gênero modesto, mas ela sabia como conseguir qualquer coisa de um homem, e ele terminou conta ndo que tinha sido casado duas vezes (recorde para vinte e nove anos!), viajado muito, conhecido reis, atores famosos, festas inesquecíveis. Nascera em Genève, morara em Madri, Amsterdam, New York, e numa cidade no Sul da França, chamada Tarbes, que não estava em nenhum circuito turístico importante, mas que ele adorava por causa da proximidade das montanhas e do calor no coração de seus habitantes. Seu talento fora descoberto quando tinha vinte anos, quando um grande negociante de arte fora comer, por acaso, em um restaurante japonês em sua cidade natal - decorado com seus trabalhos. Ganhara muito dinheiro, era jovem e saudável, podia fazer qualquer coisa, ir para qualquer lugar, encontrar-se com quem desejasse, já vivera todos os prazeres que um homem pode viver, fazia o que gostava, e, no entanto, apesar de tudo aquilo, fama, dinheiro, mulheres, viagens, era um homem infeliz, que tinha apenas uma alegria na vida: o trabalho. - As mulheres o fizeram sofrer? - perguntou ela, logo se dando conta de que era uma pergunta idiota, provavelmente escrita em um manual sobre "Todas as coisas que as mulheres devem saber para conquistar um homem". - Nunca me fizeram sofrer. Fui muito feliz em cada um de meus casamentos. Fui traído e traí como qualquer casal normal. Entretanto, depois de passado algum tempo, não me interessava mais o sexo. Continuava amando, sentindo falta da companhia, mas o sexo... por que estamos falando de sexo? - Porque, como você mesmo disse, eu sou uma prostituta. - Minha vida não tem grande interesse. Um artista que conseguiu fazer sucesso ainda jovem, o que é raro, e em pintura, o que é raríssimo. Que hoje em dia pode pintar qualquer tipo de quadro, e valera .im bom dinheiro, embora os críticos fiquem furiosos, achando que só eles sabem o que é "arte". Uma pessoa que todos acham ter resposta para tudo, e quanto mais calado fico, mais inteligente me consideram. Ele continuou a contar sua vida: todas as semanas era convidado para alguma coisa, em algum lugar do mundo. Tinha uma agente que vivia em Ba rcelona - sabia onde era? Sim, Maria sabia, era na Espanha. A tal agente se ocupava de tudo que se referia a dinheiro, convites, exposições, mas jamais o pressionava para fazer o que não tivesse vontade, já que, depois de muitos anos de trabalho, tinham conseguido uma certa estabilidade no mercado. - É uma história interessante? - sua voz denotava um pouco de insegurança. - Eu diria que é uma história muito diferente. Muita gente gostaria de estar na sua pele. Ralf quis saber de Maria.
- Eu sou três, dependendo da pessoa que me procura. A Menina Ingênua, que fica olhando o homem com admiração, e finge estar impressionada por suas histórias de poder e de glória. A Mulher Fatal, que logo ataca aqueles que se sentem mais inseguros, e ao agir assim, tomando o co ntrole da situação, os deixa mais à vontade, porque eles não precisam se preocupar com mais nada.
"E, finalmente, a Mãe Compreensiva, que cuida dos que estão precisando de conselhos e escuta, com um ar de quem compreende tudo, histórias que estão entrando por um ouvido e saindo pelo outro. Qual das três você quer conhecer?" - Você.
Maria contou tudo, porque precisava contar - era a primeira vez que fazia isso, desde que saíra do Brasil. Ao final, descobriu que, mesmo com seu emprego não muito convencional, nada acontecera de muito emocionante além da semana no Rio, e do primeiro mês na Suíça. Era casa, trabalho, casa, trabalho e nada mais.
Quando terminou, estavam de novo sentados em um bar desta vez do outro lado da
cidade, longe do Caminho de Santiago, cada qual pensando no que o destino havia reservado para o outro.
- Está faltando alguma coisa? - perguntou ela. - Como dizer "até logo".
Sim. Porque não tinha sido uma tarde como todas as outras. Ela sentia-se angustiada, tensa, por ter aberto uma porta e nã o saber como fechá- la. - Quando poderei ver a tela?