Mas por que haveria o Douglas de me andar a seguir? Afinal, já tinha esta sensação antes de começar sequer a trabalhar para os Garrick. Isso significaria que Douglas me andava a seguir antes mesmo de eu começar a trabalhar para ele.
Uma horrível sensação de frio desce-me pela espinha. O que se passa aqui?
18
Hoje, vou arrumar as minhas coisas para me mudar.
A verdade é que ainda não me sinto lá muito bem com a ideia de ir viver com o Brock, mas, se Xavier Marin mora naquele prédio de apartamentos, então eu não vou morar. E tenho de admitir que não será uma tortura viver no T2 do Brock no Upper West Side. Não é propriamente uma penthouse, mas é lindo. Até tem uma varanda que não serve também de saída de emergência. Além do mais, quando fica calor no verão, tem ar condicionado. Ar condicionado! É o cúmulo do luxo.
O Brock conduz-me ao Bronx no seu Audi. Não tem muito espaço na bagageira, mas, felizmente, eu não tenho muitas coisas. Uma das vantagens deste apartamento era vir parcialmente mobilado, pelo que a maioria das coisas que lá estão não são minhas. O que não couber na mala e no banco traseiro pode ficar para trás.
– Estou tão feliz por irmos viver juntos – diz-me o Brock, enquanto percorremos pela última vez as ruas até ao meu apartamento. – Vai ser ótimo.
O sorriso na minha cara parece de plástico.
– Sim.
Como posso fazer isto? Ir viver com o Brock quando não sabe a verdade sobre o meu passado? Não é justo. E não será justo para mim quando descobrir e me puser no olho da rua.
Continuo a trabalhar para os Garrick – por enquanto. Quanto mais pensava no assunto, menos certezas tinha que Douglas me tivesse estado a observar nesse dia. Afinal, estava a falar com a amante e não parecia minimamente concentrado em mim. Tirei conclusões precipitadas. E descobrir que o meu patrão anda a ter um caso não é razão para abdicar de um emprego lucrativo, sobretudo porque arranjar um novo é sempre difícil para mim. Posso ir viver com o Brock, mas seria um erro tornar-me dependente dele. Preciso do meu próprio rendimento – para a eventualidade de me pôr realmente no supracitado olho da rua.
Num sinal vermelho, o Brock pousa a mão no meu joelho. Sorri-me e parece incrivelmente atraente – como uma estrela de cinema – mas a única coisa em que consigo pensar é em como isto é má ideia. Está a cometer um erro terrível e nem sabe. E parte de mim gostaria que tirasse o raio da mão do meu joelho.
Não voltou a dizer que me ama desde aquele dia no restaurante. Consigo perceber que está mortinho por o fazer, mas já o disse duas vezes e eu nenhuma. Se o voltar a dizer, terei de lho dizer de volta ou... Bem, terei de o dizer de volta se quiser que esta relação continue. Já não há margem para dúvidas.
– Ei! – Ao virarmos para a minha rua, o Brock tira a mão. – O que se passa aqui?
Está um carro da polícia com as luzes a piscar estacionado em frente ao meu prédio. Cerro os lábios para me abster de lhe dizer que há sempre carros da polícia estacionados por aqui. Sinto o estômago às voltas enquanto me pergunto se haverá alguma hipótese de estarem aqui por mim. Talvez Xavier tenha mudado de ideias quanto a apresentar queixa.
Oh, meu Deus, será que me vão levar daqui algemada?
– Brock – digo, com urgência. – Talvez devêssemos sair daqui. Voltar noutra altura.
Franze o nariz.
– Não vou voltar outra vez ao Bronx amanhã. Vamos lá,
vai correr tudo bem.
Quando estou prestes a ter um verdadeiro ataque de pânico, a porta do meu prédio abre-se e vejo um agente conduzir um homem para a rua, de mãos algemadas atrás das costas. Parece que não estão aqui por mim, afinal. Provavelmente é outra apreensão de droga.
E, então, vejo a cicatriz sobre a sobrancelha esquerda do homem algemado. É o Xavier.
Abro a minha janela mesmo a tempo de o ouvir gritar com o agente que o conduz ao carro-patrulha.
– Tem de acreditar em mim! Aquela droga... nunca a vi antes! Não é minha!
Mesmo de onde estamos estacionados, consigo ver o agente revirar os olhos.
– Pois, isso é o que todos dizem quando lhes encontramos uma batelada de heroína no apartamento.
Um segundo antes de chegarem ao carro-patrulha, os olhos do Xavier enchem-se de pânico. Embora tenha de saber que é uma jogada estúpida, solta-se do polícia e desata a correr pelo quarteirão. Claro que tem as mãos algemadas atrás das costas, o que significa que não irá longe. O agente alcança-o passados poucos segundos e eu vejo-o ser atirado ao chão.
É o melhor espetáculo que vejo em meses.
O Brock arregala os olhos ante a cena à nossa frente.
– Jesus Cristo. Tens sorte em ires sair daqui.
– É ele – murmuro. – É o homem que me atacou.
– Uau. Então também andava metido na droga? Suponho que não seja de admirar.
Não me deu a sensação de que Xavier estivesse sob o efeito de drogas durante as nossas interações. Parecia sempre perfeitamente sóbrio. Mas, se as encontraram no seu apartamento... melhor ainda, se encontraram lá muita droga – suficiente para sugerir que andaria a traficar –então não vai voltar tão cedo.