Читаем Onze minutos полностью

Enquanto o príncipe encantado não aparecia, só lhe restava sonhar. Apaixonou-se pela primeira vez aos onze anos, enquanto ia a pé de sua casa até a escola primária local. No primeiro dia de aula, descobriu que não estava sozinha em seu trajeto: junto com ela caminhava um garoto que vivia na vizinhança e freqüentava aulas no mesmo horário. Os dois nunca trocaram uma só palavra, mas Maria começou a notar que a parte do dia que mais lhe agradava eram aqueles momentos na estrada cheia de poeira, sede, cansaço, o sol a pino, o menino andando rápido, enquanto ela se exauria no esforço para acompanhar- lhe os passos.

A cena se repetiu por vários meses. Maria, que detestava estudar e não tinha outra distração na vida exceto a televisão, passou a torcer para que o dia passasse rápido, aguardando com ansiedade cada ida à escola e, ao contrário de algumas meninas de sua idade, achando aborrecidíssimos os finais de semana. Como as horas demoram muito mais a passar para uma criança que para um adulto, ela sofria muito, achava os dias longos demais porque lhe davam apenas dez minutos com o amor de sua vida, e milhares de horas para ficar pensando nele, imaginando como seria bom se pudessem conversar. Então aconteceu.

Certa manhã, o garoto veio até ela, pedindo um lápis emprestado. Maria não respondeu, demonstrou um certo ar de irritação por aquela abordagem ine sperada e apressou o passo. Tinha ficado petrificada de medo ao vê-lo andando em sua direção, tinha pavor de que soubesse o quanto o amava, o quanto esperava por ele, como sonhava em pegar sua mão, passar diante do portão da escola e seguir a estrada até o final, onde - diziam se encontrava uma grande cidade, personagens de novela, artistas, carros, muitos cinemas e um sem-fim de coisas boas.

Durante o resto do dia não conseguiu concentrar-se na aula, sofrendo com seu comportamento absurdo, mas ao mesmo tempo sentia-se aliviada, porque sabia que o menino também a havia notado, e o lápis não passava de um pretexto para iniciar uma conversa, pois quando se aproximou ela percebera uma caneta em seu bolso. Ficou aguardando a próxima vez, e durante aquela noite - e as noites que se seguiram - ela passou a imaginar as muitas respostas que lhe daria, até encontrar a maneira certa de começar uma história que não terminasse jamais.

Mas não houve uma próxima vez; embora continuassem a ir juntos para a escola, com

Maria às vezes alguns passos à frente segurando um lápis na mão direita, outras vezes andando atrás para poder contemplá- lo com ternura, ele nunca mais lhe dirigiu palavra, e ela teve que contentar-se em amar e sofrer silenciosamente até o final do ano letivo. Durante as intermináveis férias que se seguiram, acordou certa manhã com as pernas banhadas em sangue, pensou que iria morrer; decidiu deixar uma carta para o menino dizendo que ele havia sido o grande amor da sua vida, e planejou embrenhar-se no sertão para ser devorada por um daqueles animais selvagens que aterrorizavam os camponeses da região: o lobisomem ou a mula-sem-cabeça. Só assim os seus pais não sofreriam com sua morte, pois os pobres têm sempre a esperança apesar das tragédias que sempre lhes acontecem. Assim, eles viveriam pensando que ela fora raptada por uma família rica e sem filhos, mas que talvez voltasse um dia, no futuro, cheia de glória e dinheiro - enquanto o atual (e eterno) amor de sua vida se lembraria dela para sempre, sofrendo a cada manhã por não ter voltado a lhe dirigir a palavra. Não chegou a escrever a carta, porque sua mãe entrou no quarto, viu os lençóis vermelhos, sorriu e disse:

- Agora você é uma moça, minha filha.

Quis saber que relação havia entre o fato de ser moça e o sangue que corria, mas sua mãe não soube explicar direito, apenas afirmou que era normal e que de agora em diante teria que usar uma espécie de travesseiro de boneca entre as pernas, durante quatro ou cinco dias por mês. Perguntou se os homens usavam algum tubo para evitar que o sangue escorresse pelas calças, e soube que isso só acontecia com as mulheres.

Maria reclamou com Deus, mas terminou se acostumando com a menstruação. Entretanto, não conseguia acostumar-se com a ausência do menino, e não parava de recriminar a si mesma pela atitude estúpida de sair correndo daquilo que mais desejava. Um dia antes de recomeçarem as aulas, ela foi até a única igreja da cidade e jurou à imagem de Santo Antônio que iria tomar a iniciativa de conversar com o garoto. arrumou-se da melhor maneira possível, usando um vestido que a mãe costurara especialmente para a ocasião, e saiu - agradecendo a Deus por terem finalmente terminado as férias. Mas o menino não apareceu. E assim se passou mais uma angustiante semana, até que soube, por alguns colegas, que ele havia mudado de cidade. - Foi para longe - disse alguém.

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