eunuco. Ela pôs-se entre eles quando o
– Vossa Graça? – Mormont baixou a espada não mais do que dois centímetros. – Estes homens atacaram-na.
– Estavam me defendendo – Dany bateu com a mão para sacudir a dor dos dedos. – Foi o outro, o qarteno – quando olhou em volta, o homem tinha desaparecido. – Era um Homem Pesaroso. Havia uma manticora naquela caixa de joias que ele me deu. Este homem arrancou-a da minha mão – o mercador de latão ainda rolava pelo chão. Dany foi até ele e o ajudou a ficar em pé. – Foi picado?
– Não, minha boa senhora – ele respondeu, tremendo –, caso contrário estaria morto. Mas aquilo tocou-me,