Na legação francesa, Angelique retiniu corpos, tomou um gole de champanhe, cautelosa, o copo ordinário, jamais à altura da bebida que continha.
— Concordo,
Pierre Vervene era o
— O primeiro brinde exige um segundo,
— Ora,
— Claro, claro.
O tom de Vervene era tranqüilizador, mas ele já elaborara mentalmente o despacho que enviaria para Seratard, a bordo da nave capitânia em Iedo, no momento em que Angelique se retirasse. Era evidente que havia inúmeros desdobramentos e oportunidades políticas que tal ligação criaria para a França e os interesses franceses. Por Deus, pensava ele, se formos bastante espertos, e nós somos, podemos controlar a Casa Nobre através dessa jovem imprudente, sem nada para recomendá-la além de um rostinho bonito, seios apetitosos, um hímen maduro, e nádegas que prometem a seu marido um vigor devasso por um ou dois meses. Como ela conseguiu atraí-lo... se é mesmo verdade o que diz. Se é...
— Meus mais sinceros parabéns,
A porta foi aberta nesse instante, e o moço número um da legação entrou, carregado de correspondência, um chinês rotundo e idoso, vestindo uma túnica de linho, calça preta e solidéu preto.
— Aqui está, senhor, toda a correspondência, nunca importa!
Ele largou as cartas e pacotes na mesa, lançou um olhar de espanto para a moça e arrotou ao se retirar.
— Por Deus, essa gente tem péssimas maneiras e leva qualquer um à loucura! Já disse mil vezes a esse cretino para bater primeiro! Peço que me dê licença por um instante.
Vervene examinou as cartas rapidamente. Duas da esposa, uma da amante, todas remetidas dois meses e meio antes: as duas me pedem dinheiro, sou capaz de apostar, pensou ele, amargurado.
— Ah, quatro cartas para
— Oh, obrigada!
Angelique animou-se ao verificar que duas eram de Colette, uma da tia e a última do pai.
— Estamos tão longe de casa, não é?
— Paris é o mundo, com toda certeza. Bom, imagino que deseja alguma privacidade. Pode usar a sala no outro lado. E agora, se me dá licença... — Vervene apontou para a mesa cheia de papéis, com um sorriso depreciativo. — negócios de Estado.
— Claro, claro. E agradeço por seus votos de felicidade, mas não diga nada, por favor...
Ela se retirou, graciosa, sabendo que dentro de poucas horas seu maravilhoso segredo seria do conhecimento comum, sussurrado em cada ouvido. Seria sensato? Acho que sim; afinal, Malcolm não me pediu em casamento?
Vervene abriu suas cartas, passou os olhos depressa, constatou que as duas mulheres pediam mesmo dinheiro, mas não transmitiam outra má notícia, deixou-as de lado, para ler e desfrutar mais tarde, e iniciou o despacho para Seratard — com uma cópia secreta para André Poncin —, satisfeito por ser o portador de tão boas novas.
— Espere um pouco — murmurou para si mesmo. — Talvez seja aquela história de tal pai, tal filha, e tudo não passe de exagero. É mais seguro relatar como há poucos minutos
No outro lado do corredor, numa ante-sala agradável, que dava para o pequeno jardim junto a High Street, Angelique se acomodou, na maior expectativa. A primeira carta de Colette dava notícias felizes sobre Paris, a moda, os acontecimentos e amigos mútuos, de uma maneira tão deliciosa que ela leu num instante, sabendo que releria muitas vezes, em particular à noite, no conforto de sua cama, quando poderia saborear melhor cada detalhe. Conhecera e amara Colette durante a maior parte de sua vida; no convento, haviam sido inseparáveis, partilhando esperanças, sonhos e intimidades.
A segunda carta continha notícias mais espetaculares, concluindo com o casamento de Colette, que era da sua idade, dezoito anos, e já tinha um marido e um filho: