— Posso ficar com isto, Jamie? Obrigado. Convoquei uma reunião para as nove e meia, a fim de discutir o que devemos fazer. Sua opinião seria valiosa.
— Não há muito o que discutir, não é mesmo? Estou liquidado.
— Ao contrário, Jamie, há muito o que discutir. No fundo, tivemos muita sorte. O exército e a marinha... — Sir William desviou os olhos, levantou o chapéu. — Bom dia,
Ela ainda usava as mesmas roupas, mas com o rosto lavado, um sorriso exuberante.
— Bom dia, Sir William. É um prazer vê-lo são e salvo, saber que nada aconteceu com a legação. Bom dia, amor.
O sorriso de Maureen tornou-se ainda mais especial. Abraçou Jamie, fazendo um esforço para não parecer muito ansiosa, resistindo à vontade de beijá-lo, por mais que desejasse... ele estava lindo em suas roupas chamuscadas, o rosto com a barba por fazer, contraído em preocupação, mas nada que uma sopa quente, um uísque e um bom sono não pudessem curar.
Ao vir para cá, ao seu encontro, muitos haviam lhe contado como Jamie se mostrara corajoso durante a noite. Ela passara a maior parte da noite acalmando a Sra. Lunkchurch e a Sra. Swann, seus maridos e outros no armazém da Struan, distribuindo a bebida do demônio, como sua mãe chamava todas as beberagens alcoólicas — embora não na presença de seu pai —, cuidando de queimaduras ou levando feridos a Hoag e Babcott, que haviam instalado um hospital de campanha tão perto quanto possível das piores áreas.
— Você parece muito bem, Jamie, apenas exausto.
— Não mais do que outros.
Sabendo que fora esquecido — e com alguma inveja por isso —, Sir William saudou-os com seu chicote.
— Até mais tarde, Jamie.
Os dois observaram-no se afastar a trote. A proximidade de Maureen era agradável para Jamie. Abruptamente, sua felicidade e apreensão pelo futuro afloraram, ele virou-se, abraçou-a e apertou-a, com toda a intensidade de sua angústia. Maureen fundiu-se nele, feliz, esperou, procurando lhe transmitir sua força.
Depois de algum tempo, Jamie sentiu que se recuperava, a coragem voltou, o senso de integração prevaleceu.
— Deus a abençoe, Maureen. Não posso acreditar, mas você me fez voltar à vida. Deus a abençoe.
Ele se lembrou de Tess, dos cinco mil guinéus que Maureen lhe arrancara, de Maureen dizendo que amanhã as coisas não serão tão ruins assim e sua alegria explodiu.
— Por Deus,
— Não precisa exagerar, meu rapaz — murmurou ela, com um pequeno sorriso, a cabeça encostada na de Jamie, não querendo largá-lo ainda. — Não tive nada a ver com isso.
É tudo obra de Deus, pensou Maureen, sua dádiva especial para as mulheres, assim como sua dádiva para os homens é fazer a mesma coisa pelas mulheres em ocasiões especiais.
— É apenas a vida, Jamie.
Ela usou “vida”, mas poderia também ter dito “amor”, embora não tivesse certeza total de que era mesmo isso.
— Estou orgulhoso de você, menina. Foi maravilhosa ontem à noite.
— Não fiz nada demais. E agora vamos embora. Você precisa tirar um cochilo.
— Não tenho tempo para cochilos. Preciso falar com o
— Um cochilo antes da reunião. Eu o acordarei com uma xícara de chá. Pode usar minha cama. Albert diz que é nosso quarto por tanto tempo quanto quisermos; não deixarei ninguém incomodá-lo.
Sorrindo, apesar da sugestão, ele perguntou:
— O que pretende fazer?
Maureen abraçou-o.
— Ficarei segurando sua mão e contarei uma história até você dormir. Vamos embora.
Tyrer abriu os olhos e descobriu-se no inferno, todos os ossos doendo, cada respiração queimando o peito, os olhos ardendo, a pele em tormento. Na escuridão acre e enfumaçada, podia ver rostos japoneses sem corpo espiando-o, dois deles, as bocas contorcidas em sorrisos cruéis, dando a impressão de que a qualquer momento tornariam a levantar seus forcados e recomeçariam a torturá-lo. Um rosto chegou mais perto. Ele recuou e deixou escapar um grito de dor. Através das brumas ouviu palavras em japonês e depois em inglês:
— Taira-sama, acorde, você seguro!
O nevoeiro que envolvia sua mente se dissipou.
— Nakama?
— Sim. Você salvo.
Agora ele percebeu a luz de um lampião a óleo. Pareciam estar numa caverna e Nakama lhe sorria. Assim como o outro rosto. Saito! O primo de Nakama, o que se interessava por navios... Não, este não é Nakama, este é Hiraga, o assassino!
Tyrer se empertigou abruptamente, caiu para trás, contra a parede do túnel, a dor de cabeça cegando-o por um momento, enquanto tossia e tossia, a bílis e um gosto horrível de fumaça provocando ânsias de vômito. Quando não havia mais nada para subir, depois que passou o espasmo, ele sentiu um copo comprimido contra seus lábios. Bebeu a água gelada, na maior ansiedade, engasgando um pouco.
— Desculpe... — balbuciou ele.
Hiraga tornou a ajeitar a manta em torno de seu quimono de dormir meio queimado.
— Obrigado.