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Onze minutos. O mundo girava em torno de algo que demorava apenas onze minutos. E por causa destes onze minutos em um dia de vinte e quatro horas (se levássemos em conta que todos fizessem amor com suas esposas, todos os dias, o que seria um absurdo e uma inverdade completa), eles se casavam, sustentavam a família, agüentavam o choro das crianças, se desmanchavam em explicações quando chegavam tarde em casa, olhavam dezenas, centenas de outras mulheres com quem gostariam de passear em torno do lago de Genève, compravam roupas caras para si mesmos, e roupas ainda mais caras para elas, pagavam prostitutas para compensar o que estava faltando, sustentava uma gigantesca indústria de cosméticos, dietas, ginástica, pornografia, poder - e quando se encontravam com outros homens, ao contrário do que dizia a lenda, jamais falavam de mulheres. Conversavam sobre empregos, dinheiro e esporte. Havia algo de muito errado com a civilização; e não era o desmatamento da Amazônia, a camada de ozônio, a morte dos pandas, o cigarro, os alimentos cancerígenos, a situação nas penitenciárias, como gritavam os jornais. Era exatamente aquilo em que trabalhava: o sexo. Entretanto, Maria não estava ali para salvar a humanidade, e sim para aumentar sua conta bancária, sobreviver por mais seis meses à solidão e à escolha que fizera, enviar regularmente a mesada para a sua mãe (que ficou muito contente ao saber que a ausência de dinheiro devia-se apenas ao correio suíço, que não funcionava tão bem como o correio brasileiro), comprar tudo que sempre sonhara e jamais tivera. Mudou-se para um apartamento muito melhor, com calefação central (embora o verão já tivesse chegado), e da sua janela podia ver uma igreja, um restaurante japonês, um supermercado e um simpático café, que costumava freqüentar para ler um pouco os jornais. De resto, conforme prometera a si mesma, era só agüentar mais meio ano na rotina de sempre: Copacabana, aceita um drink, dançar, o que acha do Brasil, hotel, cobrar adiantado, conversar e saber tocar nos pontos exatos - tanto no corpo como na alma, principalmente na alma -, ajudar nos problemas íntimos, ser amiga por meia hora, da qual onze minutos serão

gastos em abre perna, fecha perna, gemidos fingindo prazer. Obrigada, espero vê -lo na


próxima semana, você é realmente um homem, vou ouvir o resto da história na próxima vez que nos encontrarmos, excelente gorjeta, afinal não precisava porque tive muito prazer em estar com você.


E, sobretudo, jamais se apaixonar. Este era o mais importante, o mais sensato de todos os conselhos que a brasileira lhe dera -antes de sumir, provavelmente porque se apaixonara. Em dois meses de trabalho já tivera várias propostas de casamento, e pelo menos três eram muito sérias: o diretor de uma firma de contabilidade, o tal piloto com quem saíra na primeira noite, e o dono de uma loja especializada em canivetes e armas brancas. Os três lhe prometeram "tirá- la daquela vida" e dar-lhe uma casa decente, um futuro, talvez filhos e netos. Tudo por apenas onze minutos por dia? Não era possível. Agora, depois de sua experiência no Copacabana, sabia que não era a única pessoa a sentir-se sozinha. E o ser humano pode tolerar uma semana de sede, duas semanas de fome, muitos anos sem teto, mas não pode tolerar a solidão. É a pior de todas as torturas, de todos os sofrimentos. Aqueles homens, e os muitos outros que queriam sua companhia, sofriam como ela este sentimento destruidor - a sensação de que ninguém nesta terra se importava com eles. Para evitar tentações do amor, seu coração estava apenas em seu diário. Entrava no Copacabana apenas com seu corpo e seu cérebro, cada vez mais perceptivo, mais afiado. Conseguira convencer-se de que chegara a Genève e terminara na Rue de Berne por alguma razão maior, e cada vez que alugava um livro na biblioteca, confirmava: ninguém escrevera direito sobre estes onze minutos mais importantes do dia. Talvez fosse esse o seu destino, por mais duro que pudesse parecer no momento: escrever um livro, contar sua história, sua aventura.


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