Читаем Onze minutos полностью

- Você está com pressa? - perguntou Maria. Ele disse que não. O que ela queria?


- Quero o meu drink, a minha dança, o respeito pela minha profissão. Ele hesitou por alguns minutos, mas era parte do teatro, de dominar e ser dominado. Pagou o drink, dançou, pediu um táxi, entregou- lhe o dinheiro enquanto cruzavam a cidade, e foram para o mesmo hotel. Entraram, ele cumprimentou o porteiro italiano da mesma maneira que fizera na noite em que se conheceram, subiram para o mesmo quarto com vista para o rio.


Terence riscou um fósforo, e só então Maria se deu conta de que havia dezenas de velas espalhadas. Ele começou a acendê- las. - O que você quer saber? Por que sou assim? Se não me engano, você adorou a noite que passamos juntos. Quer saber por que você também é assim? - Estou pensando que no Brasil temos a superstição de acender mais de três coisas com o mesmo fósforo. E você não está respeitando isso. Ele ignorou o comentário.


- Você é como eu. Não está aqui pelos mil francos, mas pelo sentimento de culpa, de dependência, pelos seus complexos e sua insegurança. E isso não é bom nem ruim, é a natureza humana.


Pegou o controle remoto da TV e mudou várias vezes de canal, até parar em um noticiário, em que refugiados procuravam escapar de uma guerra.

- Está vendo isso? Já viu os programas em que as pessoas vão discutir seus problemas


pessoais diante de todo mundo? Já foi até a banca de jornal e viu as manchetes? O mundo se alegra no sofrimento e na dor. Sadismo ao olhar, masoquismo ao concluir que não precisamos saber tudo isso para sermos felizes, e mesmo assim assistimos à tragédia alheia e, às vezes, sofremos com ela.


Ele serviu outros dois copos de champanha, desligou a TV e continuou a acender as velas, sem respeitar a superstição que Maria mencionara. - Repito: é a condição humana. Desde que fomos expulsos do paraíso, ou estamos sofrendo, ou estamos fazendo alguém sofrer, ou estamos olhando o sofrimento dos outros. É incontrolável.


Começaram a escutar o estrondo dos trovões lá fora, uma gigantesca tempestade estava se aproximando.


- Mas eu não consigo - disse Maria. - Me parece ridículo achar que você é o meu mestre e sou sua escrava. Não precisamos de nenhum "teatro" para nos encontrarmos com o sofrimento; a vida já nos oferece muitas oportunidades. Terence tinha acabado de acender todas as velas. Pegou uma delas, colocou-a no centro da mesa, tornou a servir champanha e caviar. Maria bebia rápido, pensando nos mil francos que estavam em sua carteira, no desconhecido que a fascinava e amedrontava, na maneira de controlar seu pavor. Sabia que, com aquele homem, uma noite jamais seria como a outra, não podia ameaçá- lo.


- Sente-se.


A voz alternava entre doce e autoritária. Maria obedeceu, e uma onda de calor percorreu seu corpo; aquela ordem era familiar, ela sentia-se mais segura. "Teatro. Preciso entrar na peça de teatro." Era bom receber ordens. Não precisava pensar, apenas obedecer. Suplicou por mais champanha, ele lhe trouxe vodca; subia mais rápido, libertava com mais facilidade, combinava mais com o caviar.


Abriu a garrafa, Maria praticamente bebeu sozinha, enquanto escutava os trovões. Tudo colaborava para o momento perfeito, como se a energia dos céus e da terra mostrasse também seu lado violento.


Em um dado momento, Terence pegou uma pequena maleta no armário e colocou-a sobre a cama.


- Não se mexa.


Maria ficou imóvel. Ele abriu a maleta e tirou dois pares de algemas de metal cromado.


-Sente-se de pernas abertas.


Ela obedeceu. Impotente por vontade própria, submissa porque assim desejava. Percebeu que ele olhava entre suas pernas, podia ver a calcinha preta, as meias longas, as coxas, podia imaginar os cabelos, o sexo. - Fique de pé!


Ela saltou da cadeira. Seu corpo custou a equilibrar-se, e viu que estava mais embriagada do que imaginara.


- Não me olhe. Abaixe a cabeça, respeite seu dono! Antes que pudesse abaixar a cabeça, um chicote fino foi retirado da mala e estalou no ar - como se tivesse vida própria.


- Beba. Mantenha a cabeça baixa, mas beba. Entornou mais um, dois, três copos de vodca. Agora não era apenas um teatro, mas a realidade da vida: não tinha controle. Sentia-se um objeto, um simples instrumento, e por

incrível que pareça, aquela submissão lhe dava a sensação de completa liberdade. Não era


mais a mestra, a que ensina, a que consola, a que escuta as confissões, a que excita; era apenas a menina do interior do Brasil, diante do poder gigantesco do homem. -- Tire a roupa.


A ordem veio seca, sem desejo - e, no entanto, nada mais erótico. Mantendo a cabeça baixa em sinal de reverência, Maria desabotoou o vestido e deixou que escorregasse até o chão.


- Você não está se comportando bem, sabia? De novo o chicote estalou no ar.


- Precisa ser castigada. Uma menina da sua idade, como ousa me contrariar? Você devia estar de joelhos diante de mim!


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