No outro lado dos jardins, escondido em sua casa segura, Hiraga sentava na posição clássica do Lótus, meditando para desanuviar a terrível dor de cabeça provocada pela notícia sobre Katsumata e o encontro com Tyrer. Muito em breve Akimoto voltaria. E depois ele decidiria sobre Takeda.
No outro lado da cerca, num bangalô nos jardins da casa de chá das Cerejeiras, Akimoto se encontrava bêbado de saquê. Refestelado à sua frente, Takeda arrotou tomou mais um gole de sua cerveja. Outro frasco de saquê foi esvaziado, lentamente, até que escapuliu dos dedos de Takeda, que tinha os olhos turvos. A cabeça baixou para os braços, e ele começou a roncar. Takeda sorriu, não tão embriagado quanto fingira.
Depois de se certificar de que Akimoto estava mesmo adormecido, ele abriu a porta de
As bombas eram fabricadas com dois pedaços de bambu gigante, amarrados juntos, um palmo e meio de extensão, a metade disso na largura, o interior de um com a pólvora extra de Katsumata, o outro com óleo. Num instante, ele armou as três bombas, usando o mais longo dos estopins de que dispunha, com cerca de uma vela de duração... quase duas horas. O estopim era de corda de algodão, impregnada com uma solução de pólvora e posta a secar. Preparou as duas restantes com estopins para a metade desse tempo.
Um último olhar para o céu. As nuvens disparavam com o vento. Ótimo. Takeda pegou duas bombas e se afastou, fundindo-se com a noite. Passou pela porta secreta na cerca para o jardim da casa das Três Carpas, que ficava ao sul da casa das Cerejeiras, e se encaminhou para o mais meridional dos bangalôs ali, também erguido, como todos os demais, sobre meio metro do chão, apoiado em estacas baixas. Estava ocupado e iluminado. Cauteloso, Takeda rastejou por baixo. Acendeu o estopim com uma pederneira, o barulho abafado pelo vento. O estopim pegou. Os passos de uma mulher soaram por cima e ele ficou imóvel. O som da porta de
Folhas caídas empilhadas sobre o estopim aceso o ocultavam quase que por completo e Takeda tornou a se afastar, uma sombra entre sombras... para se agachar por trás de arbustos, ao deparar com um
Ele voltou para a cerca, evitando um criado, esperando que uma criada velha e corpulenta passasse, chegou ao esconderijo, pegou a última das bombas de estopim comprido e outra vez partiu apressado. Acendeu-a e colocou-a debaixo de seu próprio bangalô. Podia ouvir os roncos de Akimoto lá em cima. Os lábios de Takeda se contraíram num sorriso. Pela última vez, ele correu de volta ao esconderijo, suado e eufórico. Até agora, tudo transcorrera de acordo com o plano de Ori. Hiraga estava infectado pelos
Com as bombas restantes, ele atravessou o jardim, pulou a cerca para o seguinte, depois outro e mais outro, até alcançar o poço que era a entrada para o túnel secreto. Entrou no poço, pôs a tampa de volta no lugar. Não precisava temer a possibilidade de encontrar Hiraga ali embaixo.
No túnel, são e salvo, Takeda recomeçou a respirar e acendeu o lampião de óleo. A cama de Hiraga e uns poucos objetos espalhavam-se ao redor. A mochila de Katsumata, com as bombas nos cilindros de metal, estava debaixo de uma manta. Ele pôs na mochila suas duas bombas e ajeitou-a nos ombros, seguindo apressado pelo túnel. Logo deparou com a barreira de água. Tirou as roupas, amarrando-as numa trouxa.
A água enregelante deixou-o com dificuldade para respirar. Ao alcançar a parte mais estreita, onde o teto baixava na direção da água, sua cabeça ficou a poucos centímetros da rocha, a água subindo até o queixo. Não foi fácil manter a lanterna e a mochila acima da superfície. No outro lado, ele se vestiu, o mais depressa possível, estremecendo e praguejando. Ainda havia muita coisa a fazer. Não tinha importância, pois já começara. Dali a pouco terminaria tudo; depois viveria para sempre. Seu fervor aqueceu-o, fez com que esquecesse o frio.