Читаем As cancoes da Terra distante полностью

— Por que aqui? — perguntou Mirissa, já adivinhando a resposta. Parecia um símbolo apropriado. Os egípcios acreditavam que se suas cerimônias fossem realizadas corretamente os mortos existiriam de novo em algum lugar após a morte. Pura superstição, é claro. No entanto, aqui nós a tornamos real. „Mas não do jeito que eu queria”, pensou Mirissa tristemente. Enquanto olhava para os olhos do rei, negros como a noite, fitando-a através de sua incorruptível máscara de ouro, era difícil acreditar que esta era apenas uma maravilhosa obra de arte e não uma pessoa viva. Não conseguia afastar os olhos daquele olhar calmo, e ao mesmo tempo tão hipnótico, a atravessar os séculos. Uma vez mais ela estendeu a mão e acariciou a face dourada. O metal precioso a fez lembrar-se subitamente de um poema que encontrara no Arquivo do Primeiro Pouso, quando colocara o computador a vasculhar a literatura do passado em busca de palavras de consolo. A maior parte das centenas de versos tinha sido inadequada, mas estes de „Autor desconhecido — (180072100)” eram perfeitamente adequados: Eles levam de volta para o criador os homens criados, Os rapazes que vão morrer em sua glória e nunca serão velhos. Loren esperou pacientemente os pensamentos de Mirissa seguirem o seu curso. Então, introduziu um cartão numa fenda quase invisível ao lado da máscara mortuária e uma porta circular abriu-se silenciosamente. Era estranho encontrar um guarda-roupa cheio de pesadas peles dentro de uma espaçonave, mas Mirissa podia compreender a necessidade delas. A temperatura já tinha descido vários graus e ela tremia com o frio ao qual não estava acostumada. Loren ajudou-a a vestir um termotraje, não sem dificuldade na ausência de gravidade, e eles flutuaram em direção a um círculo de vidro embaçado na parede oposta da pequena câmara. A tampa de cristal girou em direção a eles como o vidro de um relógio se abrindo, e uma descarga de ar gélido, tal como Mirissa nunca imaginara, e muito menos experimentara, os atingiu. Etéreos fios de umidade se condensaram no ar congelante, dançando ao redor deles como fantasmas. Ela olhou para Loren como se estivesse a ponto de dizer: certamente não espera que eu entre aí. Ele a segurou pelo braço, tranqüilizador, e disse: — Não se preocupe, o traje irá protegê-la e depois de alguns minutos você nem notará o frio em seu rosto. Ela achou difícil acreditar, mas ele estava certo. Enquanto o seguia através do alçapão, respirando a princípio cautelosamente, ela se surpreendia ao considerar a experiência nem um pouco desagradável. De fato, era positivamente estimulante, e pela primeira vez podia entender por que pessoas haviam viajado de boa vontade para as regiões polares da Terra. Podia facilmente imaginar-se lá, pessoalmente, já que parecia estar flutuando num universo gelado e branco como à neve. Tudo em volta dela eram favos cintilantes que podiam ser feitos de gelo a formar milhares de células hexagonais. Era quase como um modelo em tamanho reduzido do escudo da Magalhães, exceto que aqui as unidades mediam apenas um metro de largura e eram presas umas às outras por aglomerados de encanamentos e feixes de fios. E ali estavam, dormindo à sua volta, centenas de milhares de colonos, para quem a Terra ainda constituía, na verdade, uma recordação de ontem. „O que sonhariam eles”, ela se perguntou, „a menos da metade da duração de seu sono de quinhentos anos?” Será que o cérebro realmente produziria sonhos nessa terra de ninguém entre a vida e a morte? De acordo com Loren, não, mas quem poderia realmente ter certeza? Mirissa vira vídeos de abelhas alvoroçadas em suas misteriosas tarefas no interior de uma colméia. Sentia-se como uma abelha humana enquanto seguia Loren, mão ante mão, ao longo do gradeado de trilhos que entrecruzavam a face da gigantesca colméia. Estava agora inteiramente à vontade na gravidade zero e não mais consciente do frio penetrante. De fato, mal sentia o próprio corpo e algumas vezes tinha que se convencer de que isto não era um sonho do qual logo despertaria. As células não tinham nomes mas eram todas identificadas por um código alfanumérico. Loren seguiu infalivelmente para a H-354. Ao tocar num botão, um casulo hexagonal de metal e vidro deslizou para fora sobre trilhos telescópicos, para revelar a mulher dormindo em seu interior. Ela não era bonita, embora fosse injusto julgar qualquer mulher sem o glorioso adorno de seus cabelos. A pele era de uma cor que Mirissa nunca vira e sabia que se tornara muito rara na Terra: um preto tão escuro que chegava a ter um tom de azul. E era tão lisa e sem marcas que Mirissa não pôde resistir a uma ponta de inveja. Na sua mente veio a imagem de corpos entrelaçados, ébano e marfim, uma imagem instantânea que sabia que a perseguiria pelos anos a frente. Olhou de novo para o rosto. Mesmo após este descanso de séculos de duração, mostrava determinação e inteligência. „Teríamos sido amigas?”, se perguntou Mirissa. „Duvido. Somos muito parecidas.”

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