Se aqueles dois eram
Raiko e o servo pararam ao mesmo tempo. Olharam um para o outro e depois, abruptamente, para o céu ao sul. O vento amainara.
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Quarta-feira, 14 de janeiro:
— I
ocoama está acabada, William — disse o general, à primeira claridade da manhã, a voz rouca.Estavam no penhasco, por cima da colônia, Pallidar junto com eles, todos montados. A fumaça ainda subia até ali. O rosto do general estava machucado e sujo, o uniforme rasgado, a pala do quepe chamuscada.
— Achei que era melhor chamá-lo para subir até aqui, de onde pode ter uma vista melhor. Um ato de Deus.
— Eu sabia que fora terrível, mas isto...
As palavras definharam. Sir William estava atordoado. Nenhum deles dormira. Os sinais de fadiga e preocupação estampavam-se em seus rostos, as roupas chamuscadas e sujas, a de Pallidar toda rasgada, em piores condições. Enquanto o sol surgia, podiam contemplar todo o panorama, até Hodogaya, na Tokaidô.
A Yoshiwara não mais existia, nem a aldeia, a maior parte da cidade dos bêbados, mais da metade da colônia, inclusive os estábulos. Ainda não havia um relatório confirmado de baixas, mas circulavam rumores abundantes, todos ruins. Também não havia ainda uma causa confirmada para a catástrofe. Muitos bradavam incêndio criminoso por japoneses, mas que japoneses, e por ordem de quem, ninguém sabia, embora a destruição da Yoshiwara e da aldeia não fosse incomodar nenhum deles, se com isso pudessem alcançar seus objetivos.
— Vai ordenar a evacuação esta manhã?
A cabeça de Sir William doía com mil perguntas e presságios.
— Primeiro, uma inspeção. Obrigado, Thomas. Pallidar, venha comigo. Ele esporeou seu pônei pela encosta abaixo. Parou por um momento diante da legação.
— Alguma novidade, Bertram?
— Não, senhor. Nem nomes ou números confirmados, por enquanto.
— Mande chamar imediatamente o ancião da aldeia, o
— Não falo japonês, Sir William, e Phillip Tyrer não está aqui.
— Pois então trate de encontrá-lo! — berrou Sir William, satisfeito pela oportunidade de descarregar um pouco de sua ansiedade acumulada e a preocupação com Tyrer. Foi recompensado ao ver o jovem empalidecer. — E aprenda logo japonês ou vou despachá-lo para a África, lá aprenderá o que é bom! Quero todos os mercadores seniores reunidos aqui dentro de uma hora... Não, não aqui, no clube é melhor. Vamos ver... São seis e vinte agora. Marque a reunião para as nove e meia e, pelo amor de Deus, comece logo a usar a droga da sua cabeça!
Idiota, pensou Sir William, afastando-se a trote, já se sentindo melhor. Sob o céu clareando, os habitantes de Iocoama começavam a recolher os fragmentos de suas vidas. A princípio, Sir William, escoltado por Pallidar, manteve-se na High Street, cumprimentando a todos, respondendo a perguntas, sempre com a mesma declaração:
— Primeiro, deixem-me dar uma olhada. Convoquei uma reunião no clube as nove e meia. Até lá, já terei uma avaliação melhor da situação.
Mais perto da cidade dos bêbados, o cheiro de prédios queimados piorou. Naquela madrugada, quando o vento amainara, por volta das duas horas, os incêndios haviam se extinguido rapidamente e as chamas deixaram de saltar de uma casa para outra. Só isso salvara a colônia da destruição completa. Todas as legações estavam salvas, assim como o prédio da capitania do porto, dos principais mercadores e seus armazéns, da Struan, Brock, Cooper-Tillman e outras companhias. O prédio de Lunkchurch fora destruído.
O fogo parara pouco antes da Santíssima Trindade, deixando-a intacta. Ele agradeceu a Deus por um milagre tão conveniente. Mais além, a igreja católica perdera a maior parte de suas janelas e telhado, tinha a entrada chamuscada, as vigas ainda fumegavam, dando a impressão de uma boca escancarada com dentes apodrecidos.
— Bom dia. Onde está o padre Leo? — perguntou Sir William a um homem que fazia limpeza no jardim.
— Na sacristia, Sir William. Bom dia, fico satisfeito por ver que está são e salvo, Sir William.
— Obrigado. Lamento por sua igreja. Convoquei uma reunião no clube, às nove e meia. Pode espalhar a notícia? O padre Leo será bem-vindo, é claro.