— Oh, Deus, tudo é tão combustível, vai arder como nenhuma outra coisa neste mundo. E se...
Ele parou, frenético de preocupação. A água escorria pelas paredes do túnel. Tyrer recolheu um pouco, para molhar a cabeça. A água fria ajudou.
— Desculpe. Continue, por favor. Um homem mau? Que homem mau?
— Homem mau — repetiu Hiraga, sombrio.
Ele sentia-se desorientado, a mente dividida: experimentava intensa fúria por Takeda ter tomado a iniciativa, destruindo seu refúgio seguro, mas ao mesmo tempo estava feliz com o sucesso das bombas incendiárias. Com o vento sul e a Yoshiwara em chamas, a aldeia fora atingida e também as casas dos
Há cerca de uma hora, ele tentara espiar pelo poço perto da cidade dos bêbados, verificar pessoalmente o que acontecera, mas o calor era intenso demais e tivera de recuar. Talvez os tijolos já tivessem esfriado o bastante para que ele pudesse observar a extensão da devastação ali. Ele se concentrou nessa esperança, sem esquecer que ainda precisava acertar tudo com Tyrer.
O sucesso de sua história dependia em grande parte do fato de Takeda ter sido ou não capturado vivo. Era uma boa aposta que Takeda não permitiria que isso ocorresse, e neste caso sua versão, em grande parte verdadeira, seria lógica.
— Homem mau querer destruir todos
— Conhece esse homem? Hiraga sacudiu a cabeça.
— Um homem de Satsuma,
— Raiko-san?
— Não, Wakiko, outra casa de chá — respondeu Hiraga, inventando um nome. Haviam alcançado a água. — Melhor tirar roupas. Mais seguro.
Despiram-se e vadearam a barreira, com o lampião suspenso acima da superfície. No outro lado, enquanto Tyrer prendia a tanga e vestia o quimono, com alguma dificuldade, Hiraga discorreu sobre o tema de que o
Para Tyrer, era bastante plausível. Outra vez um Satsuma, um dos demônios de Sanjiro. Na entrada do poço, Hiraga apontou para cima.
— Mesmo que outro. Primeiro, eu ver.
Ele entregou o lampião a Tyrer e subiu até o topo, os tijolos ainda quentes. Cauteloso, espiou para fora. A cena o deixou atordoado. Onde antes existia a terra de ninguém, com suas pilhas de lixo, havia agora um terreno plano, que lhe permitia ver claramente até o mar, além do espaço outrora ocupado pela cidade dos bêbados, além do espaço em que no passado se situava a aldeia, a vista se prolongando até a extremidade norte. Muitos prédios
— O que aconteceu, Hiraga-sama?
— Você ir ver. Eu ficar. Você ir agora, amigo. Hiraga não ir, não poder... samurai ainda procurar,
Tyrer viu os olhos castanhos observando-o, aquele homem estranho, que sem dúvida arriscara sua vida para salvá-lo. E o salvara pela segunda vez. O que mais um amigo pode fazer além de arriscar a vida pelo amigo?
— Sem você, sei que eu estaria morto. Devo-lhe uma vida. Agradecer não e suficiente.
Hiraga deu de ombros, sem dizer nada.
— O que vai fazer?
— Por favor?
— Se eu quiser encontrá-lo, fazer um contato com você.
— Eu aqui. Taira-sama, não esquecer, Yoshi pôr preço minha cabeça,
— Não contarei a ninguém. Como posso lhe enviar uma mensagem?
Hiraga pensou a respeito por um momento.
— Hora sol se pôr, vir aqui, falar para baixo. Eu aqui hora sol se pôr. Compreender?
— Sim. — Tyrer estendeu a mão. — Não tenha medo. Não contarei a ninguém e tentarei ajudá-lo.
O aperto de mão de Hiraga foi firme.
— Phillip! Phillip, meu rapaz, graças a Deus que está são e salvo! — O rosto de Sir William iluminou-se de alívio, e ele se adiantou apressado, pondo as mãos nos ombros de Tyrer. — Circularam rumores de que você havia morrido na Yoshiwara. Venha sentar aqui, meu pobre amigo.
Ele ajudou-o a se acomodar na melhor cadeira no escritório, ao lado do fogo.
— Por Deus, você tem uma aparência horrível! O que aconteceu? Mas precisa antes de um drinque! O conhaque já está vindo!