Na extremidade do túnel, onde havia barras de ferro para subir e o poço desaparecia nas profundezas, Takeda parou, a fim de recuperar o fôlego. Agora, era o momento de subir. Escorregou numa das barras de ferro, quase caiu, mas conseguiu se equilibrar e ficou parado, até o coração se aquietar. E continuou a subir. Com a maior cautela, empurrou para o lado a tampa quebrada, ergueu a cabeça para espiar ao redor. A terra de ninguém se encontrava vazia. Acidade dos bêbados estava agitada, com risos, gritos, cantos embriagados, uns poucos homens cambaleando por vielas, não muito longe, cachorros latindo para eles.
A cidade dos bêbados situava-se ao sul da aldeia e da colônia, que se estendia ao longo da costa, numa linha sul-norte. A Yoshiwara ficava ao sul da cidade dos bêbados. Ori primeiro, depois Katsumata e Hiraga haviam planejado onde pôr os artefatos incendiários, a fim de que um vento sul espalhasse as chamas, que consumiriam tudo em seu caminho.
Takeda deixou a mochila no meio do mato e foi esconder uma das bombas de pavio curto junto a um armazém desconjuntado, a outra por trás de uma choupana. O lixo cobriu os estopins acesos.
Voltando apressado para o lugar em que deixara a mochila, com as bombas restantes, ele teve de se esconder por trás de uma pilha de lixo. Vindo da aldeia, uma patrulha de soldados fazia sua ronda noturna. Costumava sair da legação britânica, percorria a High Street, atravessava a aldeia, passava pela terra de ninguém, cruzava a cidade dos bêbados e voltava pelo passeio. Duas vezes por noite. Ao chegarem à viela, a trinta metros do lugar em que Takeda se encontrava, os soldados pararam, ao abrigo de um armazém, para fumar um cigarro e urinar.
Takeda praguejou silenciosamente, imobilizado ali. Mais de três quartos de uma vela já haviam transcorrido desde que acendera o primeiro estopim.
— Boa noite, Hinodeh — disse André, ao entrar no santuário que tinham no jardim, algum tempo antes. — Desculpar atraso.
— Boa noite,
— Por favor.
Ele sentou na frente de Hinodeh, observou-a servir, suas pernas no espaço sob a mesa, onde um pequeno braseiro aquecia o ar, o calor mantido pelo
Naquela noite ela usava um quimono que André nunca vira antes, numa gloriosa tonalidade de verde, a cor predileta dele, com garças, símbolo de vida longa, bordadas em fio prateado por toda parte, a bainha de um quimono de baixo aparecendo, de forma sedutora. Com uma reverência, Hinodeh entregou-lhe a taça e depois, para surpresa de André, serviu-se de outro frasco, que continha saquê aquecido — o dele era frio, como preferia. Era muito raro Hinodeh beber. Com um sorriso, ela ergueu sua taça.
—
Ela imitou o sotaque de André, como ele lhe ensinara.
—
André sentiu um aperto no coração, não acreditando que ela o amasse; como poderia?
Bateram as taças e Hinodeh esvaziou a sua, engasgou um pouco, e logo tornou a servir mais aos dois. O mesmo sorriso e ela estendeu sua taça para tocar na de André. Esvaziaram de novo, Hinodeh encheu mais uma vez.
—
Ela riu, os dentes brancos faiscando, os lábios sensuais.
— Por favor,
— Por que especial, Hinodeh?
— Hoje é
Hinodeh gesticulou para a porta de
— Aquilo é um
— Claro que sim — murmurou ele, satisfeito. — Obrigado, Hinodeh.
Poucas semanas antes, André descobrira que era o aniversário dela e trouxera champanhe gelada, com uma pulseira de ouro. Hinodeh torcera o nariz para as borbulhas, dissera que o champanhe era delicioso, mas só bebera quando ele insistira. André tomara a maior parte da garrafa e naquela noite seu ato de amor fora frenético.