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– Estou bem, já lhe disse. Tive apenas um sangramento devido a um dente partido.

– Abra a porta por dois segundos e eu deixo-a em paz. Mas juro-lhe que não saio daqui enquanto não abrir.

Faz-se outro longo silêncio atrás da porta. Enquanto espero, o meu olhar vagueia para o rasto de gotas de sangue vindo da casa de banho. Há muitas explicações inocentes que o justifiquem. Talvez se estivesse a depilar e cortou-se. Talvez tenha sido realmente um dente partido.

E, depois, há algumas explicações não tão inocentes.

Finalmente, ouve-se um estalido da maçaneta. A porta foi destrancada. E, muito lentamente, entreabre-se.

Tenho de tapar a boca com a mão para me impedir de gritar.

20

Wendy – murmuro. – Oh, meu Deus!

– Eu disse-lhe – responde. – Estou bem. Não é tão mau como parece.

Vi muitas coisas más na minha vida, mas o rosto de Wendy Garrick é daquelas que me hão de assombrar durante anos. A mulher foi esmurrada e, a julgar pelo seu aspeto, não aconteceu tudo de uma vez. Os hematomas

que lhe cobrem o rosto estão em diferentes fases de cura. O da sua maçã do rosto esquerda parece recente, mas outros têm um aspeto amarelado que dá a impressão de terem sido formados por um golpe muito anterior.

Wendy disse-me que o sangramento vinha de um dos seus dentes, e eu acredito firmemente que quem lhe fez isto ao rosto fosse capaz de lhe partir um.

– É da minha medicação – diz-me. – Dei uma queda e tomo anticoagulantes. Faz com que facilmente forme nódoas negras.

Esta mulher já se viu ao espelho? Está realmente a tentar dizer-me que isto se deveu a uma quedai

Veste uma camisa de noite cor-de-rosa às flores e, tal como a casa de banho, a frente está manchada de sangue. E nem sequer é a primeira camisa de noite ensanguentada que vejo desde que aqui estou.

– Tem de ir a um hospital – consigo dizer.

– A um hospital? – repete, estremecendo. – E o que fariam eles, ao certo?

– Verificar se tem ossos partidos.

– Não tenho. Estou bem.

– E depois pode denunciar isto – acrescento.

Wendy Garrick fita-me através de uns olhos margeados de hematomas. Respira fundo e retrai-se. Pergunto-me se terá uma costela partida. Não me surpreenderia.

– Oiça bem, Millie – diz, em voz baixa. – Não faz ideia daquilo com que está a lidar aqui. Não quer envolver-se nesta situação. Tem de se afastar e de me deixar em paz.

– Wendy...

– Falo a sério. – Os seus olhos pisados dilatam-se e, pela primeira vez, vejo neles verdadeiro medo. – Se sabe o que é bom para si, tem de fechar esta porta e sair daqui.

– Mas...

– Tem de se afastar, Millie. – Há agora uma urgência terrível na sua voz. – Não faz ideia. Simplesmente afaste-se.

Abro a boca para protestar, mas, antes que o possa fazer, já me fechou a porta na cara.

A mensagem é absolutamente clara. O que quer que esteja a acontecer nesta casa, Wendy não quer a minha ajuda. Não quer que me intrometa. Quer que me meta na minha vida.

Infelizmente, nunca tive muito jeito para isso.

21

Em 2007, um prestigiado violinista chamado Josh Bell, que tinha recentemente esgotado um concerto com bilhetes ao preço médio de algumas centenas de dólares cada, fez-se passar por músico de rua. Foi para uma estação de metro em Washington, de calças de ganga e boné de beisebol, e tocou a mesma exata música que no seu concerto, num violino artesanal avaliado em mais de três milhões e meio de dólares.

– Quase ninguém parou sequer para ouvir – explica o Dr. Kindred ao auditório cheio de estudantes. – Na verdade, quando ocasionalmente as crianças paravam, os pais destas agarravam-nas e faziam-nas seguir caminho. Este homem esgotou um concerto em Boston e, nesse dia, só cerca de cinquenta pessoas pararam durante tempo suficiente para depositar um dólar no estojo do seu violino. Como explicam isto?

Após alguma hesitação, uma rapariga na fila da frente põe a mão no ar. Está sempre ansiosa por responder a perguntas.

– Acho que, em parte, foi por a beleza ser mais difícil de percecionar quando num cenário singelo.

Todos os dias apanho o metro do Bronx para a cidade e é frequente ver pessoas a tocar os seus instrumentos enquanto espero pela sua chegada. A estação mesmo junto ao meu prédio tresanda a urina, por razões em que prefiro não pensar, mas, se houver alguém a tocar música enquanto espero, já não é assim tão mau.

Eu teria parado para ouvir Josh Bell. Poderia até ter deixado um dólar no estojo do seu violino, apesar de precisar de cada dólar que tenho.

– Muito bem – diz o Dr. Kindred. – Algum outro possível fator em jogo?

Hesito por um momento antes de pôr a mão no ar. Geralmente, não participo nas aulas porque tenho cerca de dez anos a mais do que a pessoa mais velha na sala (com exceção do professor). Mas mais ninguém parece estar a responder.

– Ninguém quis ajudá-lo – afirmo.

O Dr. Kindred assente e acaricia a barba no seu queixo.

– O que quer dizer com isso?

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