Amber entra na divisão, com o seu habitual aspeto impecavelmente elegante, num dos seus muitos, muitos, vestidos de marca. Este é estampado em zebra, com um profundo decote em V e mangas a afunilar junto aos seus pulsos esguios. Combinou o vestido com umas botas de zebra a condizer e, embora esteja tão dolorosamente linda como sempre, parte de mim não sabe ao certo se a deva elogiar pelo visual ou caçá-la num safari.
– Aí está! – diz, com um laivo de acusação na voz, como se eu não estivesse exatamente onde devia estar.
– Estou mesmo a acabar – respondo. – Vou só buscar a roupa lavada e...
– Na verdade – interrompe-me Amber –, quero que fique.
Encolho-me por dentro. Faço limpezas para Amber duas vezes por semana, mas também faço outros trabalhos, incluindo tomar conta da sua filha de nove meses, a Olive. Tento ser flexível porque o salário é fantástico, mas ela não é muito boa a pedir com antecedência. Parece que todos os meus trabalhos como ama nesta casa são na base da informação estritamente necessária. E, aparentemente, não preciso de saber nada até cerca de vinte minutos antes de acontecer.
– Tenho uma pedicura – diz, com toda a gravidade com que alguém me poderia informar de que vai para o hospital ser operado ao coração. – Preciso que fique de olho na Olive na minha ausência.
A Olive é uma menina doce. Não me importo minimamente de tomar conta dela – geralmente. Na verdade, há alturas em que de bom grado aproveitaria a oportunidade de ganhar algum dinheiro ao exorbitante preço por hora que Amber me paga, e que me permite manter um teto sobre a minha cabeça e comer algo que não tenha sido pescado de um caixote do lixo. Mas, neste momento, não posso.
– Tenho aulas daqui a uma hora.
– Oh! – Amber franze o sobrolho, voltando depois rapidamente a adotar uma expressão neutra. Da última vez que cá estive, disse-me que tinha lido um artigo sobre como sorrir e franzir o sobrolho são as principais causas de rugas, pelo que tenta manter-se sempre o mais inexpressiva possível. – Não pode faltar? Não têm as palestras gravadas? Ou alguma transcrição que possa pedir?
Não, não têm. Além do mais, já faltei a duas aulas nas duas últimas semanas devido a pedidos de última hora de Amber para tomar conta da bebé. Estou a tentar tirar a minha licenciatura, e preciso de uma nota decente nesta disciplina. E, seja como for, gosto da cadeira. Psicologia Social é divertido e interessante. E uma avaliação positiva é crucial para o meu curso.
– Não lhe pediria – diz Amber –, se não fosse importante.
A sua definição de importante deve divergir da minha. Para mim, «importante» é acabar a faculdade e obter aquele diploma de Serviço Social. Não sei muito bem como pode uma pedicura ser assim tão importante. Quer dizer, ainda estamos no fim do inverno. Quem lhe vai sequer
– Amber – começo a dizer.
Como que seguindo a deixa, um choro agudo emerge da sala de estar. Embora não esteja oficialmente a tomar conta da Olive neste momento, costumo manter-me de olho nela sempre que estou aqui. Amber leva a Olive três vezes por semana a um grupo de brincadeira com as amigas e parece passar o resto do tempo a planear maneiras em como se ver livre dela. Queixou-se a mim que o Sr. Degraw não a deixa contratar uma ama a tempo inteiro porque ela própria não trabalha, daí ir organizando o cuidado da filha através de uma série de amas temporárias – maioritariamente eu. Em todo o caso, a Olive estava no seu parque quando comecei a limpar e fiquei com ela na sala de estar até o aspirador a adormecer.
– Millie – diz vincadamente Amber.
Com um suspiro, pouso a esponja que segurava; nos últimos tempos, parece ter-se fundido com a minha mão. Lavo as mãos no lava-loiça e limpo-as às minhas calças de ganga.
– Já vou, Olive! – grito.
Quando regresso à sala de estar, a Olive conseguiu erguer-se na beira do parque e chora tão desesperadamente que o seu rostinho redondo ficou vermelho-vivo. A Olive é o tipo de bebé que poderíamos ver na capa de uma revista de puericultura.
É tão perfeitamente querubínica e bela, até aos suaves caracóis louros que estão agora colados ao lado esquerdo da sua cabeça devido à sesta. De momento, não parece assim tão querubínica, mas, ao ver-me, ergue imediatamente os braços e os seus soluços diminuem.
Estendo as mãos para o parque e puxo-a para os meus braços. Ela enterra o seu rostinho molhado no meu ombro, e eu já não me sinto tão mal por faltar às aulas, se tiver de ser. Não sei o que se passa, mas, assim que fiz trinta anos, foi como se um interruptor se tivesse ligado dentro de mim, fazendo-me pensar que os bebés são a coisa mais adorável em todo o universo. Adoro passar tempo com a Olive, apesar de não ser a
– Fico-lhe grata, Millie – a Amber está já a vestir o seu casaco e a tirar a sua bolsa
Sim, sim.
– Quando volta?