Gornt ficou contente ao ver um brilho de preocupação nos olhos de Angelique, mas ocultou sua satisfação e assumiu uma expressão mais severa. Não preciso impor condições prévias, pensou ele, divertido: um marido tem direitos inalienáveis, como possuir todos os bens materiais da esposa. Graças a Deus que este mundo pertence aos homens.
— A primeira condição é que você me ame com todo o seu coração e alma.
— Tentarei, Edward, e me esforçarei para ser a melhor esposa que já existiu. — Ela apertou-o. — E que mais?
Gornt percebeu a preocupação latente e soltou uma risada.
— Isso é tudo, exceto que tem de prometer que me deixará ensiná-la a jogar bridge e
Angelique fitou-o nos olhos por um momento, depois se ergueu na ponta dos pés. O beijo sacramentou o acordo e depois ele fez um esforço para relaxar, excitado demais.
— Mal posso esperar, Angelique.
— Eu também.
— Agora, devemos planejar, pois não resta muito tempo. Primeiro, temos de obter a assinatura de Sir William, o mais depressa possível. Minha querida, eu me sinto muito feliz por você ter me aceitado.
Angelique tinha vontade de ronronar.
— E eu me sinto mais feliz do que posso exprimir. Quando você voltar continuaremos aqui ou partiremos para Xangai?
— Iremos para Xangai o mais depressa possível... assim que os Brocks afundarem.
Ele beijou-a no nariz.
— Ah, os Brocks. Tem certeza? Tem certeza em relação eles? Todo o nosso futuro depende disso, não é?
— E de Tess. Tenho certeza. Minhas provas são irrefutáveis e o veneno de Tess será a pá de cal na ruína deles — ela deve ter compreendido isso também ou nunca teria feito essa oferta tão mesquinha; mesmo assim, precisamos ter cuidado, independente do que sejamos em particular, o que é uma situação diferente, pelo prazo de seis meses — precisarei de todo esse tempo para levá-la a Xangai, sua reputação imaculada, a Rothwell-Gornt consolidada, suas finanças definidas... devemos agir apenas como bons amigos. Eu adoro você.
Como resposta, Angelique tornou a apertá-lo e depois murmurou:
— Os americanos têm o costume de fazer um contrato de casamento?
— Não, mas o faremos, se você quiser. — Gornt percebeu o sorriso que encobria e prometia. — Não é necessário, não é mesmo? Estamos interligados, nosso futuro é comum, somos uma única entidade mesmo agora. O sucesso depende de nosso desempenho conjunto e da minha atuação. Nunca se esqueça de que Tess é muito hábil e astuta, não será enganada com facilidade e considera que um acordo é um acordo. Mesmo assim, prometo que você conseguirá o que quer.
Tem toda razão, vou conseguir, pensou Angelique.
Chocado, Sir William largou a última página escrita por André na mesa do lado. Era tudo em francês, com a letra de André.
— Por Deus! — murmurou ele, mudando de posição em sua poltrona velha puída, mas confortável.
A sala era agradável, um fogo crepitava alegre na lareira, as cortinas fechadas contra as aragens.
Ele levantou, sentindo-se muito velho, serviu-se de um drinque, ficou olhando para os papéis, incrédulo. Tornou a sentar, folheou-os. Aparte final da carta do pai de Angelique, reconstituída de forma meticulosa, sugeria sem qualquer dúvida um esquema calculado para seduzir Malcolm Struan, outras páginas fixavam datas e detalhes do estupro pelo assassino