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Não tinha conseguido impressioná-lo. Aliás, não tinha a menor intenção de impressioná- lo, estava fora do seu horário de trabalho, guardaria a sedução para mais tarde, com homens que pagavam bem pelo seu esforço. Por que tentar relacionar-se com aquele pintor, que talvez não tivesse dinheiro nem para convidá-la para um café? Um homem de trinta anos não deve usar cabelos longos, fica ridículo. Por que achava que não tinha dinheiro? A moça do bar dissera que era uma pessoa conhecida - ou será que o químico é que era famoso? Olhou a maneira como estava vestido, mas não adiantava muito; a vida tinha lhe ensinado que homens vestidos displicentemente - que era o caso - pareciam sempre ter mais dinheiro do que os que usavam terno e gravata. "O que faço pensando neste homem? O que me interessa é o quadro." Dez minutos não eram um preço muito grande a pagar pela chance de tornar-se imortal em uma pintura. Viu que ele a estava pintando ao lado do tal químico premiado, e começou a se perguntar se iria pedir algum tipo de pagamento no final.

- Vire o rosto em direção à janela.


Mais uma vez ela obedeceu, sem perguntar nada - o que não era absolutamente do seu feitio. Ficou olhando as pessoas que passavam, a placa sobre o tal caminho, imaginando que aquela rua já estava ali havia muitos séculos, uma rota que sobrevivera ao progresso, às mudanças do mundo, às próprias mudanças do homem. Talvez fosse um bom presságio, aquele quadro podia ter o mesmo destino, estar em um museu dali a quinhentos anos. O homem começou a desenhar e, à medida que o trabalho progredia, ela perdeu a alegria inicial e começou a sentir-se insignificante. Quando entrara naquele bar, era uma mulher segura de si mesma, capaz de tomar uma decisão muito difícil - abandonar um trabalho que lhe dá dinheiro -para aceitar um desafio mais difícil ainda - dirigir uma fazenda na sua terra. Agora, parecia ter voltado a sensação de insegurança diante do mundo, coisa que uma prostituta jamais pode se dar ao luxo de sentir. Terminou descobrindo a razão de seu desconforto: pela primeira vez em muitos meses, alguém não a olhava como um objeto, nem como uma mulher - mas como algo que não conseguia entender, embora a definição mais próxima fosse "ele está vendo a minha alma, meus medos, minha fragilidade, minha incapacidade de lutar com um mundo que eu finjo dominar, mas do qual não sei nada". Ridículo, continuava delirando.


- Eu gostaria que...


- Por favor, não fale - disse o homem. - Estou vendo sua luz. Nunca ninguém lhe dissera isso. "Estou vendo seus seios duros", "estou vendo suas coxas bem torneadas", "estou vendo esta beleza exótica dos trópicos", ou, no máximo, "estou vendo que você quer sair desta vida, por que não me dá uma chance e monto um apartamento para você". Estes eram os comentários que estava acostumada a escutar, mas... sua luz? Será que ele estava se referindo ao entardecer? - Sua luz pessoal - ele completou, se dando conta de que ela não entendera nada.

Luz pessoal. Bem, ninguém podia estar mais longe da realidade do que aquele inocente pintor, que mesmo com seus possíveis trinta anos não tinha aprendido nada da vida. Como todos sabem, as mulheres amadurecem muito mais rápido que os homens, e Maria - embora não passasse noites em claro pensando em seus conflitos filosóficos - pelo menos uma coisa sabia: não possuía aquilo que o pintor chamava de "luz" e que ela interpretava como "um brilho especial". Era uma pessoa como todas as outras, sofria sua solidão em silêncio, tentava justificar tudo que fazia, fingia ser forte quando estava muito fraca, fingia ser fraca quando se sentia forte, renunciara a qualquer paixão em nome de um trabalho perigoso, mas agora já perto do final, tinha planos para o futuro e arrependimentos no passado - e uma pessoa assim não tem nada de "brilho especial". Aquilo devia ser apenas uma maneira de mantê- la calada e satisfeita para ficar ali, imóvel, fazendo papel de boba. "Luz pessoal. Podia ter escolhido outra coisa, como `o seu perfil é lindo'." Como entra luz em uma casa? Se as janelas estiverem abertas. Como entra luz em uma pessoa? Se a porta do amor estiver aberta. E, definitivamente, a sua não estava. Devia ser um péssimo pintor, não entendia nada. - Acabei - disse ele, e começou a juntar seu material. Maria não se mexeu. Tinha vontade de pedir para ver o quadro, mas ao mesmo tempo isso podia significar uma falta de educação, não confiar no que o outro tinha feito. A curiosidade, porém, falou mais alto. Ela pediu, ele concordou.

Desenhara apenas seu rosto; parecia-se com ela, mas se algum dia tivesse visto aquele


quadro sem conhecer a modelo, diria que era alguém muito mais forte, cheia de uma "luz" que ela não conseguia ver refletida no espelho. - Meu nome é Ralf Hart. Se quiser, posso pagar-lhe outro drink? - Não, obrigada.


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