Читаем Onze minutos полностью

Ele sabia o que estava falando, e eu sabia que era o momento, senti que meu corpo todo se afrouxava, eu deixava de ser eu mesma - já não escutava, via, provava o gosto de nada - apenas sentia.

- Vamos!

E eu fui, junto com ele. Não foram onze minutos, mas uma eternidade, era como se os dois saíssemos do corpo e caminhássemos, em profunda alegria, compreensão e amizade, pelos jardins do paraíso. Eu era mulher e homem, ele era homem e mulher. Não sei quanto tempo durou, mas tudo parecia estar em silêncio, em oração, como se o universo e a vida deixassem de existir e se transformassem em algo sagrado, sem nome, sem tempo. Mas logo o tempo voltou, eu escutei seus gritos e gritei com ele, os pés da mesa batiam com força no chão, e a nenhum de nós dois ocorreu perguntar ou saber o que o resto do mundo estava pensando.

E ele saiu de mim sem nenhum aviso, e ria, senti meu sexo se contrair, me virei para ele e ria também, nos abraçamos como se fosse a primeira vez que tivéssemos feito amor em nossa vida.

- Abençoe- me - pediu.

Eu o abençoei, sem saber o que estava fazendo. Pedi que fizesse o mesmo, e ele fez, dizendo "abençoada seja esta mulher, que muito amou". Suas palavras eram lindas, tornamos a nos abraçar e ali ficamos, sem entender como onze minutos podem levar um homem e uma mulher a tudo isso.

Nenhum dos dois estava cansado. Fomos até a sala, ele colocou um disco, e fez exatamente o que eu estava esperando: acendeu a lareira e serviu- me vinho. Em seguida abriu um livro e leu:

"Tempo de nascer, tempo de morrer tempo de plantar, tempo de arrancar a planta tempo de matar, tempo de curar tempo de destruir, tempo de construir tempo de chorar, tempo de rir tempo de gemer, tempo de bailar tempo de atirar pedras, tempo de recolher pedras tempo de abraçar, tempo de separar tempo de buscar, tempo de perder tempo de

guardar, tempo de jogar fora tempo de rasgar, tempo de costurar tempo de calar, tempo de

falar tempo de amar, tempo de odiar tempo de guerra, tempo de paz." Aquilo soava como uma despedida. Mas era a mais linda de todas que eu podia experimentar em minha vida.

Eu o abracei, ele me abraçou, deitamos no tapete ao lado da la reira. A sensação de plenitude ainda continuava, como se eu sempre tivesse sido uma mulher sábia, feliz, realizada na vida.

- Como é que você pode se apaixonar por uma prostituta? - Na época, não entendi. Mas hoje, pensando um pouco, acredito que ao saber que seu corpo jamais seria apenas meu, eu podia me concentrar em conquistar sua alma. - E o ciúme?

- Não se pode dizer para a primavera: "Tomara que chegue logo e que dure bastante." Pode-se apenas dizer: "venha, me abençoe com sua esperança, e fique o máximo de tempo que puder."

Palavras soltas ao vento. Mas eu precisava escutar, e ele precisava dizer. Dormi sem saber exatamente quando. Sonhei, não com uma situação ou com uma pessoa, mas com um perfume, que inundava tudo.

Quando Maria abriu os olhos, alguns raios de sol já começavam a entrar pelas persianas abertas.

"Fiz duas vezes amor com ele", pensou, olhando para o homem adormecido ao seu lado. "E, no entanto, parece que sempre estivemos juntos, e que ele sempre conheceu minha vida, minha alma, meu corpo, minha luz, minha dor." Levantou-se para ir até a cozinha e fazer um café. Foi então que viu as duas malas no corredor e lembrou-se de tudo: da promessa, da oração na igreja, da sua vida, do sonho que insiste em transformar-se em realidade e perder seu encanto, do homem perfeito, do amor em que corpo e alma eram a mesma coisa, e prazer e orgasmo eram coisas diferentes. Podia ficar; não tinha nada mais a perder na vida, apenas mais uma ilusão. Lembrou- se do poema: tempo de chorar, tempo de rir. Mas havia outra frase: tempo de abraçar, tempo de separar. Preparou o café, fechou a porta da cozinha, telefonou e chamou um táxi. Reuniu sua força de vontade, que a levara tão longe, a fonte de energia de sua "luz", que lhe dissera a hora exata de partir, que a protegia, que a faria guardar para sempre a lembrança daquela noite. Vestiu-se, pegou as malas e saiu, torcendo para que ele acordasse antes e lhe pedisse que ficasse. Mas ele não acordou. Enquanto esperava o táxi, do lado de fora, uma cigana passou, com um buquê de flores.

- Quer comprar uma?

Maria comprou; era o sinal de que o outono havia chegado, o verão ficava para trás. Genève já não teria, por muito tempo, as mesas nas calçadas e os parques cheios de gente passeando e banhando-se de sol. Não fazia mal; estava indo embora porque essa era a sua escolha, e não havia o que lamentar.

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