Читаем Onze minutos полностью

Isso, aventura. Embora fosse uma palavra proibida, que ninguém ousava pronunciar, que a maior parte preferia ver na televisão, em filmes que passavam e repassavam nas mais diversas horas do dia, era isso que ela buscava. Combinava com desertos, com viagens para lugares desconhecidos, com homens misteriosos puxando conversa em um barco no meio do rio, com aviões, estúdios de cinema, tribos de índio, geleiras, África. Gostou da idéia do livro, e chegou a pensar no título: Onze minutos. Começou a classificar os clientes em três tipos: os Exterminadores (nome dado em homenagem a um filme do qual gostara muito), que já entravam cheirando a bebida, fingindo que não olhavam para ninguém, mas achando que todos estavam olhando para eles, dançando pouco e indo direto ao assunto do hotel. Os Pretty Woman (também por causa de um filme), que procuravam ser elegantes, gentis, carinhosos, como se o mundo dependesse daquele tipo de bondade para voltar ao seu eixo, como se estivessem caminhando pela rua e entrassem por acaso na boate; eram doces no início, e inseguros quando chegavam ao hotel, e por causa disso terminavam sendo mais exigentes que os Exterminadores. Fina lmente, os Poderosos Chefões (também por causa de um filme), que tratavam o corpo de uma mulher como se trata uma mercadoria. Eram os mais autênticos, dançavam, conversavam, não deixavam gorjeta, sabiam o que estavam comprando e quanto valia, jamais se deixariam levar pela conversa de qualquer mulher que escolhessem. Esses eram os únicos que, de uma maneira muito sutil, conheciam o significado da palavra aventura.

Do diário de Maria, em um dia em que estava menstruada e não podia trabalhar:

Se eu tivesse que contar hoje minha vida para alguém, poderia fazê-lo de tal maneira


que iriam me achar uma mulher independente, corajosa e feliz. Nada disso: estou proibida de mencionar a única palavra que é muito mais importante que os onze minutos - amor. Durante toda a minha vida, entendi o amor como uma espécie de escravidão consentida. É mentira: a liberdade só existe quando ele está presente. Quem se entrega totalmente, quem se sente livre, ama o máximo. E quem ama o máximo sente-se livre.


Por causa disso, apesar de tudo que posso viver, fazer, descobrir, nada tem sentido. Espero que este tempo passe rápido, para que eu possa voltar à busca de mim mesma - refletida em um homem que me entenda, que não me faça sofrer. Mas que bobagem é essa que estou dizendo? No amor, ninguém pode machucar ninguém; cada um de nós é responsável por aquilo que sente, e não podemos culpar o outro por isso.


Já me senti ferida quando perdi os homens pelos quais me apaixonei. Hoje estou convencida de que ninguém perde ninguém, porque ninguém possui ninguém. Essa é a verdadeira experiência da liberdade: ter a coisa mais importante do mundo, sem possuí- la.


Mais três meses se passaram, o outono chegou, chegou também finalmente a data marcada no calendário: noventa dias para a viagem de volta. Tudo passara tão rápido e tão lentamente, pensou ela, descobrindo que o tempo corre em duas dimensões diferentes, dependendo do seu estado de espírito, mas em ambos os casos a sua aventura estava chegando ao final. Poderia continuar, é claro, mas não se esquecia do sorriso triste da mulher invisível que a acompanhara pelo passeio em volta do lago, dizendo que as coisas não eram tão simples assim. Por mais que estivesse tentada a continuar, por mais preparada que estivesse para os desafios que tinham surgido em seu caminho, todos estes meses convivendo apenas consigo mesma tinham lhe ensinado que existe um momento certo de interromper tudo. Dali a noventa dias voltaria para o interior do Brasil, compraria uma pequena fazenda (afinal, ganhara mais do que o esperado), algumas vacas (brasileiras, não suíças), convidaria seu pai e sua mãe para morarem com ela, contrataria dois empregados, e colocaria a empresa para funcionar.


Embora achasse que o amor é a verdadeira experiência da liberdade, e que ninguém pode possuir outra pessoa, ainda alimentava seus secretos desejos de vingança, e deles fazia parte seu retorno triunfal ao Brasil. Depois de montar sua fazenda, iria até a cidade, passaria em frente ao banco onde trabalhava o menino que havia saído com sua melhor amiga, e faria um grande depósito em dinheiro.


"Olá, como vai, você não me reconhece?", ele perguntaria. Ela fingiria um grande esforço de memória e terminaria dizendo que não, que passara um ano inteiro na EU-RO- PA (pronunciar bem devagar, para que todos os seus colegas escutem). Melhor dizendo, na SU-Í-ÇA (ia soar mais exótico e mais aventureiro do que França), onde existem os melhores bancos do mundo.


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