Tudo fora arrumado como deveria, tudo providenciado para que a Brock continuasse a operar sem problemas durante sua ausência: a que mercadores dar crédito, a que mercadores negar; amanhã ou no dia seguinte, os representantes de Choshu deveriam chegar para negociar os embarques de armas — um bom negócio para ele próprio usufruir, depois que os Brocks fossem destruídos, e depois, como planejado também, que adquirisse as instalações e o pessoal da companhia aqui... a preços de salvados de incêndio, é claro. Ele riu para si mesmo da piada. Em seguida, a concessão de carvão de Yoshi, que ele soubera que poderia ser transferida da Struan para Seratard, através da companhia comercial do falecido André Poncin, e que talvez ainda estivesse disponível para ofertas. Instruíra seu cambista a apresentar uma oferta, em segredo.
Pereira ficaria no comando. Na noite passada, ao saber por Maureen que o novo escritório de Jamie fora destruído no incêndio, ele planejara designá-lo; mas naquela tarde, para sua surpresa, Jamie agradecera e recusara, dizendo que achava que seria capaz de reiniciar seu próprio negócio.
Jamie seria mais glacê na glacê, pensou Gornt. Mas não importa, Jamie ainda vai assumir por mim, quando tudo for a Rothwell-Gornt. Sentia isso no íntimo.
O sinete de Norbert estava ali, assim como as duas cartas com datas atrasadas para Tess. Seu cinto de dinheiro tinha recursos da Brock, mais do que suficiente para as despesas, em
Agora, faltava Angelique.
— Olá, Edward — disse ela, com um sorriso efusivo.
Era a primeira vez que ela o recebia em seu
— Vinho branco, para variar — disse ela, jovial. —
— Vinho, por favor,
— O mesmo posso dizer a seu respeito, meu amigo. Por favor, sente aqui, ao lado do fogo.
O vestido de luto para a tarde, preto-azulado, era novo, o modelo sedutor, o decote quadrado e pudico. Mas, para o prazer de Gornt — e o dela —, havia um xale de seda multicolorido em torno de seus ombros, o efeito surpreendente, um sopro de primavera naquele dia de janeiro.
— Ah Soh, vinho — disse ela.
Depois que os dois foram servidos, Angelique acrescentou:
— Espere lá fora! Se eu quiser, chamarei!
A criada se retirou, arrastando os pés, e bateu a porta. Gornt comentou, em voz baixa:
— Ela deve estar com o ouvido comprimido na porta.
Angelique riu.
— Para ouvir segredos? Que segredos poderia haver entre nós? A uma viagem segura, Edward! — Ela tomou um gole, largou o copo. — Já arrumou tudo?
— Já, sim. Você está maravilhosa, eu a amo e gostaria de uma resposta ao meu pedido.
Angelique abriu o leque, começou a usá-lo, como deveria ser usado por uma jovem dama de classe, na presença de um homem solteiro de classe — e de duvidosa reputação —, para seduzir, flertar, prometer sem prometer, dar respostas, ou evitá-las, insinuar perguntas que seriam perigosas se formuladas abertamente.
— Eu o admiro muito, Edward.
— Não mais do que eu a admiro. Mas a resposta é sim ou não?
O leque foi fechado. Angelique sorriu, foi abrir uma caixa na cômoda, entregou-lhe um envelope. Endereçado à Sra. Tess Struan.
— Por favor, leia a carta. Estou enviando-a para Hong Kong por intermédio de Hoag, em resposta à carta que ela me escreveu.
A caligrafia de Angelique era impecável: