– Então são esses outros homens de armas que têm o verdadeiro poder. Ou será que não? De onde vieram as suas espadas? Por que é que
Tyrion inclinou a cabeça para o lado.
– Pretende responder ao seu maldito enigma, ou quer apenas fazer com que a minha dor de cabeça piore?
Varys sorriu.
– Eis, então. O poder reside onde os homens
– Então o poder é um truque de mímica?
– Uma sombra na parede – Varys murmurou. – Mas as sombras podem matar. E, muitas vezes, um homem muito pequeno pode lançar uma sombra muito grande.
Tyrion sorriu.
– Lorde Varys, estou ficando estranhamente seu amigo. Ainda posso acabar matando-o, mas creio que isso me entristeceria.
– Tomarei isso como um grande elogio.
– O que é você, Varys? – Tyrion descobriu que queria mesmo saber. – Uma aranha, segundo dizem?
– Os espiões e informantes raramente são amados, senhor. Não sou mais do que um servidor leal do reino.
– E um eunuco. Não nos esqueçamos disso.
– Raramente me esqueço.
– Também já me chamaram meio homem, mas acho que os deuses foram mais gentis comigo. Sou pequeno, tenho as pernas tortas e as mulheres não me olham com grande desejo… Mas ainda sou um homem. Shae não é a primeira a embelezar minha cama, e um dia poderei vir a ter uma esposa e gerar um filho. Se os deuses forem bons, será parecido com o tio e pensará como o pai. Você não tem uma esperança semelhante para se apoiar. Os anões são uma brincadeira dos deuses… Mas são os homens que fazem eunucos. Quem o cortou, Varys? Quando e por quê? Quem
O sorriso do eunuco nunca vacilou, mas seus olhos cintilaram com algo que não era riso.
– É gentil por perguntar, senhor, mas a história é longa e triste, e há traições que precisamos discutir – ele tirou um pergaminho da manga da sua túnica. – O mestre da Galé Real
Tyrion suspirou.
– Suponho que temos de dar ao homem algum tipo de lição sangrenta.
– Sor Jacelyn poderia fazê-lo desaparecer, mas um julgamento perante o rei ajudaria a assegurar uma continuada lealdade por parte dos outros capitães.
– Será como diz. Encomende para ele uma dose da justiça de Joffrey.
Varys rabiscou um tique no pergaminho.
– Sor Horas e Sor Hobber Redwyne subornaram um guarda para deixá-los sair por uma porta dos fundos daqui a duas noites. Foram feitos preparativos para que embarcassem na galé
– Poderíamos
– Será como deseja – outro tique no pergaminho. – Seu homem, Timett, matou o filho de um vendedor de vinho esta noite, num antro de jogo na Rua da Prata. Acusou-o de trapacear nas pedras.
– É verdade?
– Ah, sem a menor dúvida.
– Então os homens honestos da cidade têm uma dívida de gratidão para com Timett. Vou me assegurar de que receba os agradecimentos do rei.
O eunuco soltou uma pequena gargalhada nervosa e fez outro tique.
– Também temos uma súbita praga de homens santos. Aparentemente, o cometa gerou toda espécie de sacerdotes estranhos, pregadores e profetas. Mendigam nas tavernas e refeitórios e predizem o fim do mundo e a destruição a todos os que param para ouvir.
Tyrion encolheu os ombros:
– Estamos perto do tricentenário do Desembarque de Aegon, imagino que era de esperar. Deixe-os pregar.
– Estão espalhando o medo, senhor.
– Pensei que este fosse o seu trabalho.
Varys cobriu a boca com a mão.
– É muito cruel por dizer isso. Um último assunto. A Senhora Tanda organizou um pequeno jantar ontem à noite. Tenho o menu e a lista de convidados para sua inspeção. Quando o vinho foi servido, Lorde Gyles levantou-se para fazer um brinde ao rei, e Sor Balon Swann foi ouvido comentando: “
Tyrion levantou uma mão:
– Basta. Sor Balon disse uma frase de efeito. Não estou interessado em conversas de mesa traiçoeiras, Lorde Varys.