Varys sufocou um riso nervoso. Então, ele sempre soubera.
– Não me havia contado essa parte – Tyrion disse, acusadoramente.
– A sua querida irmã – Varys respondeu, tão desgostoso que parecia perto das lágrimas. – É duro contar isso a um homem, senhor. Tive receio de como receberia a notícia. É capaz de me perdoar?
– Não – Tyrion exclamou. – Maldito seja. Maldita seja
Sabia que não podia tocar em Cersei. Ainda não, nem mesmo se quisesse, e estava longe de ter certeza de querer. Mas irritava-o ficar ali, fazendo uma pantomima de justiça, punindo uns infelizes da laia de Janos Slynt e Allar Deem, enquanto a irmã prosseguia no seu rumo selvagem.
– Da próxima vez, diga-me o que sabe, Lorde Varys.
O sorriso do eunuco era malicioso.
– Isso poderá demorar um tempo bastante longo, meu bom senhor. Sei muita coisa.
– Não o suficiente para salvar esta criança, parece.
– Infelizmente, não. Havia outro bastardo, um rapaz, mais velho. Tomei medidas para afastá-lo e mantê-lo em segurança… Mas, confesso, nunca sonhei que o bebê pudesse correr riscos. Uma menina de baixo nascimento, com menos de um ano de idade, com uma mãe prostituta. Que ameaça poderia representar?
– Era de Robert – disse Tyrion amargamente. – O suficiente para Cersei, ao que parece.
– Sim. É muito triste. Tenho de me culpar pelo pobre doce bebê e por sua mãe, que era tão nova e amava o rei.
– Amava? – Tyrion não chegou a ver o rosto da moça morta, mas na sua imaginação era uma combinação de Shae e Tysha. – Uma prostituta pode realmente amar alguém? Não, não responda. Há coisas que prefiro não saber.
Tinha instalado Shae numa vasta mansão de pedra e madeira, com poço, estábulos e jardim próprios; dera-lhe criados para satisfazer as suas necessidades, um pássaro branco das Ilhas do Verão para lhe fazer companhia, sedas, prata e pedras preciosas para enfeitá-la e guardas para protegê-la. E, no entanto, parecia impaciente. Queria passar mais tempo com ele, tinha dito; queria servi-lo e ajudá-lo. “Ajuda-me mais aqui, entre os lençóis”, disse-lhe uma noite depois do amor, deitado a seu lado, com a cabeça apoiada no seu seio e uma doce dor nas virilhas. Ela não tinha respondido, exceto com os olhos. Foi aí que viu que aquilo não era o que ela queria ter ouvido.
Suspirando, Tyrion fez um movimento para o vinho, mas então lembrou-se de Lorde Janos e afastou o frasco.
– Parece que minha irmã falou a verdade a respeito da morte do Stark. Devemos agradecer ao meu sobrinho por essa loucura.
– Rei Joffrey deu a ordem. Janos Slynt e Sor Ilyn Payne cumpriram-na, rapidamente, sem hesitar…
– … Quase como se já a esperassem. Sim, já percorremos este caminho, e sem chegar a lugar nenhum. Uma tolice.
– Com a Patrulha da Cidade nas mãos, senhor, está bem colocado para se assegurar de que Sua Graça não cometerá mais… tolices? É verdade que ainda é preciso considerar a guarda doméstica da rainha…
– Os homens de manto vermelho? – Tyrion encolheu os ombros. – A lealdade de Vylarr é para com Rochedo Casterly. Ele sabe que estou aqui com a autoridade do meu pai. Cersei teria dificuldade em usar seus homens contra mim… E, além disso, não passam de uma centena. Tenho uma vez e meia esse número de homens meus.
– Achará Sor Jacelyn corajoso, honroso, obediente… E muito grato.
– Gostaria de saber a quem – Tyrion não confiava em Varys, embora não fosse possível negar seu valor. Sabia coisas, sem a menor dúvida. – Por que você é
– És a Mão. Eu sirvo ao reino, ao rei e ao senhor.
– Tal como serviu a Jon Arryn e Eddard Stark?
– Servi a Lorde Arryn e a Lorde Stark o melhor que pude. Fiquei triste e horrorizado pelas suas mortes tão precoces.
– Imagine como
– Ah, penso que não – Varys respondeu, agitando o vinho na sua taça. – O poder é uma coisa curiosa, senhor. Terá, por acaso, pensado no enigma que lhe deixei naquele dia na estalagem?
– Passou pela minha cabeça uma ou duas vezes – Tyrion admitiu. – O rei, o sacerdote, o rico… Quem sobrevive e quem morre? A quem obedecerá o mercenário? É um enigma sem resposta, ou melhor, com muitas respostas. Tudo depende do homem que tem a espada.
– E, no entanto, ele não é ninguém – Varys concluiu. – Não tem uma coroa, nem ouro, nem o favor dos deuses, mas apenas um pedaço de aço afiado.
– Esse pedaço de aço é o poder da vida e da morte.
– Precisamente… E, no entanto, se são realmente os homens de armas que nos governam, por que fingimos que nossos reis têm o poder? Por que um homem forte com uma espada obedeceria a um rei criança como Joffrey, ou a um idiota encharcado em vinho como o pai?
– Porque esses reis crianças e idiotas bêbados podem chamar outros homens fortes, com outras espadas.