Foi como se tivesse subido até o céu e agora descesse de pára-quedas, lentamente, para a terra. Seu corpo estava encharcado de suor, mas ela sentia-se completa, realizada, cheia de energia. Então era aquilo o sexo! Que maravilha! Nada de revistas pornográficas, com todo mundo falando de prazer, mas fazendo cara de dor. Nada de precisar de homens, que gostavam do corpo mas desprezavam o coração de uma mulher. Podia fazer tudo sozinha! Repetiu uma segunda vez, agora imaginando que era um ator famoso que a tocava, e de novo foi até o paraíso e desceu de pára-quedas, ainda mais cheia de energia. Quando ia começar pela terceira vez, a mãe chegou. Maria foi conversar com as amigas sobre sua nova descoberta, desta vez evitando dizer que tivera sua primeira experiência poucas horas atrás. Todas - com exceção de duas - sabiam do que se tratava, mas nenhuma delas havia ousado falar sobre o tema. Foi o momento de Maria sentir-se revolucionária, líder do grupo, e inventando um absurdo "jogo de confissões secretas", pediu a cada uma que contasse a maneira preferida de masturbar- se. Aprendeu várias técnicas diferentes, como ficar debaixo do cobertor em pleno verão (porque, dizia uma delas, o suor ajudava), usar uma pena de ganso para tocar o local (ela não sabia o nome do local), deixar que um rapaz fizesse aquilo (para Maria isso parecia desnecessário), usar o chuveiro do bidê (não possuía um em sua casa, mas assim que visitasse uma das amigas ricas, iria experimentar). De qualquer maneira, ao descobrir a masturbação, e depois de usar algumas das técnicas que tinham sido sugeridas pelas amigas, desistiu para sempre da vida religiosa. Aquilo lhe dava muito prazer - e pelo que insinuavam na igreja, o sexo era o maior dos pecados. Através das mesmas amigas, começou a ouvir lendas a respeito: a masturbação enchia o rosto de espinhas, podia levar à loucura, ou à gravidez. Correndo todos estes riscos, continuou a se dar prazer pelo menos uma vez por semana, geralmente às quartas- feiras, quando seu pai saía para jogar baralho com os amigos. Ao mesmo tempo, ficava cada vez mais insegura na sua relação com os homens - e com mais vontade de ir embora do lugar onde vivia. Apaixonou-se uma terceira, quarta vez, já sabia beijar, tocava e deixava-se tocar quando estava sozinha com os namorados - mas sempre algo acontecia de errado, e a relação terminava exatamente no momento em que estava finalmente convencida de que aquela era a pessoa exata para ficar com ela o resto da vida. Depois de muito tempo, terminou concluindo que os homens apenas traziam dor, frustração, sofrimento, e a sensação de que os dias se arrastavam. Certa tarde, quando estava no parque olhando uma mãe brincar com o filho de dois anos, decidiu que podia até pensar em marido, filhos e casa com vista para o mar, mas jamais tornaria a se apaixonar novamente - porque a paixão estragava tudo. Do diário de Maria, quando tinha 17 anos: assim se passaram os anos da adolescência de Maria. Foi ficando cada vez mais bonita, por causa do seu ar misterioso e triste, e muitos homens se apresentaram. Saiu com um, com outro, sonhou e sofreu - apesar da promessa que havia feito de jamais se apaixonar de novo. Em um destes encontros, perdeu a virgindade no banco de trás de um carro; ela e seu namorado estavam se tocando com mais ardor do que de costume, o rapaz se entusiasmou, e ela - cansada de ser a última virgem do seu grupo de amigas - permitiu que
ele a penetrasse. Ao contrário da masturbação, que a levava ao céu, aquilo apenas deixou-a
dolorida, com um fio de sangue que manchou a saia e custou a sair. Não teve a sensação mágica do primeiro beijo - as garças voando, o pôr-do-sol, a música... não, ela não queria mais lembrar aquilo.
Fez amor com o mesmo rapaz algumas outras vezes, depois de ameaçá- lo, dizendo que seu pai era capaz de matá- lo se descobrisse que haviam violentado sua filha. Transformou-o em um instrumento de aprendizado, procurando de todas as maneiras entender onde estava o prazer do sexo com um parceiro. Não entendeu; a masturbação dava muito menos trabalho, e muito mais recompensas. Mas todas as revistas, programas de TV, livros, amigas, tudo, ABSOLUTAMENTE TUDO dizia que um homem era importante. Maria começou a achar que devia ter algum problema sexual inconfessável, concentrou-se ainda mais nos estudos e esqueceu por uns tempos essa coisa maravilhosa e assassina chamada Amor.