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incuravelmente romântico, e achei que seria melhor tomar a primeira ponte-aérea para Paris, passear um pouco pelo aeroporto, esperar três horas, consultar um semnúmero de vezes os horários dos vôos, comprar suas flores, dizer a frase que Ricky diz para sua amada em Casablanca, e imaginar sua cara de surpresa. E ter certeza de que isso é o que você queria, que me esperava, que toda a determinação e vontade do mundo não bastam para impedir que o amor mude as regras do jogo de uma hora para outra. Não custa nada ser romântico como nos filmes, você não acha? Não sabia se custava ou não, mas o preço agora era o que menos lhe importava - mesmo sabendo que acabara de conhecer aquele homem, tinham feito amor pela primeira vez havia poucas horas, fora apresentada aos seus amigos na véspera, sabia que ele já havia freqüentado a boate onde trabalhava, e que fora casado duas vezes. Não eram credenciais impecáveis. Por outro lado, ela tinha dinheiro para comprar uma fazenda, a juventude pela frente, uma grande experiência de vida, uma grande independência de alma. Mesmo assim, como sempre o destino escolhia por ela, achou que mais uma vez podia correr o risco. Beijou-o, sem nenhuma curiosidade de saber o que se passa depois que escrevem "Fim" nas telas de cinema. Apenas, se algum dia alguém decidisse contar sua história, ia pedir que começasse como os contos de fadas, em que se diz: Era uma vez...

NOTA FINAL

Como todas as pessoas do mund o - e neste caso não tenho o menor receio de generalizar -, demorei até descobrir o sentido sagrado do sexo. Minha juventude coincidiu com uma época de extrema liberdade, com descobertas importantes e muitos excessos, seguida de um período conservador, repressivo, preço a ser pago por exageros que realmente deixaram seqüelas um pouco duras. Na década dos excessos (estamos falando dos anos 70), o escritor Irving Wallace escreveu um livro sobre a censura americana, usando para isso as manobras jurídicas visando impedir a publicação de um texto sobre sexo: Os sete minutos. No romance de Wallace o livro, que é motivo da discussão sobre a censura, é apenas insinuado, e o tema da sexualidade raramente aparece. Fiquei imaginando o que conteria o livro proibido; que m sabe poderia tentar escrevê-lo? Acontece que, durante o seu romance, Wallace faz muitas referências ao livro inexistente, e isso terminou por limitar - e impossibilitar - a tarefa que eu havia imaginado. Ficou apenas a lembrança do título (acho que Wallace foi muito conservador com relação ao tempo, e resolvi ampliá- lo) e a idéia de que era importante abordar a sexualidade de uma maneira séria - o que, aliás, já foi feito por muitos escritores. Em 1997, logo após terminar uma conferência em Mantova (Itália), encontrei no hotel onde estava hospedado um manuscrito que haviam deixado na portaria. Não leio manuscritos, mas li aquele - a história real de uma prostituta brasileira, seus casamentos, suas dificuldades com a lei, suas aventuras. Em 2000, passando por Zurique, entrei em contato com a prostituta - cujo nome de guerra é Sonia - e disse que tinha gostado do seu texto. Recomendei que enviasse à minha editora brasileira, que decidiu não publicá-lo. Sonia, que então tinha fixado residência na Itália, pegou um trem e foi me encontrar em Zurique. Convidou-nos - a mim, um amigo e uma repórter do jornal Blick, que acabara de me entrevistar - para ir até Langstrasse, a zona de prostituição local. Eu não sabia que Sonia já havia prevenido suas colegas da nossa visita, e para minha surpresa, terminei dando vários autógrafos em livros meus, em diversas línguas.

A esta altura, eu já estava decidido a escrever sobre sexo, mas ainda não tinha nem o

roteiro, nem o personagem principal; pensava em algo muito mais dirigido para a busca convencional do sagrado, mas aquela visita a Langstrasse me ensinou: para escrever sobre o lado sagrado, era necessário entender por que ele tinha sido tão profanado. Conversando com um jornalista da revista L'Ilustrée (Suíça), contei a história da improvisada noite de autógrafos em Langstrasse, e ele publicou uma grande reportagem a respeito. O resultado foi que, durante uma tarde de autógrafos em Genève, várias prostitutas apareceram com seus livros. Uma delas me chamou especial atenção, saímos - com minha agente e amiga Mônica Antunes - para tomar um café, que se transformou em jantar, que se transformou em outros encontros nos dias que seguiram. Ali nascia o fio condutor de Onze minutos.

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