Embora Toranaga fosse supremo em todo o Japão, à exceção do castelo Osaca, o baluarte invencível construído por seu antecessor, o ditador Nakamura, esperara doze anos para acionar a armadilha que preparara, ordenando o sítio. O castelo se encontrava sob o poder absoluto da dama Ochiba, a viúva do ditador, do filho e herdeiro de sete anos, Yaemon — a quem Toranaga prestara um juramento solene de fidelidade — e de oitenta mil samurai
Dois anos de sítio, trezentos mil soldados, os canhões do navio corsário holandês Erasmus, de Anjin-san, o inglês que o levara ao Japão, um regimento armado com mosquetes, treinado por ele, cem mil baixas, toda a astúcia de Toranaga, e mais um traidor vital dentro do castelo, tudo isso fora necessário antes que a dama Ochiba e Yaemon cometessem o
Depois de ocupar o castelo Osaca, Toranaga inutilizara os canhões, dispersara o regimento de mosquetes, proibira a fabricação ou importação de toda e qualquer arma de fogo, acabara com o poder dos padres jesuítas portugueses e dos
— Ele nos fez fortes — murmurou Yoshi. — Seu legado deu-nos poder para manter a terra pura e em paz, como era seu desígnio.
Não devo lhe faltar.
Mas que homem extraordinário! E quanta sensatez de seu filho, Sudara, o segundo xógum, ao trocar o nome da dinastia para Toranaga, em vez do nome verdadeiro da família de Yoshi... a fim de que jamais esqueçamos a fonte de tudo.
O que ele me aconselharia a fazer?
Primeiro, paciência, depois ele citaria Sun-tzu: Conheça seu inimigo como conhece a si mesmo, e não precisará temer uma centena de batalhas; conheça a si mesmo, mas não ao inimigo, e em cada vitória conquistada também sofrerá uma derrota; não conheça nem ao inimigo nem a si mesmo, e sucumbirá em cada batalha.
Conheço algumas coisas sobre o inimigo, mas não o suficiente.
Abençoo meu pai por me fazer compreender o valor da educação, por me proporcionar tantos mestres variados e especiais ao longo dos anos, não apenas japoneses, mas também estrangeiros. É lamentável que eu não tivesse talento para línguas e, assim, tive de aprender através de intermediários: mercadores holandeses para a história mundial, um marujo inglês para conferir a verdade holandesa e me abrir os olhos — assim como Toranaga usou o Anjin-san em seu tempo — e todos os outros.
O chinês que me ensinou sobre governo, literatura e a arte da guerra; o velho padre renegado francês de Pequim, que passou meio ano me ensinando sobre Maquiavel, traduzindo-o em caracteres chineses para mim, enquanto tinha permissão para viver nos domínios de meu pai e desfrutar o mundo dos salgueiros, que tanto amava; o pirata americano abandonado em Izu, que me contou sobre canhões e sobre os oceanos de relva chamados pradarias, sobre o castelo de sua terra chamado Casa Branca, e as guerras em que exterminaram os nativos do país; o condenado russo emigrado de um lugar chamado Sibéria, que alegava ter sido um príncipe com dez mil escravos, e contou fábulas de lugares chamados Moscou e São Petersburgo; e todos os outros, alguns ensinando por uns poucos dias, outros por meses, mas nenhum jamais completando um ano, nenhum deles tendo conhecimento de quem eu era, e eu proibido de lhes revelar, o pai sempre tão cauteloso e reservado, tão terrível quando era provocado.
— Quando esses homens vão embora, pai — indagara ele, no início —, o que lhes acontece? Todos se mostram muito assustados. Por que deveriam? Não lhes promete recompensas?
— Tem onze anos, meu filho. Perdoarei sua grosseria por me interrogar, mas apenas uma vez. E para que não se esqueça de minha magnanimidade, passará três dias sem comida, subirá o monte Fuji sozinho e dormirá sem qualquer coberta.
Yoshi estremeceu. Na ocasião, não entendia a que magnanimidade o pai se referia. Quase morrera durante aqueles dias, mas cumprira as ordens. Como recompensa por sua autodisciplina, o pai,
— Você é meu sétimo filho. Assim, terá sua própria herança e entrará numa linhagem um pouco superior à de seus irmãos.
— Está bem, pai — murmurara ele, contendo as lágrimas.
Na ocasião, não sabia que estava sendo preparado para ser xógum, nem isso jamais lhe fora dito. Quando o xógum Iyeyoshi morrera, da doença das erupções, quatro anos antes, Yoshi tinha vinte e dois, estava pronto para a função, e o pai o propusera. Mas o Tairo Li se opusera, e prevalecera — eram suas forças pessoais que dominavam os portões do palácio.