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a) nunca chegaria a encontrar o que estava procurando, se não soubesse dizer o que pensava. Para isso, precisava aprender a língua local; b) como todas as suas companheiras estavam também procurando a mesma coisa, ela precisava ser diferente. Para isso ainda não tinha uma solução ou um método. Do diário de Maria, quatro semanas depois de desembarcar em Genève/Genebra: Já estou aqui há uma eternidade, não falo a língua, passo o dia escutando música no rádio, olhando o quarto, pensando no Brasil, torcendo para que chegue a hora de trabalhar e - quando estou trabalhando - torcendo para que chegue a hora de voltar para a pensão. Ou seja, estou vivendo o futuro em vez do presente. Um dia, num futuro remoto, terei minha passagem, poderei voltar para o Brasil, casar- me com o dono da loja de tecidos, escutar os comentários maldosos das amigas que nunca arriscaram e por isso só conseguem enxergar a derrota dos outros. Não, não posso voltar assim; prefiro atirar- me do avião quando ele estiver cruzando o oceano.

Como as janelas do avião não abrem (aliás, isso foi algo que nunca esperava; que

pena não poder sentir o ar puro!), morro aqui mesmo. Mas antes de morrer, quero lutar pela vida. Se eu puder andar sozinha, vou até onde quero. No dia seguinte matriculou-se imediatamente em um curso matutino de francês, onde conheceu gente de todos os credos, crenças e idades, homens com roupas coloridas e muitas correntes de ouro nos braços, mulheres sempre com um véu na cabeça, crianças que aprendiam mais rápido que os adultos - quando justamente devia ser o contrário, pois os adultos têm mais experiência. Ficava orgulhosa ao saber que todos conheciam seu país, o carnaval, o samba, o futebol, e a pessoa mais famosa do mundo, cha mada Pelê. No início ela quis ser simpática e procurou corrigir a pronúncia (é Pelé! Pelééé! ! !), mas depois de algum tempo desistiu, já que também a chamavam de Mariá, essa mania que os estrangeiros têm de mudar todos os nomes e ainda achar que estão certos. Durante a tarde, para praticar o idioma, ensaiou seus primeiros passos por aquela cidade de dois nomes, descobriu um chocolate delicioso, um queijo que jamais havia comido, um gigantesco chafariz no meio do lago, a neve que os pés de nenhum dos habitantes de sua cidade tinham tocado, as cegonhas, os restaurantes com lareira (embora jamais tenha entrado em algum, via o fogo lá dentro, e aquilo lhe dava uma agradável sensação de bem-estar). Também ficou surpresa ao descobrir que nem todos os letreiros tinham propaganda de relógios, havia também bancos - embora não conseguisse entender por que existiam tantos bancos para tão poucos habitantes, e pudesse reparar que raramente via alguém no interior das agências, mas resolveu não perguntar nada. Depois de três meses de autocontrole no trabalho, seu sangue brasileiro - sensual e sexual como todos no mundo pensavam - falou mais alto; ela se apaixonou por um árabe que estudava francês no mesmo curso. O caso durou três semanas até que, uma noite, ela resolveu deixar tudo de lado e visitar uma montanha perto de Genève. Quando chegou ao trabalho na tarde seguinte, Roger mandou que fosse ao seu escritório. Assim que abriu a porta, foi sumariamente demitida, por dar mau exemplo às outras meninas que ali trabalhavam. Roger, histérico, disse que mais uma vez se decepcionava, que as mulheres brasileiras não eram confiáveis (ah, meu Deus, esta mania de generalizar tudo). De nada adiantou afirmar que tudo não passara de uma febre muito alta por causa da diferença de temperatura, o homem não se convenceu, e ainda reclamou que precisava voltar de novo ao Brasil para arranjar uma substituta, e que melhor teria sido fazer um show com música e bailarinas iugoslavas, que eram muito mais bonitas e mais responsáveis. Maria, embora ainda jovem, não tinha nada de boba - principalmente depois que seu amante árabe lhe disse que na Suíça as leis trabalhistas são muito severas, e ela podia alegar que estava sendo usada para trabalho escravo, já que a boate ficava com grande parte do seu salário.

Voltou ao escritório de Roger, desta vez falando um francês razoável, que incluía em seu vocabulário a palavra "advogado". Saiu dali com alguns xingamentos, e cinco mil dólares de indenização - um dinheiro com que jamais havia sonhado, tudo por caus a daquela palavra mágica, "advogado". Agora podia namorar livremente o árabe, comprar alguns presentes, tirar umas fotos na neve, e voltar para casa com a vitória tão sonhada. A primeira coisa que fez foi telefonar para uma vizinha da mãe e dizer que estava feliz, tinha uma linda carreira pela frente e ninguém em sua casa precisava ficar preocupado. Em seguida, como tinha um prazo para deixar o quarto de pensão que Roger lhe havia alugado, faltava apenas ir até o árabe; fazer juras de amor eterno, converter-se à

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