simplesmente continuar vivendo o que estava em seu caminho. Tinha muita coisa em comum com as outras prostitutas, e com as outras mulheres que conhecera em sua vida: casar e ter uma vida segura era o maior de todos os sonhos. As que não pensavam nisso ou tinham marido (quase a terça parte de suas companheiras era casada), ou vinham de uma experiência recente de divórcio. Por causa disso, para entender a si mesma ela tentou -com todo o cuidado -entender por que suas companheiras tinham escolhido aquela profissão. Não ouviu nenhuma novidade, e fez uma lista das respostas: a) diziam que precisavam ajudar o marido em casa (e os ciúmes? E se aparecesse um amigo do marido? Mas não teve coragem de ir tão longe); b) comprar uma casa para a mãe (desculpa igual a sua, que parecia nobre, mas era a mais comum);
c) juntar dinheiro para a passagem de volta (colombianas, tailandesas, peruanas e brasileiras adoravam este motivo, embora já tivessem ganho muitas vezes o dinheiro, e logo se desfeito dele, com medo de realizar o sonho); d) prazer (não combinava muito com o ambiente, soava falso); e) não tinham conseguido fazer mais nada (também não era uma boa razão, a Suíça estava cheia de empregos de faxineira, motorista, cozinheira). Enfim, não descobriu nenhum bom motivo, e parou de tentar explicar o universo ao seu redor.
Viu que o proprietário, Milan, tinha razão: nunca mais tinham lhe oferecido mil francos suíços para passar algumas horas com ela. Por outro lado, ninguém reclamava quando pedia trezentos e cinqüenta francos, como se já soubessem, e perguntas sem apenas para humilhar - ou para não terem surpresas desagradáveis. Uma das meninas comentou:
- A prostituição é um negócio diferente dos outros: quem começa ganha mais, quem tem experiência ganha menos. Finja sempre que é uma iniciante. Ainda não sabia o que eram os "clientes especiais", assunto apenas mencionado na primeira noite - ninguém tocava neste assunto. Aos poucos foi aprendendo alguns dos truques mais importantes da profissão, como nunca perguntar pela vida pessoal, sorrir e falar o mínimo possível, não marcar jamais encontros fora da boate. O conselho mais importante veio de uma filipina chamada Nyah: - Você deve gemer na hora do orgasmo. Isso faz com que o cliente permaneça fiel a você. - Mas por quê? Eles estão pagando para se satisfazer. - Você está enganada. Um homem não prova que é macho quando tem uma ereção. Ele é macho se é capaz de dar prazer a uma mulher. Se for capaz de dar prazer a uma prostituta então ele vai se julgar o melhor de todos. Assim se passaram seis meses: Maria aprendeu todas as lições de que precisava - como, por exemplo, o funcionamento do Copacabana. Sendo um dos lugares mais caros da Rue de Berne, a clientela era composta em sua maioria de executivos, que tinham permissão de chegar tarde em casa, já que estavam "janta ndo fora com clientes", mas o limite para estes "jantares" não devia ultrapassar as 23:00h. A maioria das prostitutas tinha entre dezoito e vinte e dois anos, e ficavam em média dois anos na casa, logo sendo substituídas por outras recém-chegadas. Iam então para o Néon, logo para o Xenium e, à medida que a idade da mulher aumentava, o preço descia, e as horas de trabalho se evaporavam. Terminavam quase todas no Tropical Extasy, que aceitava mulheres com mais de trinta anos. Uma vez ali, no entanto, a única saída era sustentar-se arranjando o
suficiente para o almoço e o aluguel com um ou dois estudantes por dia (média de preço
por programa: o suficiente para comprar uma garrafa de vinho barato). Foi para a cama com muitos homens. Jamais se importava com a id ade, ou com as roupas que usavam, mas o seu "sim" ou "não" dependia do cheiro que exalavam. Nada tinha contra o cigarro, mas detestava os homens que usavam perfumes baratos, os que não tomavam banho e os que tinham as roupas impregnadas de bebida. O Copacabana era um lugar tranqüilo, e a Suíça talvez fosse o melhor país do mundo para se trabalhar como prostituta - desde que tivesse permissão de residência e trabalho, papéis em dia, e pagasse o seguro social religiosamente; Milan vivia repetindo que não desejava que seus filhos o vissem nas páginas de jornais sensacionalistas, e conseguia ser mais rígido que um policial quando se tratava de verificar a situação de suas contratadas. Enfim, uma vez vencida a barreira da primeira ou da segunda noite, era uma profissão como qualquer outra, onde se trabalhava duro, lutava-se contra a concorrência, esforçava-se para manter um padrão de qualidade, cumpriam-se horários, estressava-se um pouco, reclamava-se do movimento e descansava-se aos domingos. A maior parte das prostitutas tinha algum tipo de fé e freqüentava seus cultos, suas missas, fazia suas preces, e tinha seus encontros com Deus.