Sir William deixou a legação, desceu pela rua, a caminho do clube. Vários homens seguiam para lá, de todas as direções. Passando pela Struan, ele olhou para o prédio, sentindo-se grato por estar incólume, assim como o prédio da Brock... um bom presságio, pensou, um dos dois é sem dúvida a Casa Nobre, e a Brock é muito melhor com Gornt do que era com Norbert. Ele notou Angelique em sua janela e acenou. Ela acenou em resposta. Pobre Angelique, eu me pergunto se Henri já a informou sobre André. Depois, ouvindo o tumulto no interior do clube, mesmo a distância, os gritos habituais, as imprecações, o barulho de copos, Sir William suspirou e concentrou sua mente nos problemas da colônia.
Houve silêncio quando ele entrou. O clube estava apinhado, o excesso de pessoas transbordando pela escada. Abriu-se um caminho estreito para a sua passagem, através das fileiras comprimidas e suadas. Sir William encaminhou-se para seu lugar costumeiro, perto do bar, e cumprimentou os outros ministros, Seratard, Erlicher e Zergeyev, que tinha parte do rosto enfaixado, das queimaduras, e um braço na tipóia. Todas as pessoas de alguma importância se encontravam presentes, assim como muitos que não tinham nenhuma importância, inúmeras enfaixadas, vários ossos fraturados, mas todos os rostos corados. Já havia alguns bêbados arriados nos cantos.
— Bom dia. Sinto-me feliz em comunicar que tivemos uma tremenda sorte...
Vaias interromperam-no, soaram gritos:
— Uma ova que tivemos! Estou arruinado!
— Mas o que está querendo dizer, pelo amor de Deus?
— Deixem-no falar!
— Ele está cheio de besteira, não viu...
— Ora, cale essa boca!
Sir William esperou um pouco e depois continuou, num tom mais firme:
— Tivemos realmente muita sorte, apenas a morte de André Poncin foi confirmada... — Um murmúrio audível de pesar, pois seu talento como pianista era muito apreciado. — ...e mais ninguém da comunidade. O Sr. Seratard identificou o corpo e o enterro será amanhã. Infelizmente, perdemos dois soldados e o funeral deles também será amanhã. Ainda há uns poucos desaparecidos na cidade dos bêbados, mas ninguém que conheçamos pelo nome. Nosso exército está intacto, com todas as suas armas, balas e munições. A marinha também está intacta. Tivemos de fato muita sorte e proponho que agradeçamos a Deus por isso.
No silêncio opressivo, ele acrescentou:
— Pedi ao padre que celebrasse um serviço especial ao crepúsculo. Todos estão convidados. Alguma pergunta até aqui?
— E nossas firmas? — gritou Lunkchurch. — Meu prédio pegou fogo!
— É para isso que todos temos seguro contra incêndio, Sr. Lunkchurch. Uma explosão de risos interrompeu-o.
— O que foi?
Heavenly Skye, o agente de seguros de Iocoama, responsável pelo encaminhamento a Hong Kong, onde todas as apólices eram aceitas, explicou:
— Lamento dizer, Sir William, mas a apólice de Barnaby venceu na semana passada e, para poupar algum dinheiro, ele se recusou a renová-la até o primeiro dia do mês.
O resto das palavras foi abafado pelos risos e zombarias.
— Eu lamento ouvir isso. De qualquer forma, pela correspondência que partirá esta noite, para o governador de Hong Kong, estou formalmente declarando a colônia uma área de desastre para todas...
Ele foi outra vez interrompido, por gritos de concordância, pois tal declaração garantia que todas as reivindicações fossem atendidas com a maior rapidez possível.
— ...uma área de desastre para todas as reivindicações legítimas, que devem ser comprovadas, exigindo minha assinatura para se tornarem válidas e...
Outros gritos, agora de protesto, pois ele era conhecido como um homem escrupuloso, ao contrário de certas autoridades do governo em Hong Kong, e o incêndio fora automaticamente considerado por muitos como uma dádiva divina uma oportunidade de engrossar seus estoques. Depois que o silêncio voltou, Sir William disse, em tom mais ameno:
— Não serão admitidas exceções, e quanto mais cedo as reivindicações estiverem em minha mesa, mais depressa serão aprovadas e despachadas...
Iniciou-se êxodo generalizado para a porta e ele berrou, com a voz potente demais para alguém tão magro:
— Ainda não acabei, por Deus! Vamos passar ao próximo assunto. Certas pessoas tolas e desavisadas acreditam que o curso mais sensato é abandonar nossa base aqui. O governo de sua majestade não tem a menor intenção de se retirar. Absolutamente nenhuma!
Argumentos em contrário surgiram aqui e ali, mas Sir William repeliu-os com frieza.
— Próximo assunto. Vocês são obrigados a se ajudarem uns aos outros, como cavalheiros britânicos e...
— E os malditos ianques? — gritou alguém, sob aplausos e vaias, a favor ou contra.
— Eles também! — berrou Sir William, seu humor voltando. — Uns poucos são cavalheiros e muitos mais poderiam se tornar.
Mais risos e ele continuou:
— Portanto, vamos agir como cavalheiros e reconstruir tudo, o mais depressa que pudermos. Isso é importante. Devemos confirmar nossa posição aqui, porque, o último assunto, e o mais sério, há rumores de que o incêndio foi criminoso.