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O perigoso é focalizar esta dor, dar- lhe um nome de pessoa, mantê-la sempre presente no pensamento; e disso, graças a Deus, Maria já conseguira se livrar. Mesmo assim, às vezes descobria-se pensando em onde estaria ele, por que não a procurava, se a havia achado estúpida com aquela história de estação de trem e desejo reprimido, se fugira para sempre porque ela confessara seu amor. Para evitar que sentimentos tão belos se transformassem em sofrimento, ela desenvolveu um método: quando algo de positivo ligado a Ralf Hart viesse à sua mente - e isso podia ser a lareira e o vinho, uma idéia que gostaria de discutir com ele, ou simplesmente a ansiedade gostosa de saber quando voltaria -, Maria parava o que estava fazendo, sorria para o céu e agradecia por estar viva e não esperar nada do homem que amava. Entretanto, se o seu coração começasse a reclamar da ausência, ou das coisas erradas que dissera quando estavam juntos, ela dizia para si mesma: "Ah, você quer pensar nisso? Então tudo bem; co ntinue fazendo o que deseja, enquanto eu me dedico a coisas mais importantes."


Continuava a ler, ou, se estivesse na rua, começava a prestar atenção a tudo que estava a sua volta: cores, pessoas, sons, principalmente sons -dos seus passos, das páginas que se viravam, dos carros, dos fragmentos de conversas, e o pensamento incômodo terminava por desaparecer. Se voltasse cinco minutos depois, ela repetia o processo, até que estas lembranças, ao serem aceitas mas gentilmente rejeitadas, se afastassem por um tempo considerável.


Um destes "pensamentos negativos" era a possibilidade de não tornar a vê-lo. Com um pouco de prática e muita paciência, ela conseguiu transformá- lo em um "pensamento positivo": quando partisse, Genève seria um rosto de homem com cabelos muito grandes e fora de moda, sorriso infantil, voz grave. Se alguém lhe perguntasse, muitos anos depois, como era o lugar que conhecera em sua juventude, ela poderia responder: "Bonito, capaz de amar e ser amado."


Do diário de Maria, em um dia de pouco movimento no Copacabana: De tanto conviver com as pessoas que vêm aqui; chego à conclusão de que o sexo tem sido utilizado como qualquer outra droga: para fugir à realidade, para esquecer dos problemas, para relaxar. E, como todas as drogas, é uma prática nociva e destruidora. Se uma pessoa quer se drogar, seja com sexo ou com qualquer coisa, isso é problema dela; as conseqüências de seus atos serão melhores ou piores de acordo com aquilo que ela escolheu para si mesma. Mas se falamos em avançar na vida, temos que entender que o que é "bonzinho" é bem diferente do que é "melhor". Ao contrário do que os meus clientes pensam, o sexo não pode ser praticado a qualquer hora. Há um


relógio escondido em cada um de nós, e para fazer amor os ponteiros de ambas as pessoas têm que estar marcando a mesma hora ao mesmo tempo. Isso não acontece todos os dias. Quem ama não depende do ato sexual para sentir-se bem. Duas pessoas que estão juntas, e se querem bem, precisam acertar seus ponteiros, com paciência e perseverança,

com jogos e representações "teatrais", até entender que fazer amor é muito mais que um


encontro; é um "abraço" das partes genitais. Tudo tem importância. Uma pessoa que vive intensamente sua vida goza o tempo todo e não sente a falta de sexo. Quando ela faz sexo, é por abundância, porque o copo de vinho está tão cheio que transborda naturalmente, porque é absolutamente inevitável, porque ela aceita o apelo da vida, porque neste momento, apenas neste momento, ela consegue perder o controle.


PS. - Acabo de reler o que escrevi: meu Deus do céu, estou ficando intelectual demais!!!


Pouco depois de ter escrito isso, e quando se preparava para viver mais uma noite de Mãe Compreensiva ou Menina Ingênua, a porta do Copacabana abriu-se e entrou Terence, o executivo da gravadora de discos, um dos clientes especiais. Milan pareceu satisfeito por trás do bar: a menina não o havia decepcionado. Maria lembrou na mesma hora das palavras que diziam tantas coisas, e ao mesmo tempo não diziam nada: "Dor, sofrimento, e muito praze r." - Vim de Londres especialmente para vê -Ia. Pensei muito em você. Ela sorriu, tentando fazer com que seu sorriso não fosse um encorajamento. Mais uma vez ele não seguiu o ritual, não a convidou para nada - apenas sentou-se. - Quando se faz uma pessoa descobrir qualquer coisa, o professor também termina descobrindo algo novo.


- Sei do que está falando - respondeu Maria, lembrando-se de Ralf Hart, e irritando-se com sua própria lembrança. Estava diante de outro cliente, precisava respeitá- lo e fazer o possível para deixá-lo contente.


- Quer ir adiante?


Mil francos. Um universo escondido. Um patrão que a olhava. A certeza de que poderia parar quando quisesse. A data marcada para a volta ao Brasil. Um outro homem, que não aparecia nunca.

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